Coronavírus

BNews Summer: a pandemia vai acabar em 2023? Especialistas e gestores da saúde comentam

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Em entrevista ao BNews, pessoas que lidam diretamente com a pandemia desde seu início traçam perspectivas para a Covid no novo ano  |   Bnews - Divulgação Joá Souza/BNews
Daniel Brito

por Daniel Brito

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Publicado em 01/01/2023, às 12h00


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Mais um ano está começando e, junto com ele, vem uma pergunta que, muito provavelmente, você também deve estar se fazendo ou se fez no ano que mal terminou: a pandemia da Covid-19 vai acabar em 2023?

Caso nenhuma novidade aconteça nos dois primeiros meses de 2023, se completarão no dia 11 de março três anos de quando o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus Adanom, anunciou que a entidade reconheceu o novo coronavírus como o causador de uma emergência de saúde pública em nível global.

De lá para cá, o vírus, desde que foi detectado pela primeira vez na China em janeiro de 2020, se espalhou em todo o mundo e ceifou mais de 6 milhões de vidas ao redor do planeta, além de ter contaminado mais de 650 milhões de pessoas.

No Brasil, foram mais de 694 mil mortes e pouco mais de 38 mil pessoas que foram infectadas. Na Bahia, até o dia 30 de dezembro, 31.232 vidas foram perdidas para a doença e 1.769.063 pegaram o vírus, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab).

O ano de 2022 foi marcado pelo surgimento da variante ômicron, cuja maior característica é a alta transmissibilidade em relação às demais versões do coronavírus. Identificada pela primeira vez na África do Sul em novembro de 2021, ela varreu o mundo em menos de dois meses, se tornou dominante em relação à variante delta e fez países baterem recorde de casos de Covid-19, alcançando números nunca vistos até então na pandemia.

O Brasil, por exemplo, em meio à primeira onda avassaladora da ômicron, bateu um recorde de 298.408 casos registrados no dia 2 de fevereiro. A Bahia, por sua vez, dois dias depois, em 4 de fevereiro, teve seu pico de casos ativos, ou seja, de pessoas que estão com o vírus ativo e podem transmití-lo, com 36.955 infectados.

Apesar do grande número de pessoas contaminadas, as mortes não foram proporcionais graças ao avanço da vacinação, o que não havia ocorrido nas ondas causadas pelas variantes anteriores. Recentemente, o Brasil passou por mais uma onda, dessa vez causada pela subvariante BQ.1, da ômicron, o que levou diversos estados, entre eles a Bahia, a retomar o uso obrigatório de máscaras de proteção em ambientes fechados.

Luz no fim do túnel?

No dia 21 de dezembro, em um pronunciamento com tom considerado esperançoso, Tedros Adanom declarou que a OMS esperar decretar o fim da emergência da covid-19 neste ano.

"A pandemia de covid-19 diminuiu significativamente este ano, o surto global de varíola símia está diminuindo e não há casos de Ebola em Uganda há mais de três semanas. Esperamos que cada uma dessas emergências seja declarada encerrada em momentos diferentes no próximo ano", disse.

Apesar disso, ele foi cauteloso e afirmou que, mesmo com o número de casos e mortes em tendência de queda, as circunstâncias ainda não permitem afirmar que, neste momento, a pandemia acabou. Entre os fatores listados pelo chefe da entidade, estariam a falta de vigilância, testes e sequenciamento; milhões de pessoas não vacinadas; lacunas no tratamento e nos sistemas de saúde; falhas na compreensão da condição pós-covid e de como a pandemia começou. 

A Diretora de Vigilância Epidemiológica da Sesab, Márcia São Pedro, concorda com os pontos levantados pelo diretor-geral da OMS. Na sua avaliação, o cenário da pandemia é dinâmico, ou seja, muda constantemente, e não permite uma avaliação tão precisa dos prognósticos futuros.

"Estamos falando de um vírus respiratório, que sofre mutações. Iniciamos com uma variante - a gama - depois veio a delta, depois vamos para a ômicron, que tem subvariantes, cada uma com características diferentes. É muito difícil falar que a pandemia vai acabar em 2023. Em 2020, pensávamos que não chegaria a 2021. É importante avaliar os cenários, ou seja, como vem se comportando essa variante ao longo do tempo", pontua, em entrevista ao BNews.

