Saúde

Hospital Espanhol 'vive' 365 dias de agonia

Publicado em 09/09/2015, às 06h00   Leo Barsan (Twitter: @leobarsan)


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No apagar das luzes, o clima era de tensão nos corredores do imponente prédio azul, na Barra, em Salvador. Um ano depois - completando nesta quarta-feira (9) – a situação do Hospital Espanhol parece continuar às escuras para ex-funcionários, fornecedores e, principalmente, para a sociedade, que testemunhou o fechamento de 270 leitos em uma das principais unidades hospitalares da Bahia.

“Na época, todo mundo estava desesperado porque ninguém sabia como iria pagar as contas. Todos começaram a procurar outros meios de renda e sobrevivência. Mas não é só essa questão. A Saúde da Bahia perdeu um estabelecimento de referência e prejudicou a população”, recorda um dos ex-funcionários do Hospital Espanhol, Bruno Neres.

Após 365 dias com portas de consultórios e emergência fechadas, o destino do hospital pertencente à Real Sociedade Espanhola ainda é incerto. Uma audiência está marcada para o dia 27 deste mês na sede do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT-BA), que não respondeu às solicitações do Bocão News.

O advogado da entidade, Washington Pimentel, faz prognóstico positivo quanto à reabertura do Espanhol. No entanto, não há prazos para que as dependências do equipamento sejam reabertas. “A gente agenda bastante positiva. Provavelmente, o hospital será reaberto, mas não temos prazos. Uma auditoria analisa propostas para tentar salvaguardar os direitos de sócios, trabalhistas, de fornecedores, além da manutenção da operação hospitalar, que deve ser feita por uma nova gestão”, relata Pimentel. A empresa responsável pela auditoria é a Pricewaterhousecoopers, que, “por razões contratuais”, não comenta assuntos relacionados aos seus clientes.

A dívida do Hospital Espanhol ultrapassa R$ 100 milhões e os débitos referem-se a ações trabalhistas, pagamento de fornecedores, questões fiscais e empréstimos. “Ninguém sabe como essa conta vai fechar. Se uma nova gestão se interessar, vai comprar bolacha quebrada”, define o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindmed), Francisco Magalhães. Ao menos 700 médicos e 2,8 mil funcionários foram desligados da unidade hospitalar até o fechamento.

Segundo ele, há especulações de mercado que manifestam o interesse das empresas Amil e Copa D’Or na gestão hospitalar. “Só se falam nessas empresas. Elas têm se habilitado a assumir a compra por meio de leilão, que deve ocorrer no final de setembro”, completa Magalhães. As despesas com o equipamento fechado estão em torno de R$ 80 mil por mês, de acordo com o dirigente sindical.

A possibilidade de leilão, porém, é descartada pelo advogado da Real Sociedade Espanhola. “O que vai ocorrer é uma audiência de acordo global, que contemple todos os critérios estipulados pelos sócios da entidade”, afasta.

Ao Bocão News, a Amil informou, por e-mail, que não comenta rumores e especulações de mercado. O Hospital Copa D’Or, com sede no Rio de Janeiro, foi procurado para comentar o assunto, mas até o fechamento da reportagem não havia se posicionado.

Empréstimos

Desde o início da crise, a Real Sociedade Espanhola recorreu a empréstimos na tentativa de sanear os problemas administrativos. Um desses contratos foi firmado com a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), no valor de R$ 53 milhões. A reportagem fez diversas tentativas junto ao órgão estadual, a fim de obter informações sobre a operação de crédito, mas não obteve êxito.

O destino dos recursos é alvo de investigações do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Ministério Público estadual (MP-BA). O advogado do hospital, Washington Pimentel, não soube informar o valor total da dívida. “Não tenho como precisar quantitativos globais de débitos. A auditoria é quem vai apontar o valor e analisar como o dinheiro foi utilizado”, disse.

De acordo com promotor de Justiça Adriano Assis, parte do patrimônio da Real Sociedade foi bloqueada em ação de improbidade administrativa. “A medida foi adotada para possível ressarcimento. Há algumas diligências pendentes e pedimos informações à Desenbahia. Já ouvimos integrantes da entidade mantenedora do hospital e vamos começar a ouvir representantes da Desenbahia, apesar de sempre alegarem que essas operações financeiras são sigilosas”, ressalta o promotor. Outra operação de crédito solicitada à Caixa Econômica Federal, superior a R$ 30 milhões, não chegou a ser concretizada.

Garantias

Para que o empréstimo fosse liberado pela Desenbahia, a Real Sociedade Espanhola empenhou os imóveis como garantias. Por meio de decreto, o ex-governador Jaques Wagner declarou como de “utilidade pública, para fins de desapropriação”, em favor do Estado da Bahia. A decisão autorizou a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) e a Procuradoria Geral do Estado (PGE) a promover atos administrativos e judiciais, se necessário.

O secretário de Saúde Fábio Vilas-Boas disse, por meio da assessoria de comunicação, que se reúne periodicamente com diretores do Hospital Espanhol, a fim de que a unidade seja reaberta o mais breve possível. “Não é aventada a possibilidade de que o Estado estadualize o hospital ou mesmo queira que o imóvel seja leiloado pela Justiça”, afirma.

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