Cultura

Dia do Samba: Conheça a origem do ritmo e confira 7 atrações para aproveitar a data em Salvador

Foto de Ferran Feixas na Unsplash
Origem do samba é atrelada à uma junção de ritmos e práticas africanas, que se tornou popular durante a Era Vargas  |   Bnews - Divulgação Foto de Ferran Feixas na Unsplash

Publicado em 02/12/2023, às 07h00   Marco Dias


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Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Péricles, Beth Carvalho. Antes deles, Riachão, Simonal, Pixinguinha e Noel Rosa. Todos eles têm, em comum, a máxima eternizada pelo baiano Dorival Caymmi nos versos de “Samba da Minha Terra”, de que “quem não gosta do samba, bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça, ou doente do pé”. Consolidados no gênero, quando cantam, todo mundo bole. 

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Sempre em evidência na cultura brasileira, o samba completa 107 anos de existência oficial neste sábado (2º). Para o historiador Marcus Vinicius Sant’Ana, o marco temporal que decreta essa contagem é o lançamento da música “Pelo Telefone”, registrada em 1916 por Donga, mas composta coletivamente na casa de Tia Ciata. 

“O estilo musical já vinha sendo praticado há décadas, em terreiros e casas das tias baianas do Rio de Janeiro e de forma diferente não só na Bahia, mas no interior mineiro, no Espírito Santo e em todos os lugares que tinham uma origem escravista e, portanto, negra. Então, era possível identificar estilos musicais que se aproximassem do samba”, explica Sant’Ana.  

Origem do Samba 

O historiador aponta que o ritmo, como conhecemos hoje, é uma mistura de ritmos e práticas africanas, sendo impossível precisar um recorte geográfico ou temporal para o samba. 

“O samba baiano é baiano, o carioca é carioca. Ambos possuem suas peculiaridades, particularidades e, a partir daí, eles desenvolveram formas diferentes de fazer um ritmo com uma origem oriundo dos batuques ancestrais africanos”, explica Sant’Ana. 

A partir dessas peculiaridades regionais, o samba como conhecemos hoje, tido como “samba urbano”, se popularizou no Rio de Janeiro, criando raízes e se desenvolvendo após ser utilizado como um instrumento de controle governamental. 

Época de Repressão e Governo Vargas 

Durante a década de 1920, quem fosse pego dançando ou cantando samba corria um grande risco de prisão, já que o ritmo era ligado à cultura negra, condenada na época. Era a chamada “Lei da Vadiagem”, existente até hoje no rol de contravenções penais. 

Durante a Era Vargas, na fase ditatorial do Estado Novo em 1937, o governo utilizou o samba como instrumento de controle nacional. 

“Ele [samba] era o principal estilo musical cantado nas comunidades negras e periféricas, sendo marginalizado desde o pós-abolição. E, numa estratégia de controle daquelas massas, o estado usa o ritmo como instrumento de controle”, explica o historiador. 

A estratégia do governo Vargas era colocar aquela música, criada nas favelas, como símbolo nacional, para fazer um “acordo” com as populações marginalizadas. “Era como um contrato social mesmo, onde os sambistas, cansados de tomar pancada e baculejo apenas por fazer samba, aceitam ‘ajudar’ o governo” pontua Sant’Anna. 

Para conquistar a popularidade nacional, o samba teve que passar por um processo de embranquecimento, perdendo elementos identitários e se transformando em algo contemporâneo. 

“Um símbolo que representa bem isso é a figura do malandro, que no meio da Era Vargas, passa a ser o malandro romântico, que conhecemos hoje, o galanteador, o poeta, que engana apenas o coração das mulheres”, distingue o historiador. 

Apesar das mudanças, Marcus Vinicius Sant’Ana acredita que o grande sucesso e popularidade do samba na contemporaneidade se dá, justamente, por conta desse período de efetivação e transformação do ritmo como elemento nacional. 

O Samba na Bahia 

A figura do malandro, pontuada pelo historiador, era vista em um grande nome do samba baiano, Clementino Rodrigues, conhecido popularmente como Riachão. Sempre de boina, camisa social, calça e toalha no pescoço, suas músicas sempre bem-humoradas, abordando o cotidiano serviram de inspiração para muitos artistas que o sucederam. 

