Religião

Terreiros ficam de fora do protocolo de reabertura de templos religiosos em Salvador, diz associação

Divulgação/Terreiro Casa de Oxumaré
Segundo presidente de associação, a prefeitura chegou a solicitar sugestões, entretanto, nenhuma delas foi inserida no plano de retomada  |   Bnews - Divulgação Divulgação/Terreiro Casa de Oxumaré

Publicado em 29/07/2020, às 15h06   Diego Vieira


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Fechados desde março por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), os terreiros de candomblé de Salvador ainda não têm previsão de retomar as atividades, mesmo com a autorização da prefeitura. O motivo seria a orientação dos orixás e o protocolo de reabertura de templos religiosos divulgado pela gestão municipal, que segundo lideranças religiosas, não contempla os terreiros.

O presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, afirma que cada líder religioso tem a opção de abrir ou não o terreiro, no entanto, a maioria dos 1.738 cadastrados pela entidade na capital baiana ainda permanece fechada, seguindo a orientação da AFA.

De acordo com Leonel Monteiro, os terreiros ficaram de fora do protocolo de reabertura da prefeitura, e por isso, seria perigoso retomar as atividades já que os pais e mães de santo, em sua maioria, têm idades avançadas e fazem parte do grupo de risco. Segundo ele, a Secretaria Municipal da Reparação chegou a solicitar sugestões para retomada, entretanto, nenhuma delas foi inserida no plano. 

“Antes da publicação do protocolo, a prefeitura solicitou que enviássemos sugestões e orientações para a publicação do protocolo e enviamos levando em conta as especificidades dos terreiros e para a nossa surpresa, quando o decreto foi publicado, só contemplou as igrejas”.

Leonal diz que os cultos realizados nos terreiros são diferentes das atividades feitas em uma igreja cristã. “Nossa de culto é diferente. Não existe uma pessoa no púlpito como nas igrejas. Não existem cadeiras que possibilitem o distanciamento social”, explica o presidente da AFA que teme por punições de órgãos fiscalizadores. 

“Isso nos preocupa muito. Os órgãos fiscalizadores estão agindo conforme o decreto. Eles podem chegar num terreiro, pautados por um decreto que não nos contemplam, e podem nos punir com o fechamento do terreiro”, ressalta. 

Divido em quatro fases, o plano de retomada das atividades dos terreiros elaborado pela AFA e encaminhado à prefeitura frisa a importância de um protocolo próprio devido as diferenças de outros espaços religiosos.

"As formas de cultos praticados por comunidades afro-indígena religiosas em muito diferem de outros seguimentos, pois é importante a presença de nossos mais velhos e o contato físico, sobretudo de um corpo incorporado, com o de outra pessoa, é fundamental  e em muitos momentos inevitável", diz um trecho do documento. 

A AFA também alega que "a maioria maciça dos terreiros possui área de atividade religiosa (barracão) muito reduzida, tornando-se quase impossível manter o distanciamento social. As pessoas acomodam-se em pé ou em poucas cadeiras ou bancos coletivos". 

A instituição ressalta ainda que o repartimento de alimentos que integra as atividades religiosas normalmente atrai um grande número de pessoas. 

Levando em consideração a situação financeira de alguns terreiros, a entidade solicitou à gestão municipal alguns produtos para a implantação de protocolos de higienização como álcool em gel 70%, máscaras, solução antibactericida, sabonete líquido, papel toalha descartável e implantação de pias em terreiros com área física reduzida.

A reportagem entrou em contato com a prefeitura, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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