Salvador

“Velho e o novo continuam a conviver na jovem senhora Salvador”, resume historiador ao falar da primeira capital do Brasil

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Conheça particularidades da história da primeira capital do Brasil que faz aniversário nesta quarta-feira (29)  |   Bnews - Divulgação Divulgação/PMS

Publicado em 29/03/2023, às 05h50   Camila Vieira


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Em 29 de março de 1549, Tomé de Souza chegava onde nasceria a cidade do Salvador. Passados 474 anos, a capital baiana é, hoje, a cidade mais populosa do Nordeste e a quarta com mais habitantes do país, com 2.610.987 milhões de pessoas, segundo estimativa do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Salvador é lar de muita história, que pode ser contada e observada nas tradições, arquitetura e na cultura. Na semana do aniversário, a atmosfera é de festa todos os dias da semana.

Em comemoração à data, a cidade conta com uma diversa programação cultural com o festival “Viva Salvador” que teve início desde o dia 18 de março. Para encerrar as atividades, no dia 2 de abril, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Luedji Luna se apresentarão juntos no palco, em um show inédito, em um dos principais cartões-postais da capital baiana: o Farol da Barra, tão antigo na sua história e ao mesmo tempo tão atual, considerado o “queridinho” de baianos e turistas.

O Forte da Barra, marco histórico de Salvador, vem antes da sua fundação oficial. Foi erguido em 1536 por Francisco Pereira Coutinho, o donatário da Capitania Hereditária da Baía de Todos os Santos. A construção, contudo, era diferente da atual — originalmente, ela foi construída de madeira e palha. O farol seria instalado mais adiante, em 1968. Para o historiador Murilo Mello, pós-Graduado com especialização em História e em Educação pela Universidade Católica de Salvador e Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), esse casamento entre a história e a atualidade torna Salvador tão especial. “Velho e o novo continuam a conviver na jovem senhora Salvador”, assinala o especialista.

Arquivo Pessoal
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Como nasce Salvador - Para contar um pouco sobre como tudo começou por aqui, o historiador passeia por 1549 e lembra como nasceu Salvador e porque se tornou a primeira capital do Brasil. Segundo ele, a designação da coroa portuguesa, que visava implementar o sistema de Governo Geral na colônia da América, tinha o objetivo de melhor organizar as capitanias hereditárias e fiscalizar os capitães donatários, pelo fato do capitão donatário da Capitania de Baía de Todos os Santos, ter sido assassinado e devorado pelos Tupinambás, na ilha de Itaparica.

Fonte: IBGE
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“Nossa capitania ficou sem um líder. Além disso, estava numa posição central, em relação ao Brasil, que era bem menor em extensão. O fato da capitania contar com a maior baía do Brasil, faz com que esse sítio seja escolhido para ser a primeira capital, erguendo-se aqui, a primeira cidade planejada das Américas, sob o comando do primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza e construída sob a batuta do Mestre Luís Dias”, explica, destacando que Salvador nascia em um ponto específico para a defesa contra possíveis invasores.  

No ano de 1534, segundo o historiador, a Baía de Todos os Santos, então capitania hereditária, foi doada à Pereira Coutinho pelo governo português. Assim, um povoado que incluía a Ponta do Padrão, atual Barra, começou a se formar, vindo a constituir a futura capital do País. Em 1624, Salvador foi invadida pelos holandeses e reconquistada no ano seguinte. Salvador foi capital e sede da administração colonial do País até 1763, quando a sede imperial foi transferida para a cidade do Rio de Janeiro.

Salvador e a influência na identidade cultural do país - Além do contexto histórico e geográfico, Salvador ao longo do tempo será um dos palcos fundamentais da construção da identidade brasileira, vivenciando inúmeros movimentos musicais e culturais ao longo dos séculos. “Tivemos aqui a raiz do Tropicalismo, um dos mais significativos movimentos da história do Brasil. Fizeram parte dele personagens singulares que ajudaram na construção identitária da própria cidade e do Brasil”, assinala o historiador.

Nomes importantes se fizeram aqui e influenciaram a história mundo afora, a exemplo de Gregório de Matos, Luiz Gama, Mãe Menininha do Gantois e Nelson Maleiro. “Esse último personagem que merece destaque na nossa história por suas performances únicas em cada carnaval. Foi de gênio da lâmpada a confecção de dragão cuspindo fogo”, relembra o estudioso da história.

Guerras, conflitos e rebeliões também acompanham a história da primeira capital do Brasil. Malês, Sabinada, Alfaiates e a Cemiterada. “Destaco essa última pela sua singularidade, ocorrida no ano de 1836. Marcou a insurreição de parte da população soteropolitana, contra o novo decreto que proibia o enterro nas tradicionais igrejas do centro da cidade. Armados de pau, os rebeldes invadem o novo cemitério, no longínquo Campo Santo e destroem o recém-inaugurado lugar”, rememora o professor de História. Murilo lembra ainda do 2 de Julho, e da mais atual Revolta do Buzu. “Essas e tantas outras manifestações contribuíram para forjar o nosso caráter atual”, reforça.

Como falar de Salvador e não pontuar a maior festa popular do mundo: o Carnaval?  Embora o carnaval tenha sido oficializado somente em 1884, há relatos de festejos desde o século XVI e XVII, inclusive durante a invasão holandesa, em 1624. Segundo o  relato do Padre Anchieta sobre o carnaval, os jesuítas foram as primeiras pessoas que trouxeram a cultura do carnaval para a Bahia. “O Carnaval de Salvador tão secular e que acompanhou sempre as transformações culturais de cada tempo, sempre se reinventou, apresentando novas performances populares a cada ano e artistas para todo o Brasil”, finaliza o historiador.

Classificação Indicativa: Livre

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