Samba feito por mulheres 

No cenário feminino - e contemporâneo - do samba, a Bahia tem em Mariene de Castro uma forte voz do ritmo. Influenciada por mulheres como Tia Ciata, Dona Edith do Prato, Dona Dalva de Cachoeira, Lia de Itamaracá, Alcione e várias outras artistas, a sambista revela que “Maria das Marias”, show realizado no começo deste ano, foi inspirado em todas essas vozes. 

“Não consigo desassociar o samba de minha vida. Me vejo pequena, na frente do espelho sambando ao som de Coisinha do Pai. Me vejo pequena sentada entre as sete crianças cantando e comendo Caruru de São Cosme e São Damião. Me vejo adolescente sendo chamada de Sambista por Roque Ferreira. Hoje vejo meus filhos tocando e cantando sambas. Acho que é isso. O samba faz parte de mim antes mesmo de eu nascer. Como um guardião”, comenta Mariene de Castro, destacando a importância do samba em sua vida. 

Influenciada por Mariene de Castro, Lai Castro revela que o samba entrou em sua vida através do irmão mais velho, que foi quem a presenteou com o primeiro violão. 

“O samba pra mim é uma filosofia de vida. Ele é quem me faz seguir todos os dias, cantar as nossas vivências é o mais importante pra mim”, destaca Lai Castro, que se apresenta no Outbêco Brotas, a partir das 19h deste sábado (2º).
Foto/Gabriel Xavier - @gbxvr
Lai Castro. Foto-Reprodução/Gabriel Xavier - @gbxvr

Outro destaque do samba baiano é o movimento “Samba Pra Rua”. Formado por pessoas negras, em sua maioria mulheres, o projeto reivindica a rua como espaço sagrado, mantendo as tradições do ritmo diante da origem africana e combatendo o racismo. 

“No samba cabem as histórias de amor, as trágicas, as cômicas, as histórias de luta e também as de devastação. Por isso, manter o samba vivo é essencial para garantir a continuidade dessa tradição. E mantemos o samba vivo fazendo um movimento duplo. De um lado, é preciso investir na gravação dos velhos clássicos do samba, com novas roupagens, como forma de honrar a memória. De outro, há que se ter espaço para a produção de novas músicas”, destaca Ana Flauzina, idealizadora do Samba Pra Rua. 
Samba Pra Rua. Foto-Reprodução/Ana Flauzina
Samba Pra Rua. Foto-Reprodução/Ana Flauzina

Atrações para aproveitar o dia do samba neste sábado (2), em Salvador 

Para curtir o dia do samba em grande estilo, o BNews selecionou 7 atrações na capital baiana para você aproveitar. Confira abaixo: 

Mart’nália - Homenagem do dia do Samba

Horário: 20h 

Local: Caixa Cultural Salvador - Rua Carlos Gomes, 57, Centro 

Ingressos: R$ 30 (inteira)/ R$ 15 (meia) 

Mais informações neste link

E Aí, Deu Samba?

Horário: a partir das 15h 

Local: Arena Parque Santiago, Avenida Santiago de Compostela, Parque Bela Vista 

Ingressos: R$ 50 

Mais informações neste link

Samba Pra Rua

Horário: a partir das 16h 

Local: Quilombo Mazi, Rua Direta do Curuzu, 110

Ingressos: R$ 20 

Mais informações neste link

Dia do Samba 

Horário: a partir das 17h 

Local: Espaço Cultural Rumo do Vento - Rua Alto da Bela Vista, Praça do Coreto, Itapuã

Entrada gratuita

Mais informações neste link

Roda do Dia do Samba 

Horário: das 15h às 22h 

Local: Rua Direita do Santo Antônio Além do Carmo

Entrada gratuita 

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Outbêco Brotas - Lai de Castro

Horário: a partir das 19h 

Local: R. Nossa Sra. de Guadalupe, 71 - Acupe de Brotas

Mais informações neste link

Samba do Liba 

Horário: 20h

Local: Batatinha Bar - Ladeira dos Aflitos, 68, Centro. 

Entrada gratuita 

Mais informações neste link

Classificação Indicativa: Livre

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