Saúde

Saiba como rede de apoio influencia no tratamento do câncer de mama

Rodrigo Nunes/MS
Especialistas e paciente afirmam que é um fator primordial ter o apoio de familiares e amigos  |   Bnews - Divulgação Rodrigo Nunes/MS
Bernardo Rego

por Bernardo Rego

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Publicado em 29/10/2023, às 07h20


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O câncer de mama tem sido uma doença que acomete cada vez mais mulheres mais jovens e em um número expressivo nas últimas três décadas. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres. Ainda segundo os dados, a maior prevalência de casos acomete as mulheres com idade entre 50 e 69 anos.

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Com o intuito de compreender melhor de que forma a doença afeta e modifica o estado emocional, o BNews conversou com a psicóloga Ana Paula Nunes, da rede Dasa, doutora em medicina e saúde. Ela ressaltou que, no primeiro momento, é necessário haver o acolhimento por parte do profissional. “O paciente chega no consultório com um sofrimento, que necessita de apoio, acolhimento e empatia. Através de uma escuta sem julgamentos é necessário acolher a sua dor para oferecer todo o suporte psicológico ao paciente e também a sua rede de apoio, que passam por diversas situações novas e ao mesmo tempo, desafiadoras”, pontuou. “Posteriormente, vamos desenvolvendo estratégias de enfrentamento para promover maior qualidade de vida neste momento da vida onde está presente o adoecimento físico e psíquico”, acrescentou.

Nunes também frisou a importância do apoio familiar, bem como de uma equipe multidisciplinar. “Com o suporte familiar e de uma equipe multiprofissional, o paciente encara com mais aceitação algo que ele não pode mudar naquele momento, mas sim aprender a estar disposto a fazer ações que estão ao seu alcance”, comentou.

A profissional aproveitou também para dar dicas de como lidar com o medo sem que ele atrapalhe a nossa vida. “O medo faz parte da vida e nos protege em muitos momentos. No entanto, devemos ficar atentos se o medo assume o controle da nossa vida e o quanto nos afasta de experiências positivas ou agradáveis também. No acompanhamento psicológico, vamos trabalhar o medo, falar sobre ele, aproximando do que gera medo com o objetivo de reduzir a ansiedade, que é muito comum diante de um diagnóstico de uma doença”, explicou.

A psicóloga acrescentou que o apoio social é tamanha importância e que ele não vem apenas e tão somente da psicoterapia, mas tem bastante relevância quando chega a partir de membro da família, companheiro, amigo ou vizinho. Segundo Ana Nunes, “é muito importante que ela sinta que pode contar com alguém nesse momento difícil. O sentimento de solidão é definido como uma experiência negativa de se sentir sozinho e/ou angústia de se sentir isolado”, disse.

A professora universitária, Marta Rocha, vivenciou a doença e contou os principais desafios para encarar a enfermidade. Segundo ela, a parte estética não causou incômodos, apenas ficar sem sombrancelhas é que a deixou um pouco desconfortável. "Eu não estava preocupada com a parte estética. Lidei de uma forma diferente, portanto não tive nenhum problema de ficar careca, inclusive não usei sei peruca porque fiz quimioterapia o verão. A única coisa que me incomodou foi ficar sem sobrancelhas, me senti sem expressão", contou.

Ela, que foi diagnosticada em julho de 2017, disse que foi submetida a uma mastectomia, que é retirada da mama, mas utilixzou uma estratégia de se despedir daquela parte do corpo que estava doente para que não a prejudicasse ainda mais. A professora disse ainda que o apoio do marido foi fundametal, mas também de amigas próximas que iam até a casa dela dar um suporte.

Rocha, que é docente da área de letras, salientou que a rede de apoio é importantíssima. Segundo ela, tão importante quanto o tratamento. A professora contou que se sentiu cuidada e amada por todos os que estavam ao seu redor, em especial pelo marido, que deixou de trabalhar para cuidar exclusivamente dela.

A mastologista Larissa Bittencourt, que atua rede Dasa, explicou a razão do crescimento dos casos de câncer de mama em mulheres mais jovens. Segundo ela, os fatores são diversos e esse cenário já vem acontecendo nos últimos 30 anos.

“Esse crescimento pode ser atribuído a diversos de fatores, como obesidade, álcool, mudança do estilo de vida da mulher moderna, que passou a adiar a gravidez para depois dos 30 anos, redução do número de filhos, não amamentação ou amamentação por períodos curtos. Esses dados têm sido motivos de preocupação entre as pacientes cada vez mais jovens, que buscam a consulta com o especialista como forma de entender o aumento dessa incidência e buscar orientação do que pode ser feito para reduzir o risco”, explicou.

Segundo a profissional, “é extremamente importante avaliar o estilo de vida dessas pacientes. Sempre recomendo alimentação saudável, que pode ajudar a fortalecer o sistema imunológico e melhorar o cansaço e outros sintomas associados ao tratamento. Exercícios físicos, manter uma boa hidratação”, afirmou.

A mastologista reforçou o quão importante é a rede apoio de familiares e amigos para a paciente que está em tratamento. “O diagnóstico de câncer é um momento extremamente difícil e estressante. Ele traz consigo medo, insegurança e várias incertezas relacionadas ao tratamento e a cura. Além de muitos questionamentos como se o cabelo vai cair, como vai ficar a autoimagem, como vai ficar a vida sexual, a relação com o parceiro, se vai ser necessário parar de trabalhar, se vai poder ter mais filhos, se vai ou não poder amamentar. São muitas questões angustiantes”, salientou.

“A rede de apoio pode ajudar o paciente a lidar com os efeitos colaterais do tratamento, acompanhar durante as consultas para ajudar com informações que possam ser esquecidas. Ajudar a manter um ambiente positivo e esperançoso. Evitar comentários ou contar histórias de casos com desfechos desfavoráveis”, acrescentou.

Bittencourt reforçou a importância do diagnóstico precoce, que segundo ela, é um fator determinante para o sucesso do tratamento. “Estatísticas mostram que quando a doença é identificada em seus estágios iniciais, as taxas de cura são altíssimas. Consultas regulares com um mastologista e a realização de mamografia anual, quando indicado, são essenciais. Essas medidas possibilitam identificar possíveis alterações antes mesmo de serem perceptíveis ao toque”, pontuou Larissa.

Classificação Indicativa: Livre

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