Saúde

Einstein e Butantan descobrem substância em veneno de aranha que elimina células de câncer; saiba detalhes

Divulgação // Robson Valverde // SEC-SC
Pesquisa conjunta identificou molécula que elimina células de câncer  |   Bnews - Divulgação Divulgação // Robson Valverde // SEC-SC
Rafael Albuquerque

por Rafael Albuquerque

[email protected]

Publicado em 22/02/2024, às 12h03


FacebookTwitterWhatsApp

A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e o Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, fizeram uma importante descoberta. As instituições identificaram uma molécula obtida por um processo inovador com potencial para tratar o câncer extraída do veneno da aranha caranguejeira Vitalius wacketi, que habita o litoral paulista.

Se inscreva no canal do BNews no Youtube!

A substância, sintetizada em laboratório no Butantan e purificada (ou seja, foram eliminados eventuais contaminantes, potencializando seu efeito) pelo Einstein, foi capaz de eliminar células de leucemia em testes in vitro. Resultado de uma trajetória de mais de 20 anos de estudos, a ferramenta que resultou na obtenção da molécula foi patenteada – processo conduzido pelas áreas de inovação de ambas as organizações. A pesquisa deve alçar novos estágios de desenvolvimento, com novos parceiros.

A síntese da substância em laboratório, uma união de duas moléculas já conhecidas, feita pelo grupo do pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior, do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan, permite obtê-la sem precisar extrair o veneno do animal, tornando o processo muito mais rápido. “Nós sintetizamos a molécula e observamos que a versão sintética mantém a atividade antitumoral detectada na toxina natural do veneno”, afirma o cientista.

Um dos grandes diferenciais do composto é que ele conseguiu matar as células tumorais por apoptose (morte programada), e não por necrose. Isso significa que a célula se autodestrói de forma controlada, sem causar uma reação inflamatória, diferente do mecanismo de grande parte dos medicamentos quimioterápicos hoje disponíveis.

“A morte por necrose é uma morte não programada na qual a célula colapsa, levando a um estado inflamatório importante. Já na apoptose a célula tumoral sinaliza ao sistema imune que está morrendo, para que ele remova posteriormente os fragmentos celulares”, explica o pesquisador do Einstein Thomaz Rocha e Silva, responsável pelos testes de ação antitumoral.

Existem outras estratégias no mercado capazes de induzir apoptose em células de câncer, como os anticorpos monoclonais, por exemplo, mas são tecnologias que exigem grande investimento e demandam tempo para produzir. De acordo com Thomaz, a nova molécula é pequena e o processo de síntese é muito mais simples e mais barato, o que pode facilitar uma eventual ida ao mercado e acesso ao produto.

“Outra vantagem é que, devido ao baixo peso molecular, é muito menos provável que haja problema de imunogenicidade – quando uma substância estranha no organismo provoca uma reação do sistema imune”, completa Pedro.

O composto conseguiu eliminar, inclusive, células leucêmicas resistentes a quimioterápicos. O próximo passo é fazer testes em células de câncer de pulmão e de ossos. Além disso, a tecnologia será estudada em células humanas saudáveis para confirmar se não há toxicidade, isto é, se ela é seletiva e danifica somente as células cancerosas.

Devido ao potencial da invenção, as instituições patentearam o processo de produção da molécula. O objetivo é licenciar a tecnologia para uma empresa com capacidade de produzir em maior escala e desenvolver testes em animais – e, futuramente, em humanos, caso se prove segura e eficaz.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é a segunda maior causa de morte no mundo, sendo responsável por cerca de 9,6 milhões de óbitos anualmente. “Com uma população em envelhecimento, a tendência é que na próxima década o câncer se torne a principal causa de morte, superando as doenças cardiovasculares”, aponta Thomaz.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp