Salvador

Pelourinho não é mais aquele: Moradores e comerciantes denunciam caos no local; assista

Dinaldo Silva / BNews
Moradores e comerciantes do Pelourinho reclamam de problemas na segurança pública, iluminação e infraestrutura do bairro  |   Bnews - Divulgação Dinaldo Silva / BNews
Beatriz Araújo

por Beatriz Araújo

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Publicado em 22/12/2022, às 19h43 - Atualizado em 23/12/2022, às 15h38


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Localizado no Centro Histórico de Salvador, o Pelourinho é um dos locais mais visitados pelos turistas que chegam à capital baiana. Com uma importante identidade histórica e grande significado cultural, o Pelourinho não é mais aquele. Isso é o que dizem moradores e comerciantes da região, que afirmam que o local está passando por um momento de caos diante de problemas na segurança pública, iluminação e infraestrutura.

A reportagem do BNews esteve no Pelourinho, nesta quarta-feira (21), e ouviu diversas pessoas que andam preocupadas com a situação do bairro. “Antigamente a polícia saía atrás. Ficavam dois a três policiais em cada canto. Não tinha esse negócio de uma viatura ou outra só circulando. No tempo de Antônio Carlos Magalhães não era assim não. Depois que esse homem, esse prefeito entrou, eu não estou vendo ele fazendo nada”, relatou um aposentado, morador do bairro há 32 anos, mas que preferiu não se identificar para preservar sua segurança.

"A gente tem que ver e fechar a boca. Eu não vou correr atrás de ninguém, não sou polícia, tenho que ficar quieto. Se não sobre pra todo mundo”, emendou.

Outra denúncia do morador é a respeito da infraestrutura do Pelourinho. “Tem prédio acabado 'como que' aí. Por fora está todo bonitinho, por dentro, se você pisar, você cai. Onde você passar aí e tiver ferro, é prédio caindo”, conta o aposentado.

Comerciantes

O empresário Clarindo Silva, proprietário do restaurante Cantina da Lua e membro da Associação Comercial Pelourinho (Acopelô), relatou que os frequentes registros de furtos e roubos no Pelourinho já têm prejudicado o seu estabelecimento. “O Pelourinho está pedindo socorro principalmente na Segurança Pública. Isso, com certeza, afasta os turistas”, considerou.

“Nós que estamos lá temos medo. Antigamente gritavam: 'Pega ladrão', hoje em dia ninguém mais faz isso. A gente que está ali no dia a dia não quer se expor”, revelou Clarindo.

No entanto, para o empresário, o problema está associado principalmente à forma como a Justiça baiana tem conduzido os processos que envolvem os autores dessas ações criminosas. “A polícia faz o trabalho, prende, a Justiça vai e solta”, lamentou.

Uma trancista que costuma atender diversos turistas que visitam o Pelourinho também fez graves reclamações sobre a insegurança pública no bairro. " Todos os lugares aqui são perigosos. Os turistas já vêm para cá amedrontados. Já presenciei diversas situações. Furtos, eles [suspeitos] puxam a corrente das pessoas, derrubam os gringos, saem na mão com os gringos”, iniciou.

“A gente não pode fazer nada. Eu pego ônibus, moro longe, aí fica difícil para mim, eu estar no ponto, nego vir e dizer: 'Essa aí que entrega'. Aí fica uma situação difícil”, afirmou a trancista, que também preferiu não se identificar. “Eles [os suspeitos] andam em grupo, não é um só, a maioria criança e adolescente. Isso está horrível e já tem muito tempo. Antes não era assim não, mas agora piorou tudo”, acrescentou.

Em conversa com a reportagem, a mulher informou que não é possível localizar os suspeitos após as ações criminosas. “Depois que assaltam as pessoas, eles se enfiam nessas ruas aí por dentro e ninguém acha. Não dá em nada”, disse.

