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Turismo de multipropriedade: especialista aponta que Nordeste caminha para liderança no segmento

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Valor Geral de Vendas se aproxima de R$ 80 bi e estudo “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedade no Brasil”  aponta mercado em expansão  |   Bnews - Divulgação Reprodução // Freepik
Rafael Albuquerque

por Rafael Albuquerque

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Publicado em 15/05/2024, às 13h41



O Valor Geral de Vendas (VGV) da indústria da multipropriedade no Brasil, considerando os 200 empreendimentos localizados em 89 cidades e 19 estados brasileiros, alcançou a cifra de R$ 79,5 bilhões em 2023, o que representa um crescimento de 33% na comparação com os R$ 59,9 bilhões de 2022. 


Em números absolutos, isso significa uma alta de 11% na oferta de empreendimentos que operam neste modelo em todo o País, de acordo com o estudo “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedade no Brasil”, realizado em sua oitava edição pela Caio Calfat Real Estate Consulting e que será lançado ainda este mes, em São Paulo.


“O resultado do estudo neste ano é tão relevante que, na minha opinião, ele é a segunda melhor notícia depois da sanção da lei de multipropriedade, em 2018, e terá impacto direto no sucesso do desempenho do setor no Brasil”, antecipa Caio Calfat, diretor-geral e fundador da empresa.


Entre os diferenciais da indústria, Caio destaca seu potencial em lançar ou desenvolver destinos, “como o que aconteceu em Olímpia, em São Paulo, município que ficou conhecido como destino turístico nacional e que se desenvolveu a partir de seus parques e de uma hotelaria predominantemente focada na multipropriedade. 


Na Bahia, uma das experiências de turismo de multipropriedade é está no Complexo Costa do Sauípe, no Litoral Norte. O Village Itaparica, empreendimento que segue o modelo de multipropriedade, está sendo erguido na Ilha de Itaparica, no lugar do antigo Club Med, que entrou para a história da hotelaria como o primeiro resort brasileiro. É o maior empreendimento imobiliário dos últimos 40 anos no município de Vera Cruz e sua construção vai revitalizar Itaparica, resgatando a distinção da ilha de destino turístico referência no Brasil. Construído pela Eindom Empreendimentos, braço imobiliário da Lorinvest, o complexo conta com 443 apartamentos de 44 m², 89 m² e 136 m². O Village Itaparica incluirá ainda um beach club e um shopping a céu aberto.

Agora, o segmento chega a outros oito destinos brasileiros, inclusive no Nordeste: Atibaia (SP), Barra de São Miguel e Maragogi (AL), Conde (PB), Itá (SC), Porto Belo (SC), São Francisco de Paula (RS) e Tijucas (SC).


Caio Calfat concedeu entrevista ao BNews Turismo e explicou como funciona o segmento e as perspectivas para o futuro:

BNews Turismo: O que é o turismo de multipropridade e quais suas principais referências no Brasil.

Caio Calfat:  O turismo de multipropriedade, a multipropriedade é um imóvel de segunda habitação. Só que ele, ao invés de vendido de forma inteira, é vendido de forma fracionada. Então, cada imóvel, cada apartamento, cada casa é dividida em 2, 3, 5, 15, 20, até 52 proprietários. E o que se divide na realidade é o tempo, porque cada um, cada proprietário usa o seu período do ano no tempo, aquele mesmo imóvel. E o que é mais interessante, todos têm a escritura, a escritura da fração imobiliária. Isso foi conquistado porque? Nós, na vice-presidência do Secovi, lá em 2013, 2014, montamos um grupo de trabalho que desenvolveu um texto de lei que passou a ser uma lei promulgada em dezembro de 2018 pelo presidente Temer, e esse empreendimento passou a ter um arcabouço jurídico robusto, o que garante aos compradores dessa fração imobiliária, dessa multipropriedade, que ele é dono, escritura de uma fração imobiliária daquele imóvel. Esse imóvel ele pode vender, ele pode alugar, ele pode hipotecar, ele pode deixar para os seus filhos, e ele tem direitos e obrigações como qualquer proprietário de imóvel inteiro.

BNews Turismo: o estudo “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedade no Brasil” aponta para alta de 11% na oferta de empreendimentos que operam neste modelo em todo o País. É um crescimento considerável. A que se deve isso? 

