Economia & Mercado
Publicado em 23/02/2022, às 17h24 Rafael Albuquerque
Os tempos difíceis para o comércio e para economia como um todo - em decorrência da crise que chegou junto com o coronavírus - ainda devem perdurar em 2022. Isso é o que aponta o Relatório de Análise Regional - Bahia, apresentado pela Fecomércio e Confederação Nacional do Comércio (CNC) em evento realizado na tarde desta quarta-feira (23), no Sesc Casa do Comércio. Os dados apresentados apontam para crise em diversos setores.
Apesar de ter apresentado melhora com saldo positivo em 2021 com relação ao ano anterior, o desemprego ainda é motivo de preocupação. Atualmente, de acordo com o relatório, a Bahia está com a taxa pior do que a média do Nordeste.
No último dado disponibilizado pela Fecomércio, a Bahia tem taxa de 18,7% de desocupação ante 16,4% do Nordeste.
Antonio Everton Júnior, economista da CNC, falou sobre o peso que esse dado representa na recuperação da economia.
"A inflação tem pesado contra o movimento de consumo, aliado a isso tem taxa de desemprego elevada. Isso impacta a confiança do empresário do comércio assim como no consumo das famílias", explicou.
Diante do atual cenário, questionado se há um otimismo no marcado com relação à economia, Antonio foi direto: "otimista talvez seja uma palavra forte para usar no momento em que o mercado estima crescimento da economia de 3% a 5% esse ano".
O presidente da Confederação Nacional do Comércio afirmou que não dá para imputar ao governo federal a alta da inflação, uma vez que diversos fatores contribuem para esse índice.
"A gente atribui (a alta da inflação) à força de mercado. Os preços são formados livremente no mercado, embora alguns complementos influenciem na formação dos preços. Combustível, preço de alimento e educação batem forte no preço aos consumidores. O governo tem feito seu dever de casa de maneira que os preços não pressionem muito os orçamentos familiares. As causas são inúmeras, não dá para atribuir a responsabilidade (ao governo)", destacou.
O comércio é outro indicador que tem deixado a desejar. Apesar do crescimento de 7% em 2021, as perspectivas não são animadoras para este ano.
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No último bimestre de 2021, por exemplo, houve queda de 7,8% no setor, e um dos fatores que levaram a isso foi a diminuição do total do auxílio emergencial, que caiu de R$ 25 bilhões em 2020 para R$ 36 milhões em 2021. O baixo desempenho das compras no Natal e na Black Friday também influenciaram.
Considerando a injeção de muito dinheiro na economia em decorrência do pagamento do 13º salário, o que puxou os dados do comércio para baixo no último bimestre de 2021 em Salvador foi a alta da inflação, puxada pela habitação e transportes.
Guilherme Dietze, consultor econômico da Fecomércio Bahia, falou sobre o assunto: "O ritmo de consumo baixo prejudica os números do comércio. A inflação aqui na região está acima da inflação nacional devido a transporte, combustível, alimento, energia elétrica. A inflação alta sem correção monetária significa perda do poder de compra. Em Salvador, quem tinha R$ 100 ano passado, esse ano teria o equivalente a R$ 90", explicou.
Mas não é só o comércio que sente os efeitos da crise econômica decorrente das medidas restritivas para conter a proliferação do novo coronavírus no Brasil. A indústria baiana foi outro setor bastante impactado, que teve seu pior desempenho entre os 15 estados pesquisados em 2021, com uma queda de 13,2%.
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Outro setor da Bahia que teve um dos piores desempenhos entre todos os estados pesquisados foi o de serviços, com saldo positivo de 9,8% em 2021, que é muito baixo considerando que foi comparado com os -14,7% de 2020, quando a economia foi muito afetada com a pandemia.
Na contramão dos outros setores da economia, o turismo baiano teve destaque com o melhor desempenho em 2021 entre os estados pesquisados pelo IBGE. O crescimento do turismo no estado foi de 47,3% em 2021 quando comparado com o ano anterior. Para se ter uma ideia do ótimo desempenho do setor, o Brasil cresceu 22,1%. Salvador e Praia do Forte foram alguns dos principais destinos escolhidos pelos turistas na Bahia.
Considerando os dados e argumentos citados pelos especialistas, o relatório atesta que o "comércio deve ter mais um ano difícil", "as famílias continuam endividadas e sentindo a inflação alta (previsão de 6%), impactando mas vendas do comércio". O comércio varejista, por exemplo, deve registrar queda de 1% este ano.
Apesar previsão de injeção de R$ 11,6 bilhões de auxílio emergencial para este ano, R$ 7,5 bilhões a mais em relação ao tradicional Bolsa Família, parte desse montante será para pagamento de dúvidas e contas, segundo a Fecomércio Bahia. Além disso, a Selic deve ser elevada a 12% ao ano, encarecendo ainda mais o crédito ao consumidor (mercado imobiliário). Diante dos dados apresentados que indicam estagflação - que representa estagnação ou até desaquecimento da economia brasileira - umas das consequências esperadas - e indesejadas - é o mercado de trabalho desaquecido, o que influência neste ciclo estagnação econômica.
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O presidente em exercício da Fecomércio Bahia, Kelsor Fernandes, falou ao BNews sobre os dados que foram apresentados: “O que vimos aqui é uma previsão. A gente torce para que elas não se concretizem do lado negativo. O empresário do comércio é um batalhador, está matando um leão por dia para sobreviver. A nossa perspectiva é que ele continue gerando emprego, pagando impostos, gerando renda, para tocar a economia da Bahia. Um setor que emprega quase 70% do PIB baiano não pode continuar parado, ele tem que girar, tem que crescer. E tudo que nós pudermos fazer com os órgãos governamentais nós vamos fazer para que a economia da Bahia continue girando".
Questionado se a recuperação do comércio passa pelo aumento do poder de compra da população e se o governo deveria intervir de alguma forma, Kelsor foi enfático: “sem sombra de dúvidas. Se o poder aquisitivo do povo não crescer, a economia não vai crescer, o consumo não vai crescer. Isso vai impactar diretamente na contratação de pessoal, na geração de renda. O governo, enquanto entidade reguladora, tem que achar caminhos para que faça a economia crescer. Se precisar tem que fazer Refis, ajudar o empresário nesse momento difícil que a pandemia causou a todos”.
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