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A volta dos que (não) foram

Imagem A volta dos que (não) foram
Bnews - Divulgação

Publicado em 13/09/2021, às 05h27   Victor Pinto


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Há quem considere que na política o bom é seguir no poder e para atingir esse êxito vale tudo. Quem tem dificuldade para entender esse circuito, fica à margem do sistema e também do percurso de escolhas e construção de governabilidade. Ninguém ganha eleição sozinho. Somam-se os fatores e forças, mínimas que sejam, para, a cada boletim de urna impresso somado no tão atacado sistema da Justiça Eleitoral, sagrar o grupo eleito. Urge o necessário diálogo e o vai e vem.

Vejamos: em 2006 quando eleito governador da Bahia, contrariando todas as perspectivas - e me lembro de um Waldir Pires entusiasta de uma vitoria no primeiro turno, à época, mais animado do que o próprio candidato -, Jaques Wagner teve o apoio importante do MDB. Seu vice foi da sigla. Espaços foram ocupados. Teve briga. Em 2010 o grupo rachou. Depois Geddel e cia rumaram com ACM Neto. Quinze anos depois, surge o avançar do retorno do grupo à base. Do mesmo modo acontece o diálogo com o PSC baiano para regresso ao ninho petista. 

Otto Alencar e João Leão, do PSD e PP respectivamente, carlistas fervorosos, hoje dão sustentação ao PT. Em um prazo de 20 anos alguém pensaria em ver uma articulação que envolvesse um teodolito desse com o PT

O PDT de Felix Mendonça, na Bahia, já foi da base de Wagner, já foi da base de Neto, depois ficou só com Rui e agora retorna para o núcleo netista. 

Outro exemplo clássico: eu custei a acreditar na briga de João Roma e ACM Neto. Zé Eduardo me pirraça até hoje desde quando coloquei em xeque informações que ele tinha sobre essa contenda. As conversas que tive com Roma em Brasília foram me convencendo aos poucos pela riqueza de detalhes e o inconformismo de Neto quando sempre era questionado sobre a relação com o ainda ex-aliado. Mas quem não garante uma nova costura já para 2022? Um novo arranjo com os dois juntos? Dos entendidos da política, muitos creem em uma unidade em breve.

Também existem outros casos mais pontuais, a exemplo de Carlos Geilson, que rompeu com a ala netista após 2018 e dois anos mais tarde voltou ao grupo para sobreviver politicamente em Feira de Santana, quando sufocado pelo mesmo núcleo que, em tese, o recebeu. O vereador de Salvador, Carballal, depois de muitos anos no PT e hoje está no PDT, faz parte da base de Bruno Reis. Interior a fora grupos de prefeitos e seus vices ou até de vereadores bem articulados, brigam, racham, criam novos grupos, traçam novas metas. Ao mesmo tempo que quebram o pau pelo quinhão eleitoral, no outro somam eles. 

Os exemplos recentes são muitos, como a relação de Lula (PT) com o MDB, mais uma vez. O mesmo MDB que constituiu o golpe contra Dilma Rousseff (PT) para jogar Temer (MDB) na presidência. E Temer é o mesmo emedebista que confecciona carta à Nação para Bolsonaro (sem partido) assinar. O atual inquilino do Planalto, inclusive, se agarra ao centrão mesmo tendo o repudiado a campanha inteira. 

Tudo isso faz parte do jogo desde quando o mundo é mundo. Diante do foi e não foi, volta e não volta, o ingênuo é o eleitor fanático e messiânico que toma essas cisões como a compra de uma guerra, de uma inimizade. Se digladiam cegamente nas bases. Se matam, muitas vezes literalmente. Mas as relações do topo, dos tapinhas nos ombros e das apunhaladas nas costas são cenas do jogo, que lembram a volta de Rita depois de dar a facada. Trair pode ser comparado a um pecado, mas “perdoar” é uma virtude cristã, argumentam as velhas raposas.

Victor Pinto é editor do BNews e âncora do programa BNews Agora na rádio Piatã FM. É jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É colunista do jornal Tribuna da Bahia, da rádio Câmara e apresentador na rádio Excelsior da Bahia. 

Twitter: @victordojornal

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