Outra queixa da trancista é com relação à iluminação do bairro, além de falta de estrutura para atender ambulantes e, até mesmo, turistas. “A iluminação daqui é péssima. Aqui também deveria ter um banheiro público, que não tem. Os ambulantes, os gringos que vêm, ficam mijando pelas paredes. É uma situação difícil. O Pelourinho está 'à mingua'. O Pelourinho já foi muito bom, mas hoje em dia...”, lamentou.

Turismo

A reportagem também ouviu um guia de turismo, que deu detalhes sobre a onda de insegurança que vem sendo registrada no Pelourinho nos últimos tempos, assim como já relatado em matérias recentes publicadas no BNews.

"Eu sou guia a 36 anos, sou morador daqui, e sobre a segurança, o que a gente fala, é que infelizmente, existem furtos, como uma corrente de ouro, um celular, mas o que ocorre é que a polícia prende e a Justiça solta. Eles [os suspeitos] são alguns moradores daqui mesmo que não procuram uma melhora, ou porque não acham, ou porque não querem”, elencou o homem, que preferiu não se identificar.

“A dica que a gente dá pro turista é sempre perguntar para onde está indo, de que maneira está indo, onde vai entrar, se não pegar um guia, evitar as vielas”, aconselhou.

Ainda sobre a questão dos furtos e assaltos no Pelourinho, o guia explica: “Tem momentos que saem juntos a Guarda Municipal e a Polícia Militar, no mesmo momento, para almoçar, entre meio dia e 14h, que é a hora em que mais ocorrem esses furtos”.

“O Pelourinho é gigante, às vezes o turista desce uma rua desconhecida, que não tem policiamento, sem a orientação de um guia. Gente, ninguém é obrigado a pegar um guia, mas peça orientação, porque ele não vai guiar você, mas pelo menos ele vai te orientar sobre como deve proceder, evitar as vielas, dar preferência às vias principais”, informou o trabalhador.

“Devido ao grande fluxo de turistas, 'a abelha vai onde está o mel'. A gente está vivendo um momento complicado, mas a polícia pode evitar esses furtos, sim. Eu moro aqui e eu sei que se colocar sempre a polícia em cada parte, dá para evitar essa situação, sim”, concluiu o guia de turismo.

Uma turista de Jundiaí, em São Paulo, que está fazendo um tour pelo Nordeste e passa por Salvador, disse já ter sido alertada sobre o problema de segurança pública enfrentado no Pelourinho. "Fiquei sabendo primeiramente pelo guia. Ele deu uma alerta, orientou a gente. Até então presenciei nenhuma situação, mas com o guia me sinto mais segura”, contou a administradora Aline Ferreira.

Prefeitura se manifesta

O BNews entrou em contato com diretor de gestão do Centro Histórico de Salvador, Gegê Magalhães Pinto, que ao ser questionado sobre as denúncias obtidas pela reportagem, respondeu através da assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult).

Confira nota na íntegra:

“A Prefeitura de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), informa que constantemente são realizadas reuniões com forças de segurança pública que atendem à região. O órgão reforça ainda que diversas ações estão sendo implantadas para conter o problema de furtos e assaltos no local, a exemplo da disponibilização de efetivos da Guarda Civil Municipal e instalação das câmeras de monitoramento em pontos turísticos, principalmente com o recurso de reconhecimento facial, que funcionarão 24 horas.

Além disso, foram realizados investimentos em infraestrutura na região, a exemplo da implantação da iluminação em LED em todo o bairro, entrega de equipamentos culturais, reforma de casarões, requalificação de praças, recuperação das fontes, apoio e investimento na realização de eventos grandiosos, como o São João do Pelô, Bienal do Livro e Salvador Capital Afro. Na área de ordenamento do comércio ambulante, foram promovidos cursos de capacitação para os trabalhadores que atuam na região do Pelourinho e também para pessoas ligadas ao ramo turístico, dentro do projeto Sou Salvador. Todas as iniciativas são dialogadas com os comerciantes e trabalhadores da localidade”.

Classificação Indicativa: Livre

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