Saúde

Especialista em reconstrução de aréolas fala sobre resgate da autoestima de mulheres vítimas de câncer de mama

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Esteticista e paciente contam como procedimento muda a realidade da mulher com câncer de mama  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 23/10/2023, às 05h30 - Atualizado às 05h40   Cadastrado por Victória Valentina


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A descoberta de um câncer de mama é um momento desafiador e que traz muitos medos para as mulheres. Além de ter que cuidar da doença em si, muitas delas precisam lidar ainda com questões que envolvem a autoestima no meio do processo de tratamento, como a queda de cabelo ou necessidade de passar por uma mastectomia - retirada cirúrgica de toda a mama. No meio desse turbilhão de novidades na vida da paciente oncológica, alguns profissionais fazem a diferença na vida delas, como os que trabalham reconstruindo as aréolas.

A esteticista Vanessa Miniquelli é uma delas. Ao BNews, a profissional conta que trabalha com micropgmentação estética há 18 anos, fazendo procedimentos bastante conhecidos: preechimento de sobrancelhas, maquiagem, realce de lábios. Um tempo depois começou a demonstrar interesse por micropgmentação paramédica.

Essa técnica, que é menos conhecida, ajuda pessoas que possuem manchas e cicatrizes resultantes de doenças ou cirurgias. Segundo Vanessa, ela decidiu começar a trabalhar com isso após a madrinha e a avó paterna serem diagnosticadas com câncer de mama.

"A micropigmentação paramédica entrou na minha vida de uma forma muito devastadora, pois minha madrinha e a minha vó paterna tiveram a doença, e infelizmente eu não pude ajudá-las. Eu não pude fazer o que eu faço por tantas mulheres hoje, mas eu gostaria muito de ter feito por elas. Prometi pra mim que, assim que elas ficassem bem, eu iria reconstruir, mas eu não tive tempo pra isso porque as duas faleceram. Depois desse dia prometi que iria ajudar o maior número de mulheres porque eu sei da importância, eu sei o quanto significa isso", explica.

Vanessa, que tem uma clínica particular, explica que durante o mês de outubro o trabalho de reconstrução da aréola é gratuito, mas, em outros meses do ano, o valor arrecadado dos procedimentos é convertido. "Eu cobro uma taxa de R$ 300, para custos de materiais, que é convertida para fazer as doações, para fazer os atendimentos durante o Outubro Rosa e dar continuidade com essa campanha", explica.

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A esteticista conta que os dias 4 e 5 de outubro deste ano foram destinados aos atendimentos gratuitos, e que contemplou 18 mulheres com reconstruções. "O procedimento se assemelha muito ao de uma tatuagem. É feito com agulha e tinta, e demora cerca de uma hora e meia a duas horas, depende muito se é uma mastectomia unilateral ou bilateral."

Poder da autoestima

Uma dessas pacientes que decidiu fazer o trabalho de reconstrução de aréola foi a mãe de Kátia, Vânia Ribeiro, de 66 anos. A suspeita de que havia algo de errado com a mama veio ainda durante a pandemia, com o peito escuro, coçando e ardendo. Apesar de ter feito diversos exames, como ultrassons e tomografias, o resultado confirmando a suspeita de câncer de mama só veio através da biópsia.

"Ela teve a doença de Paget - um tipo raro de câncer de mama que se desenvolve na pele do mamilo e na aréola. Só estava no mamilo, mas mesmo assim ela fez cirurgia e ficou com uma cicatriz", explica Kátia.

Ela conta que a mãe sempre foi bastante vaidosa, e daí surgiu a ideia de realizar a micropigmentação. "Comecei a seguir Vanessa Miniquelli no Instagram e a observar o trabalho, e gostei. Mandei uma mensagem pra ela sem minha mãe saber, para presenteá-la com o procedimento."

"Minha mãe chegou toda acuada, se escondendo, porque ela ficava parecendo que as pessoas já estavam vendo que ela não estava com o mamilo ou que uma mama era menor que a outra. Ela saiu com a autoestima elevadíssima, eu fiquei encantada com o trabalho. Ela agora é outra pessoa. Minha mãe está assim super feliz e super satisfeita", ressalta.

Uma das maiores realizações ao finalizar o trabalho, segundo Vanessa, é ver a alegria da mulher. "O dia que eu fiz a minha primeira reconstrução e eu entreguei um espelho na mão da minha cliente, eu pude ter certeza que a falta da aréola, de não ver a mama, de ver aquela cicatriz, a mama mutilada, isso mexe muito com a mulher. Os relatos que eu escuto das das minhas pacientes, das minhas clientes, são sempre os mesmos de vergonha, de tirar roupa na frente do marido", conta.

"É uma coisa que me dá muito prazer, me traz muita felicidade, atender essas mulheres. É o que eu sempre digo: eu não vou poder mudar o mundo, mas eu tenho certeza que cada uma dessas mulheres que passou por mim eu consegui mudar um pouquinho a vida. Então isso me traz muita satisfação, é muito gratificante", finaliza.

Câncer de mama

Segundo informações do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres ao redor do mundo. Cerca de 2,3 milhões de casos novos foram estimados em 2022, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres. As taxas de incidência variam entre as diferentes regiões do planeta, com as maiores taxas nos países desenvolvidos.

No Brasil, em 2023, foram estimados 73.610 casos novos de câncer de mama, com um risco de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres.

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