Salvador

“Não são responsabilidades de um órgão ou de outro”, diz presidente do Iphan após desastre na Igreja de São Francisco

Dandara Amorim/BNews
Presidente do Iphan, Leandro Grass, discute importância da conservação e ações do instituto após tragédia  |   Bnews - Divulgação Dandara Amorim/BNews

Publicado em 06/02/2025, às 10h06 - Atualizado às 11h23   Dandara Amorim e Maurício Viana



Após o desabamento da Igreja de São Francisco, nesta quarta-feira (5), que deixou uma pessoa morta e cinco feridas no Centro Histórico de Salvador, o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, falou a respeito do desastre e da atuação do instituto em meio à tragédia. 

“O Iphan tem uma atuação permanente no território, em parceria com as prefeituras do Brasil inteiro, incluindo a de Salvador. Recentemente, foi lançado um plano junto com a Defesa Civil, que é um plano de gestão de risco aqui do Centro Histórico”, conta.

Grass também afirma que o instituto tem duas iniciativas para pessoas vulneráveis que vivem no Centro Histórico, dentro do programa Conviver. Na Gamboa e na sétima etapa do Pelourinho, é feita assistência técnica gratuita para os moradores, com ações de capacitação para ajudar na conservação do bairro.

Ele diz que existem muitas demandas e que o país como um todo tem um grande patrimônio a ser gerenciado, mas que nem sempre é possível corresponder.

“Agora, é óbvio que, dada essa informação que você trouxe, são muitas demandas. A gente tem essa instância colegiada, os comitês gestores do patrimônio, os grupos de trabalho, as ações em conjunto. Agora, não só esse caso, mas tantos outros que a gente já vivenciou e outros que, infelizmente, ainda vão acontecer, preciso dizer isso, e não são responsabilidades de um órgão ou de outro. O Brasil tem um patrimônio vasto. Esse patrimônio é de herança colonial em boa parte, outro é moderno, outro é contemporâneo. E é preciso que haja, no nosso país, um grande pacto em torno disso. Obras de patrimônio, hoje, no país, são muito caras, o investimento público, ele tem tentado responder, mas as demandas não param”, afirma o gestor.

Ele também diz que não basta serem realizados trabalhos de restauração, mas também conservação dos locais, e cita os ônus e bônus de viver em uma região tombada.

“Além de restaurar, nós precisamos conservar, que é mais importante ainda. Muitas vezes, um proprietário ou outro que tem um imóvel tombado, é claro que para ele isso é um ônus, mas também é um bônus, porque ele está numa área prestigiada culturalmente e ele pode, a partir dali, desenvolver seu negócio, suas atividades. É importante morar no lugar reconhecido, mas também há contrapartidas”, diz.
Queda do teto da Igreja de São Francisco
Sosthenes Macedo/Codesal

Grass afirma que a preservação precisa ser feita por meio de um pacto em sociedade, juntando todos os setores no propósito de manter o patrimônio bem cuidado por meio de investimentos em conjunto com a comunidade.

“É preciso criar políticas, incentivos, algumas prefeituras têm adotado o IPTU Zero, outras têm adotado ações em conjunto com as comunidades, o Iphan tem desenvolvido esses programas que eu citei. Então, não é um órgão, é um pacto social coletivo que envolve poder público, sociedade civil e poder privado também. O setor privado do Brasil também precisa abraçar o patrimônio, investir mais, ter imóveis de particulares, de empresários que também estão caindo. Nós atuamos, muitas vezes nós notificamos, chegamos até a judicializar em alguns casos numa medida mais extrema”, frisa.

“Mas não é esse o caminho, o caminho é prevenção, educação, conservação permanente. Uma edificação pra ela cair é porque ela passou anos e anos sem conservação. Ela passou anos e anos sem o cuidado necessário. Quando a gente mantém as coisas em bom estado, dificilmente elas degradam de vez. Então, isso vale pra qualquer bem cultural no país”, afirma.

Queda do teto da Igreja de São Francisco
Sosthenes Macedo/Codesal

Ele também afirma que o Iphan tem se mostrado mais próximo das prefeituras e governos para trabalhar o diálogo e manter a construção coletiva de uma educação patrimonial.

“Nossa equipe aqui no Iphan é muito aguerrida, muito ousada, mas nós estamos também trabalhando pra ampliar essas equipes. Então é um processo, né? O Iphan passou aí anos recentes de muita destruição, de muita degradação institucional. Então, a gente também vem no processo de operação e se não for consequência, o patrimônio vem sendo recuperado”, informa.

“Todas as superintendências do Iphan no Brasil, incluindo a da Bahia, têm seus planos de fiscalização. Os servidores, os técnicos, especialmente arquitetos, engenheiros, eles visitam esses bens, identificam danos, por vez autuam e comunicam os seus proprietários para que tomem providências, indicam o que é preciso ser feito, como ser feito. Esse trabalho é permanente, dentro das nossas capacidades institucionais”, completa.

Queda do teto da Igreja de São Francisco
Sosthenes Macedo/Codesal

Por fim, Leandro Grass informa sobre as providências tomadas junto com a Defesa Civil e o contato realizado com o poder público dos estados.

“Todas têm demandas de tratamento da sua estrutura, dos seus bens móveis, dos seus bens integrados. Aquelas que têm um risco maior a gente comunica, pede providências. Por vezes, até a própria Defesa Civil atua e, quando é necessário o escoramento, a gente faz escoramento, tem ações emergenciais contratadas pelo Iphan já realizadas aqui. Então, é esse trabalho coletivo, essa articulação para que a gente consiga com a sociedade, com o poder público municipal, por vezes o poder público estadual, atender aquilo que é necessário”, encerra.

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