Para a especialista, há fatores que podem provocar cenários adversos e favoráveis. No segundo caso, a vacina é um deles. "Um grupo aceita e outro se recusa. Se eu tenho um número de pessoas onde nem todas são vacinadas, ainda há suscetíveis, pessoas que estarão expostas, e a porta ainda está aberta", acrescenta.

Médico infectologista, Robson Reis cita o surgimento das vacinas bivalentes, adaptadas especificamente para a variante ômicron, como um dos fatores que podem ajudar a pandemia a acabar em 2023. Os imunizantes, fabricados até então pela farmaucêtica Pfizer, foram aprovados para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

No entanto, ele faz um alerta, levando em conta o atual cenário vivido pela China, que passa por uma escalada sem precedentes da doença após romper com a chamada política de "Covid zero", que estabelecia medidas mais rígidas de controle, como isolamento e testagem generalizados de moradores.

"É um vírus novo, que pode mudar seu curso e comportamento a qualquer momento. A China tinha uma política extremamente rígida em relação à doença, mas agora começa a aliviá-las devido aos protestos da população. Países do hemisfério norte, como Canadá, Estados Unidos e alguns da Eroupa, irão enfrentar o inverno, período em que aumentam as doenças virais, como a gripe e, provavelmente, a Covid. Há a tendência de que a doença perca cada vez mais força e deixe de ser uma pandemia, mas temos que lembrar que não é possível subestimar a capacidade do vírus em mudar", diz.

Assim como o diretor da Organização Mundial da Saúde, Reis lembra da baixa cobertura vacinal em alguns países. "Alguns da África, por exemplo, não vacinaram nem 20% da população. Precisamos lembrar que é uma pandemia. Como temos uma grande circulação de pessoas no mundo todo por conta de viagens a trabalho ou a lazer, geradas pela globalização, de certa forma é perigoso", expõe.

Festas de fim e começo deano

Com a chegada do verão, a Bahia e Salvador estão entre os destinos favoritos dos turistas de todo o Brasil e do mundo. O calendário da alta estação é repleto de diversas festas populares, que voltarão a ser realizadas após anos de fase aguda da pandemia, como a lavagem do Bonfim e, claro, o Carnaval.

O aumento na movimentação de pessoas em território baiano pode, na visão da diretora da Sesab, levar, consequentemente, a uma subida no número de casos da Covid-19 no mês de janeiro, embora a curva de crescimento da onda causada pela subvariante BQ.1 esteja atualmente em queda.

"Esse é um período de confraternização, onde, teoricamente, as pessoas se aglomeram mais. Temos festas, uma cidade turística", frisa Márcia São Pedro, alertando também que os municípios baianos precisam estar atentos a qualquer mudança de comportamento do vírus na população e fazer as devidas notificações".

"Quanto mais notificações, melhor conhecemos o perfil e a situação epidemiológica do nosso estado. Todos os municípios estão abastecidos com testes de antígeno e RT-PCR. Não falta vacina também nas unidades. Esperamos para 2023 continuar com a vigilância ativa. As notificações precisam acontecer, porque em períodos de festa costumam cair e voltam depois", ressalta.

O secretário de Saúde de Salvador, Décio Martins, afirma que a pasta está preparada para um eventual aumento no número de casos na capital baiana durante o início do ano, classificando-o como o "pior cenário", mas cita que a convivência com a Covid-19 será inevitável, com a gravidade da doença controlada através das vacinas.

Gestor da SMS desde o mês de abril, Décio alerta que a procura pelos imunizantes, apesar de ter aumentado com a nova onda da BQ.1, já caiu em Salvador devido à diminuição no ritmo de contaminação e apela para que as pessoas busquem os postos de vacinação.

"A vacina vem cumprindo o seu papel. Todos nós temos que fazer nossa parte. Nós, o poder público, precisamos ofertar vacina à população e fazer esse apelo, assim como a população deve colaborar comparecer aos postos e completar o esquema vacinal. 80% das pessoas internadas na cidade ou não tinham o esquema vacinal completo ou não haviam tomado nenhuma dose", menciona.

Classificação Indicativa: Livre

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