Saúde

Especialistas explicam como identificar Transtorno do Espectro Autista em crianças e adultos

Ilustrativa / Freepik
Neurologistas esclarecem sinais que ajudam a identificar Transtorno do Espectro Autista  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa / Freepik
Emilly Giffone

por Emilly Giffone

[email protected]

Publicado em 11/10/2023, às 11h02 - Atualizado às 11h07


FacebookTwitterWhatsApp

Com o passar do tempo, assuntos pouco abordados anteriormente passam a ganhar evidência. É o caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Recentemente, a atriz Letícia Sabatella surpreendeu fãs e amigos ao revelar que foi diagnosticada com TEA, aos 52 anos. Especialistas explicam como identificar os sinais do Espectro em crianças e adultos.

Em setembro deste ano, haviam pelo menos 154 projetos de lei na Câmara dos Deputados,  tramitando pelas comissões onde o autismo era o tema principal.

foto
Arquivo pessoal / Ivar Brandi

Sobre o diagnóstico em adultos

Ao Bnews, o neurologista Ivar Brandi esclareceu que os principais sinais de autismo estão relacionados a dificuldades de socialização e alterações do comportamento.

“As dificuldades de socialização podem ser desde dificuldades de iniciar vínculos sociais, compreender códigos de contato social, linguagem não verbal até ansiedade social e medo de contato social com estranhos. Os comportamentos tendem se ser repetitivos, estereotipadas e com interesses restritos”, explicou Brandi.

Ele ainda mencionou outros sintomas como “alterações do processamento sensorial (incômodo intenso diante de estímulos diversos como sons, texturas e estímulos visuais) e alterações de linguagem”. Ainda de acordo com Ivar, o diagnóstico do autismo não deve ser limitado a afirmar “se é ou não autista”, existem avaliações a serem feitas.

“Diante da confirmação diagnóstica, avaliar um grande número de condições que podem estar associadas (co morbidades) ou, diante do não diagnóstico, analisar outras possíveis explicações para as características da pessoa que procura assistência”, completou o especialista.

O neurologista também ressaltou a importância dos profissionais que auxiliam nesse processo do diagnóstico. “A avaliação psicológica é importante para qualificar o diagnóstico e para melhor compreender a integralidade da pessoa. Psicólogos, neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais, professores são fundamentais na condução de um tratamento de qualidade”, declarou Ivar.

Por fim, o especialista deixou uma mensagem importante para as pessoas que recebem o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista. “Quando definimos o diagnóstico é importante enfatizar que a pessoa autista tem vulnerabilidades, mas também habilidades próprias. O diagnóstico é apenas mais um fator na biografia da pessoa, mas não é necessariamente definidor da identidade da pessoa. A pessoa é muito mais do que o diagnóstico”, finalizou.

ft
Arquivo pessoal / Renata Episcopo

Sobre o diagnóstico em crianças

No caso do diagnóstico em crianças, a neuropedriatra Renata Episcopo afirma que é possível perceber os sinais de risco para o transtorno do espectro autista a partir do primeiro ano de vida. Segundo ela, alguns dos pontos a serem observados são a pouca fixação do olhar, pobre balbucio, ausência de resposta ao sorriso e outras expressões faciais.

Ela destaca que crianças com o espectro “atendem pouco quando chamadas pelo nome, não reagem bem a mudanças e transições de atividades, apresentam dificuldade em manter o contato visual, em se relacionar com outras crianças, atraso na fala, brincar repetitivo, movimentos balanceio com o corpo e as mãos, são pouco ou muito sensíveis a estímulos sonoros, luzes, cheiros, texturas e toque, além de possuírem preferência por rotinas e rituais”.

Questionada sobre quais são os primeiros passos após o diagnóstico, a neuropediatra esclareceu: “É fundamental que a criança seja encaminhada para acompanhamento terapêutico especializado multiprofissional e assim é estabelecido um plano terapêutico individualizado com o objetivo de minimizar os déficits e estimular as potencialidades da criança”.

