Política

Tarcísio confirma convite à mãe de neta de Bolsonaro, mas nega favor

Jane de Araújo / Agência Senado
Governador de São Paulo ofereceu vaga de embaixadora de um programa de investimentos  |   Bnews - Divulgação Jane de Araújo / Agência Senado

Publicado em 02/08/2023, às 06h45   Igor Gielow


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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), confirmou ter oferecido um cargo nos Estados Unidos para Martha Seillier, a mãe da quarta neta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele negou tratar-se de um favor ao aliado.

O ex-presidente defende a indicação, mas após a Folha de S.Paulo revelar a oferta, ele procurou a reportagem para negar ingerência. Tarcísio, em entrevista coletiva, foi na mesma linha.

"Eu conheço ela há muitos anos. Tive a ideia de oferecer a ela a vaga de embaixatriz [embaixadora seria o termo correto] do nosso programa de investimentos", afirmou Tarcísio. Lembrou que ambos trabalharam nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro.

Ele disse que "Bolsonaro nunca me pediu nada", o que não condiz com o relato de aliados do presidente e de pessoas a par das duas semanas de negociação. Sugerindo que isso seria "uma visão preconceituosa" e que ela "não estava pedindo favor", o governador disse que não sabe se ela irá aceitar a posição.

No caso, a chefia do escritório da agência de fomento de negócios InvestSP nos EUA, objeto de conversas desde que a economista voltou de Washington. No governo, contudo, as tratativas são consideradas como um pedido de Bolsonaro justamente pelas razões pessoais envolvidas.

Seillier trabalhava numa diretoria do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) reservada ao Brasil e ao Suriname, desde maio do ano passado. Ela havia sido indicada pelo seu chefe na ocasião, Paulo Guedes, a quem serviu por três anos como secretária especial do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) no então Ministério da Economia de Bolsonaro.

Em fevereiro deste ano, o site Metrópoles revelou que ela estava grávida de Carlos Bolsonaro, filho vereador carioca pelo Republicanos do ex-presidente. A menina Júlia nasceu em meados daquele mês. Seillier foi procurada para comentar a indicação, mas não respondeu.

A indicação pode não ir para frente devido a dois motivos. Primeiro, Seillier quer mudar o escritório da InvestSP nos EUA de Washington para o reduto bolsonarista de Miami. Segundo, está insatisfeita com o salário atual, de R$ 43 mil contando gratificações.

FAMÍLIA TEME POR SEGURANÇA

Segundo pessoas próximas da família Bolsonaro, um dos temores é a segurança da neta do ex-presidente. Bolsonaro tem forte ligação com a Flórida, estado onde exilou-se ao deixar o posto antes do fim do mandato e permaneceu até março deste ano.

O caso de Seillier tem precedentes. Quando estava no poder, Bolsonaro enviou para Miami o general da reserva Mauro Cid, de sua turma na Academia Militar das Agulhas Negras e pai do seu então ajudante de ordens homônimo, que está preso sob acusação de fraudar dados de exames de Covid para que o então presidente pudesse viajar ao EUA.

O militar liderou o escritório da Apex, agência de promoção de investimento análoga em nível federal à InvestSP. Em junho do ano passado, como a Folha de S.Paulo havia revelado, foi a vez de a mesma unidade abrigar o médico de Bolsonaro no Planalto, Ricardo Camarinha, para estranhamento geral do corpo técnico.

Seillier era próxima do Bolsonaro, tendo postado no 7 de Setembro de 2021 um vídeo sobre manifestação de cunho golpista, comentando "Supremo é o povo", em crítica à cúpula do Judiciário. Antes de assumir o PPI, esteve envolvida na polêmica de um voo exclusivo da FAB à Índia, no qual ela era uma das três pessoas a bordo --considerado "inadmissível" pelo então presidente, o episódio derrubou o então número 2 da Casa Civil.

Ao mesmo tempo, ela era vista como um quadro técnico, sendo a primeira mulher à frente da Infraero, por um breve período em 2019, e tendo o trabalho à frente do PPI elogiado na iniciativa privada.

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