Salvador

Cenas de fé e gritos tímidos de protesto: o 2 de Julho sem o desfile dos caboclos

Dinaldo Silva/Bnews
O tradicional desfile, realizado há 197 anos, não foi feito  |   Bnews - Divulgação Dinaldo Silva/Bnews

Publicado em 02/07/2020, às 12h31   Nilson Marinho


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Não houve razão para o Caboclo e a Cabocla, símbolos da Independência da Bahia, estarem nas ruas de Salvador nesta quinta-feira (2). Com o coronavírus ainda se espalhando por todo o Brasil, e a cidade com cerca de 80% dos seus leitos de UTI ocupados, autoridades acharam por bem realizar apenas um ato simbólico no Largo da Lapinha, na Lapinha, de onde as imagens saem todos os anos até o Campo Grande.

Mesmo o evento sendo muito modesto e restrito apenas a políticos e imprensa local, cenas de fé e gritos de protesto, que sempre dão o tom da festa, mesmo que tímidos, puderam ser vistos e ouvidos em meio às poucas pessoas que resolveram ir ao largo.

Aqueles mais apegados às imagens tentavam chegar o mais próximo possível do barracão, mas tinham como empecilho o gradil que separava o povo das autoridades, entre eles o prefeito ACM Neto (DEM) e o governador Rui Costa (PT), adversários políticos que estão à sombra da bananeira desde que a pandemia chegou ao estado. 

A dona de casa Nanci Santana, de 60 anos, bem que tentou se aproximar. Chegou cedo na companhia do filho. Foi fazer uma prece de intercessão por uma das irmãs acometida pela Covid-19. A família é devota da Cabocla há gerações. 

"Minha irmã pegou o vírus logo no início da pandemia de uma filha que não sabia que estava infectada. Ela [irmã] nasceu neste dia, por isso, estou aqui. Por ela, pela nossa fé, já que todos nós somos devotos. A devoção veio da nossa mãe. Estou aqui desde cedo para rezar por minha irmã. Fui uma das primeiras a chegar", contou a dona de casa.

Protesto

Enquanto os engravatados depositavam flores ao redor do busto do General Labatut, defensor da autonomia da Bahia, comerciantes que são donos de lotéricas pediam a reabertura do comércio, sob justificativa de não suportarem as portas cerradas. Em vão.

Os discursos do prefeito e do governador durante o evento colocaram a vida em primeiro lugar. Economia depende, sobretudo, do vírus que, neste momento, de acordo com eles, é pauta sensível.

Devotos

O administrador e artista plástico Adilson Guedes, de 51 anos, carregava um estandarte com a imagem da Santa Dulce dos Pobres feito por ele mesmo no ano passado, durante o processo de canonização da então freira.

Adilson estava ali para pedir que o novo coronavírus deixasse de fazer novas vítimas. O pedido foi feito para a santa baiana e os caboclos.

"Esse momento pedimos a liberdade do vírus, não da Bahia, como já estamos acostumados. Ao invés de chorar no pé do Caboclo, vamos rezar junto a ele", comentou o administrador.

O cantor e compositor Djalma Santos, 48 anos, participa todos os anos do ato. Dessa vez, resolveu ir com uma cruz coberta com fitas do senhor do Bonfim. "Demostro a minha fé e ainda por cima trago o símbolo que a representa", disse. 

O ato terminou por volta das 10h, sem tumultos. As imagens da Cabocla e do Caboclo permaneceram em frente ao barracão. De acordo com a prefeitura, eventos em homenagem a data serão realizados durante toda a semana de forma online.

Nesta quinta, por exemplo, haverá apresentação de nove filarmônicas em uma live mediada por Felipe Dias e com participação do maestro Fred Dantas. O encontro será transmitido nas redes sociais da Fundação Gregório de Matos (FGM).

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