Por fim, ela ressaltou que é importante os pais ou responsáveis entenderem sobre o que é o transtorno do espectro autista. “Se informem a partir de fontes confiáveis como livros, textos e cursos promovidos por especialistas, além da participação em associações. A parceria da família com a equipe terapêutica promove progressos imensuráveis no desenvolvimento da criança”, completou.

ft
Arquivo pessoal

Como os pais lidam

A mamãe Tayane Souza, 36, mais conhecida como Tayruts, contou ao Bnews como foi o processo de descoberta. Segundo ela, o pequeno Rudá teve um desenvolvimento normal enquanto bebê e inclusive falou algumas palavras até os 2 anos, mas a mudança começou a partir dessa idade.

“Comecei a perceber as diferenças que estavam ocorrendo. Ele parou de falar, parou de atender quando chamava, começou a bater a cabeça na parede, enfileirar objetos e brinquedos, nunca entendendo a função desses objetos ou brinquedos, passou a ter também seletividade alimentar”, relatou.

Um dos problemas enfrentados por ela foi a demora no diagnóstico necessário para conseguir os direitos do filho. Segundo Tayane, por ser muito novo, o pequeno precisava de exames e avaliações para ter a certeza de que se tratava de TEA. Em sua primeira avaliação, Rudá não recebeu o diagnóstico por falta de exames, que segundo a mãe não é fácil de ser realizado através do SUS.

“Aos 3 anos ele foi chamado para uma avaliação no CRE TEA, onde teve seu diagnóstico negado por uma profissional psiquiatra da instituição. Passado uns meses a direção mudou e novamente o Rudá foi chamado para uma avaliação, onde a Dra. Julieta na época, que é uma neuropediatra de referência na cidade, deu o diagnóstico e reforçou a necessidade urgente dele começar as intervenções terapêuticas, os direitos que ele tinha como BPC e passe livre”, esclareceu.

Ela destacou também o “descaso que enfrenta da própria sociedade”. “Não achamos acompanhamento no SUS, não podemos trabalhar para dar mais qualidade e dignidade pra nossos filhos, pois precisamos estar em situação de baixa renda para obter o BPC, e não podemos nem empreender com MEI ou CNPJ. Ficamos condicionados a sobrevivência com 1.300 reais pra tudo, alimentação, aluguel, lazer e até as terapias que muitas vezes pagamos por não achar no SUS”, completou.

Já o papai Helder Soares, 42, percebeu os sinais antes da filha Helena Kalliane Soares completar 2 anos, através das diferenças no comportamento e desenvolvimento. “Com um ano e três meses ela não falava e evitava o contato com as pessoas, não gostava que os avós abraçassem ou que outras pessoas chegassem perto”, relatou ele.

Através do contato com psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional que saiu o relatório e a neuropediatra fechou o diagnóstico que gerou espanto nos pais. “Foi assustador receber o diagnóstico porque tudo que sabíamos sobre o assunto era o que passava de forma superficial na TV. Mas procurei me informar sobre o autismo, comecei pelo Instagram e depois comecei a comparar livros sobre o autismo de como abordar sobre, como identificar”, afirmou Helder.

Para o papai, atualmente ele consegue entender a filha melhor por conta do conhecimento que buscou. “Já sabemos diferenciar quando é uma crise sensorial e como acolhê-la melhor, ou até quando tem aquelas coisas de criança, quando brinca faz birra, ela faz bagunça pela casa, as vezes deixa tudo espalhado porque quer. Precisamos entender que nem tudo é autismo e não reduzir a criança ao autismo” acrescentou.

Sobre sua experiência com o diagnóstico, ele ressaltou a intensidade do momento e comemorou a evolução da pequena. “A experiência é muito intensa, mas somos muitos unidos. Hoje Helena já se comunica pela fala mesmo que de modo bem limitado”, finalizou.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp