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Pesquisadores baianos usam espécies silvestres no melhoramento da mandioca

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Os cientistas estão usando espécies silvestres de mandioca para promover o melhoramento genético da raiz  |   Bnews - Divulgação Pixabay

Publicado em 04/07/2022, às 16h45   Redação


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Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, a cerca de 150 Km de Salvador, estão usando espécies silvestres de mandioca para promover o melhoramento genético da raiz. Pouco conhecidas, nessas variedades geralmente não comestíveis, são prospectados genes de interesse para a produção agrícola relacionados a características agronomicamente interessantes como produtividade, resistência a doenças e maior teor de amido, que é uma característica demandada pela indústria.

O trabalho faz parte do chamado pré-melhoramento, que tem principal finalidade identificar características de interesse úteis em acessos pouco adaptados às condições de solo e clima local e disponibilizar esses genes em genótipos mais adaptados, com boas características agronômicas, para que sejam inseridos no programa de melhoramento.

“As nossas ações de pré-melhoramento são basicamente focadas em descobrir alelos úteis para características de importância agronômica que interessam aos agricultores, como resistência a pragas e doenças, produtividade de raízes e amido, atributos associados à qualidade das raízes e propriedades de pasta que são atributos que cada amido possui e define as suas aplicações industriais”, explica o pesquisador Eder Jorge Oliveira, melhorista da Embrapa.

De acordo reportagem do Canal Rural, quase 20 anos atrás, projeto liderado pelo pesquisador Alfredo Augusto Cunha Alves em parceria com o International Center for Tropical Agriculture (Ciat), da Colômbia, buscava descobrir o potencial de utilização das espécies silvestres de mandioca quanto a resistência às principais pragas e doenças (estresses bióticos), bem como à tolerância à seca e à deterioração fisiológica pós-colheita (estresses abióticos).

“Conseguimos confirmar que as espécies silvestres são fontes de genes que poderiam ser utilizados no programa de melhoramento. Elas têm uma diversidade muito grande quando comparada com a nossa mandioca comercial”, conta Alves.

As espécies silvestres do gênero Manihot foram inseridas na unidade de pesquisa da Bahia em 2005, com sementes botânicas de várias espécies transferidas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e expedições de coletas realizadas nas regiões do Semiárido e do Cerrado. Atualmente são cerca de 60 mil sementes de 14 espécies de Manihot.

“O gênero Manihot, que é o mesmo da mandioca comercial, tem 99 espécies. Os taxonomistas afirmam que 75% da biodiversidade do gênero está no Brasil. Portanto, somos o principal centro de origem dessas espécies”, continua.

“Para realizar cruzamentos entre a espécie comercial com as silvestres, a semente tem de germinar, a planta tem de florescer e produzir novas sementes híbridas. No entanto, as variedades comerciais, normalmente, possuem uma baixa taxa de florescimento. Além disso, a flor feminina abre primeiro que a flor masculina, dificultando ainda mais a sincronização do florescimento. Daí a importância de estudos para a indução de florescimento da mandioca comercial, que é o foco do Projeto de Melhoramento NextGen, liderado por Eder Oliveira”, relata Alves.

O site cita como exemplo a espécie Manihot flabellifolia, utilizada em cruzamentos com cultivares comerciais visando à obtenção de cultivares resistentes à mosca-branca Aleurothrixus aepim. A reportagem detalha que consideradas pragas-chave para a cultura da mandioca, as moscas-brancas são insetos sugadores de seiva e, portanto, enfraquecem e prejudicam o desenvolvimento da planta, afetando a produção e a qualidade das raízes.

Conservação

Atualmente o maior banco ativo de germoplasma (BAG) de mandioca do Brasil está na Unidade da Embrapa em Cruz das Almas. São 1.540 acessos mantidos no campo (com dez plantas por acesso), e tem sido feito um esforço para ter uma cópia desse germoplasma em laboratório: 650 já foram introduzidos in vitro no Laboratório de Cultura de Tecidos, sob a responsabilidade do pesquisador Antonio da Silva Souza e equipe.

“O Brasil é signatário do Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura (TIRFAA), que possibilita que os países disponibilizem para outros países signatários suas espécies nativas, e a mandioca foi o primeiro produto que o Brasil disponibilizou nesse tratado”, explica o pesquisador Vanderlei da Silva Santos, melhorista e curador do BAG Mandioca. Esse intercâmbio é mediado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que faz o envio in vitro do material solicitado.

O programa usa a metodologia participativa desde 1990, que envolve agricultores familiares, indígenas e quilombolas, e se tornou uma ferramenta eficiente para elevar o nível de adoção e difusão das variedades geradas pelas pesquisas, agilizando a sua incorporação pelos produtores e ampliando a diversidade genética de mandioca nas lavouras.

O programa vem desenvolvendo cultivares que se somam às de mandioca de mesa lançadas com alta qualidade nutricional e boa conservação pós-colheita, usadas no processamento de produtos com alto valor agregado.

Ainsa de acordo com a reportagem do Canal Rural, bem próximo à Embrapa Mandioca e Fruticultura existem duas destacadas agroindústrias de beneficiamento: a unidade de produção de beijus Dois Irmãos, na zona rural de Cruz das Almas, e a Associação Comunitária do Brinco (Abrinco), no município de Maragogipe.

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