Salvador

"Há um ano renasci", destaca homem trans após oficialização do nome social

Arquivo pessoal
Adriano afirmou que não sentia pertencimento nas vestimentas, brincadeiras e nos trejeitos de menina  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 08/10/2019, às 22h02   Aline Reis


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Adriano Ribeiro, 49 anos, é natural de Jacobina, e, embora tenha nascido no interior, foi em Salvador, há um ano, que ele renasceu e pôde se reconhecer dentro da sociedade. 

Antes conhecido como Aurea Adriana, seu nome de batismo, no último ano ele conseguiu alterar o nome de acordo, em um cartório de Salvador, com o gênero do qual sempre se identificou. Mas, para conseguir esse direito, Adriano trilhou quatro décadas de dúvidas, sem saber como se identificar para o mundo. 

Na infância, dividia o quarto com o irmão e a angústia de olhar a diferença entre o desenvolvimento do corpo era diária. Não sentia pertencimento as vestimentas, as brincadeiras e aos trejeitos de menina. “Nunca gostei de nada do universo feminino, fui crescendo e cheguei a me envolver com homens cisgêneros (pessoas que se identificam com o gênero de nascimento). Mas nunca satisfeito, não existia essa pluralidade de se afirmar quanto ao que se identifica hoje”, lamentou Adriano. 

Adriano confessa que o Supremo Tribunal Federal (STF) têm sido o principal propulsor para que o universo transgênero tome maior proporções nos espaços de discussão. “O nome social foi uma grande vitória. Me considero um ponto fora da curva. Consegui com celeridade esse processo. Outras pessoas já tentam há um tempo, mas não conseguiram ainda. É importante que o judiciário oriente e facilite aos que anseiam esse direito”. 

Embora reconheça que a alteração legal do prenome é um avanço, Adriano garante que é só mais um detalhe. Há pouco mais de dois anos, iniciou a transição hormonal, conhecido como ‘hormonioterapia’. Para isso, fez terapia por seis meses em uma faculdade particular da capital baiana para poder pegar um laudo que atestasse a responsabilidade da mudança; exigência do Ministério da Saúde.  Após isso, foi encaminhado para um endocrinologista para começar o tratamento hormonal. 

Atualmente, faz o acompanhamento no Hospital das Clínicas. Salvador conta com dois ambulatórios para esse serviço, um no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), gerido pelo Governo do Estado e o outro no Hospital Universitário Prof. Edgard Santos, gestão do Governo Federal. 

Funcionário administrativo da Secretaria Estadual da Saúde, Adriano revela que está trabalhando para efetivar em breve mais um ambulatório no Centro de Referência Estadual para Assistência ao Diabetes e Endocrinologia. 

Apesar de reconhecer as aberturas de espaços, critica a ausência de profissionais capacitados para atuar nos ambulatórios. “O Brasil, no geral, está muito atrasado. A Tailândia, do outro lado do mundo, é o melhor país para fazer a cirurgia de redesignação sexual. Aqui no país até tem, no entanto, chega a R$ 100 mil. As pessoas precisam entender que faltam oportunidades para trans no mercado de trabalho, não tem dinheiro, o ideal seria no SUS um atendimento mais especializado no serviço”, pontuou Adriano. 

Ele afirma que prefere esperar um pouco para fazer a cirurgia. “É um procedimento arriscado, não se ouve falar muito nisso ainda, não me sinto seguro para realizar a cirurgia, embora fosse um sonho para concretizar minha identidade. Ano que vem devo realizar a mastectomia (remoção de mamas)”.

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