Racismo: Advogada relata ter sido expulsa de carro após motorista suspeitar de "emboscada"

Uma advogada negra diz ter sido obrigada a descer de um carro por aplicativo, na noite de segunda-feira (5), após a motorista suspeitar de que ela estava planejando uma “emboscada”. Rebeca Sousa começou a viagem no Aeroporto Internacional de Salvador com destino à sua residência, em São Caetano. Ela afirma que foi colocada para fora do veículo, por volta das 22h, na Avenida San Martin, após a condutora parar uma viatura policial.

Rebeca conta que havia ido ao Aeroporto deixar a mãe, que embarcou na noite de segunda em uma viagem internacional. Na volta, a genitora solicitou uma corrida para filha até à casa da família. No caminho, a advogada diz que ficou distraída ao telefone. O fato da sua cor, além de sua distração com o aparelho eletrônico, bastaram para que ela fosse apontada como suspeita de um possível crime, acredita.

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“Ela parou uma viatura quando eu estava próximo da minha casa afirmando que estava em perigo. Eu estava no banco de trás mexendo no celular e não entendi. A motorista disse que eu estava armando uma emboscada. Eu moro em um bairro periférico, mas isso não significa que eu sou bandida ou algo do gênero. A única que eu tenho e que para essa pessoa oferece perigo é a minha cor”, desabafou Rebeca.

Advogada negra de Salvador diz ter sofrido racismo durante uma viagem em uma plataforma de transporte. Ela afirma que foi obrigada a deixar o carro após a motorista suspeitar de uma "emboscada". pic.twitter.com/D3StZv9aeX

— BNews (@bnews_oficial) December 6, 2022

A advogada diz ainda que apresentou a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde constava o nome da sua mãe, a solicitante da corrida. Os agentes a levaram para casa, já que a motorista insistiu em não completar a viagem.

“Os agentes ficaram comigo até chegar outra guarnição e me trouxeram para casa, não tinha ninguém na rua além da viatura, eu fiquei totalmente vulnerável”, completou.

O caso foi registrado na 11º Delegacia de Polícia e a advogada afirma que o episódio também foi levado ao Ministério Público. O BNews entrou em contato com a plataforma na qual a motorista presta serviços, mas a equipe da empresa não respondeu a solicitação da reportagem até a publicação desta matéria.

Racismo

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva divulgada em março deste ano mostrou que 72% das pessoas dizem já ter presenciado situação de racismo em seu transporte do dia a dia. Outros 39% foram vítimas do crime, ou seja, uma em cada três pessoas negras já sofreu preconceito em seus deslocamentos, assimo como afirma ter passado a advogada.

Entre trabalhadores negros que atuam no setor, esse número é ainda maior: 65% dos entrevistados já enfrentaram alguma situação de racismo durante o expediente. O estudo ouviu 1.200 pessoas e mais de mil profissionais do setor de transporte.

Quando questionados sobre situações de preconceito vividas, a população negra relatou ter sido menosprezada (24%), abordada de maneira desrespeitosa (17%), sofrido agressões verbais e ter sido alvo de expressões racistas (14%).