Caio Calfat:  Primeiro, uma correção. Empreendimentos não operam nesse modelo, são empreendimentos que possuem uma estrutura jurídica nessa característica de negócio. É um crescimento bastante considerável, sim. A que se deve isso? A novidade, a grande novidade. Esse ano não foi diferente dos anos anteriores, quando a gente veio observando altas no mesmo volume do ano passado para esse. São empreendimentos no Brasil inteiro, em mais de 90 cidades do país, em 19 estados brasileiros, então tem empreendimentos espalhados por praticamente todos os estados brasileiros. Se a gente for levar em conta o Sul, o Sudeste, o Nordeste e o Centro-Oeste, eles já estão bastante ocupados com empreendimentos desse perfil. O que falta é de envolver mais na região norte. O que se deve a isso é o grande interesse que os turistas têm por comprar uma fração e mobiliar uma multipropriedade em destinos que lhes agradam. A primeira motivação de compra, que é a de que ele está comprando um imóvel acima do padrão que ele tem, normalmente. Inclusive acima do padrão da primeira habitação dele. Só que ele não consegue comprar inteiro, ele consegue comprar uma fração. Então essa é a primeira motivação de compra, que nós chamamos de aspiracional. E esse modelo de negócio foi muito bem aceito pelo brasileiro, principalmente depois da aprovação da lei. Se a gente considerar que a lei foi aprovada só há cinco anos e meio, é muito pouco tempo. Então, tem todo esse volume de empreendimentos sendo realizados num País que aprovou uma lei que garantiu o arcabouço jurídico robusto. Esse empreendimento só tem 5 anos, 5 anos e alguns meses de idade.


BNews Turismo: Essa tendência deve se manter? Como atrair investidores para esse tipo de negócio?

Caio Calfat:  Sim, deve se manter como se manteve nesses anos todos. Todos os relatórios que a gente fez mostram essa tendência sempre presente. Já é o oitavo ano que a gente atualiza esse relatório, e isso sempre se verificou, principalmente nos momentos de crise, enquanto na época da pandemia e também na época da recessão econômica de 2014 a 2017, essas dificuldades, esses períodos de dificuldade não foram suficientes para diminuir o interesse dos compradores do modelo de multipropriedade. O que nós temos que atrair não é o investidor, é o comprador, é o morador, é a pessoa que compra para uso. No mercado imobiliário existem outras atividades, outros negócios imobiliários que são mais interessantes para investidores. Esse modelo de negócio não é para investidor, é para o usuário e como atrair o usuário com as atrações turísticas dessa região, das regiões onde eles são implantados. Por exemplo, Gramado, com toda a sua pujança e todo o seu interesse. O volume de turistas que Gramado recebe - 8 milhões por ano, então isso já é um motivo suficiente para atrair esse tipo de comprador, não investidor. Foz de Iguaçu, a mesma coisa, assim como o Nordeste brasileiro, as praias do Nordeste, as montanhas, enfim, são as mesmas atividades, são os mesmos motivos que levam um turista a visitar essas regiões. É o mesmo motivo: esse comprador da multipropriedade um dia foi hóspede do hotel naquela região.

BNews Turismo: quais os principais potenciais do turismo de multipropriedade?

Caio Calfat: Então, eu comecei falando que o principal motivo de compra é o aspiracional. O segundo principal motivo de compra é aquela questão que o brasileiro gosta muito, ele é dono de um imóvel, é de propriedade dele, ele tem a escritura, mesmo que seja da fração. A terceira motivação de compra é que existe uma rede hoteleira ali tomando conta do imóvel para ele. Ele não precisa se preocupar com manutenção. Existe uma rede hoteleira que cuida do imóvel para ele. A quarta motivação é o intercâmbio. O intercâmbio das intercambiadoras, RCI Interval, ele pode visitar destinos no mundo inteiro, trocando as semanas dele com férias em milhares de hotéis no mundo. E assim por diante. Então, são esses os principais motivos de compra.

BNews Turismo: o turismo multipropriedade vem se popularizando no Brasil e tem chegado com força cada vez mais no Nordeste. Essa é uma tendência? A Costa do Sauípe é um dos cases de maior destaque no Nordeste. Por que?

Caio Calfat:  Bom, primeiro, é natural que o Nordeste venha a despertar muito interesse de compradores de multipropriedade. Só demorou muito para acontecer. Curiosamente, o Nordeste não foi o primeiro, nem o segundo destino a receber multipropriedades na sua costa. A Costa do Sauípe é um dos cases de maior destaque do Nordeste porque ele tem um equipamento completo turístico, ele tem hotéis, ele tem restaurante, ele tem uma mini cidade dentro do complexo. Tem a proximidade do aeroporto, com a beleza daquela Costa dos Coqueiros da Bahia, com outros equipamentos que tem ali próximo, como a vilinha da Praia do Forte, por exemplo. Isto tudo são motivações de compra da multipropriedade. Tem o turismo de aventura ali naquelas florestas, naqueles rios. Tem o turismo de sol e praia, tem o turismo de eventos. Enfim, tudo isso acaba se somando e ajudando o comprador da multipropriedade a adquirir a sua fração nesses empreendimentos. Mas o Nordeste começa a despontar com mais força a partir de dois anos para cá, e a tendência é que assuma a liderança no desenvolvimento de multipropriedade no Brasil  como sendo a primeira região entre as cinco regiões do Brasil que mais desenvolve multipropriedade. Ainda não é, mas caminha para isso.

Classificação Indicativa: Livre

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