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O Racismo de Sempre

Imagem O Racismo de Sempre
Bnews - Divulgação

Publicado em 10/08/2020, às 10h34   José Medrado


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As pessoas estão se permitindo em seus preconceitos, sem qualquer prurido de limites. Parece que se estabeleceu no mundo, em especial por aqui, um posso tudo, falo o que quero e pronto. Foi assim que vimos estarrecidos dois hediondos episódios de racismo nesses últimos dias. Um rapaz que foi trocar um relógio comprado para o seu pai, inclusive com o cupom fiscal na mão. Sem qualquer razão, motivo dois policiais (certamente fazendo um biquinho) arrastam o jovem como se tivesse acabado de cometer um crime. O outro foi de um entregador  de alimentos, que foi insultado sem dó, nem piedade por um cidadão e mostrando a sua pele, afirmava que o trabalhador estava com inveja. Na primeira situação houve brava reação de alguns clientes do centro comercial, já na segunda um tentou, mas se calou, omitindo-se convenientemente. O omisso poderia até guardar algum receio na intervenção, mas poderia telefonar para a polícia, pois estava presenciando um crime.

O segundo criminoso, afirmou a posteriori o pai, é portador de esquizofrenia. É evidente, no entanto, que ele sabia muito bem como articular suas ofensas, seus insultos. Ele pode até ser um desequilibrado mental, mas ali não estava em surto. Havia uma concatenação muito lúcida dos seus ataques. 

O ator americano Will Smith tem interessante raciocínio, em afirmar que o racismo não aumentou, mas está sendo filmado, registrado. Pode até ser, mas que os que estão sendo filmados sejam pontos de partida para repúdio firme, forte por parte da sociedade e que a justiça comece a exemplar estes criminosos, pois precisamos dissuadir outras ações semelhantes. 

Há o racismo disfarçado, estruturado na sociedade, que ainda perdura até de forma  imperceptível, esse racismo tende a ser ainda mais difícil de se combater, exatamente pela difícil percepção. Falo de práticas, hábitos, expressões que estão incorporadas em nossos costumes, que passa a ideia de inferioridade, de segregação por etnia. Por exemplo,  mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno” e “pessoa de cor”. 

Outro exemplo, que até a década de 80 algumas mulheres negras se sentiam elogiadas, quando se referiam a elas como mulatas. Em verdade, é uma das ofensas mais rudes que se pode dirigir a uma negra ou mesmo negro (mulato). O termo 'mulato' adota o prefixo de mula (mulus, em latim). A mula é o progênito do cruzamento do cavalo com a jumenta ou do jumento com a égua. Por analogia, no século XVI, teria surgido o termo "mulato", que remete à ideia de "híbrido" (descendente de pessoas brancas e negras).

Certamente, tudo é um processo, mas que não pode contar com a leniência os poderes públicos, nem com a nossa omissão e mais: não basta se dizer não racista, precisa ser antirracista. 

Classificação Indicativa: Livre

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