Economia & Mercado

Dólar e juros sobem após Lula sinalizar mudanças na meta de inflaçã

Valter Campanato/Agência Brasi
O movimento vem após o presidente Lula voltar a mencionar a possibilidade de mudar a meta de inflação, com o objetivo de segurar a taxa de juros no Brasil  |   Bnews - Divulgação Valter Campanato/Agência Brasi

Publicado em 06/04/2023, às 17h20   Lucas Bombana// Folhapress



O dólar e os juros futuros operam em alta nesta quinta-feira (6), após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltar a fazer declarações sobre possíveis alterações na meta de inflação.

Já o Ibovespa oscila perto da estabilidade, em uma sessão de liquidez reduzida na véspera do feriado da Sexta-Feira Santa.

Por volta das 14h, o dólar à vista avançava 0,29%, a 5,0640 reais na venda, revertendo a tendência do pregão passado, quando fechou em queda de 0,66%.

No mercado de juros futuros, o contrato para janeiro de 2024 avançava de 13,22% para 13,25%, o título para janeiro de 2026 subia de 11,81% para 11,92%, enquanto o contrato para 2027 passava de 11,90% para 12,03%.

O movimento vem após o presidente Lula voltar a mencionar a possibilidade de mudar a meta de inflação, com o objetivo de segurar a taxa de juros no Brasil.

Lula fez a declaração em um café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira (6). Ao fim da conversa, porém, ele disse que apenas discutia uma fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e que não pretende brigar com o chefe da instituição.

Lula se referia a uma hipótese levantada pelo presidente do BC. Na semana passada, Campos Neto afirmou que, para cumprir a meta de inflação atual, os juros deveriam estar em 26,5% ao ano ---bem acima dos atuais 13,75%. Campos Neto ponderou que aquilo seria impossível.

O petista criticou a hipótese e a política de juros do BC. Em seguida, afirmou: "Se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta".

"Esses dias, eu li uma frase que eu não sei se foi dita pelo presidente do Banco Central que, para atingir a meta de 3%, precisaria de juro de 20% [Campos Neto falou em 26,5%]. Não sei se foi verdade isso, mas no mínimo é uma coisa não razoável. Porque se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta", disse.

O centro da meta oficial para a inflação em 2023 é de 3,25% e, para 2024, de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Já o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta quinta que o arcabouço fiscal proposto pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que promete colocar as contas públicas em ordem, exigirá uma queda da taxa básica de juros (Selic) –hoje fixada em 13,75% ao ano.

"Isso [plano fiscal] vai exigir, mais do que permitir, uma queda da taxa de juros, porque se as contas estão em ordem, não tem por que pagar um juro tão alto, que é o maior do mundo hoje", afirmou Haddad em entrevista à BandNews TV.

"Penso que está havendo convergência entre a política fiscal, receitas e despesas, e a monetária, que cuida da inflação e da trajetória da dívida pública", acrescentou.

Nesta quarta, no entanto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que não existe uma relação direta entre o arcabouço fiscal e a queda de juros. Para ele, a proposta pode ajudar no processo de desinflação ao afetar positivamente o canal de expectativas dos agentes econômicos.

"Não existe relação mecânica entre o fiscal e taxa de juros na forma como é colocada. O importante para a gente é atuar dentro do sistema de metas. Nós temos uma meta de inflação e olhamos as expectativas. O mais importante é como as medidas que estão sendo anunciadas afetam o canal das expectativas", disse Campos Neto em evento do Bradesco BBI.

A taxa básica de juros (Selic), definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central vem sendo alvo há meses de ataques de Lula e membros do governo. Para o Executivo, o patamar atual está muito elevado, o que prejudicaria os planos de impulsionar a economia. Já o Copom justifica a decisão diante das incertezas fiscais e deterioração das perspectivas de inflação.

Na Bolsa, o Ibovespa operava perto da estabilidade, com leve queda de 0,18%, aos 100.802 pontos, após fechar em queda de 0,88% no pregão passado, com os investidores reagindo principalmente ao anúncio de mudança na política de preços da Petrobras.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou na quarta que a estatal mudaria sua política comercial para adotar um novo modelo, o qual ele batizou de PCI (preço de competitividade interna).

Segundo ele, a alteração reduziria o preço do diesel em até R$ 0,25 por litro.
Já nesta quinta, o presidente Lula desautorizou o ministro de Minas e Energia nas discussões de uma mudança na política de preços da Petrobras. O petista afirmou que o governo ainda vai debater uma alteração nesse cálculo.

Em café da manhã com jornalistas nesta quinta, Lula disse que foi "pego de surpresa" pelas declarações do ministro, que provocaram irritação na cúpula da Petrobras.

Na sessão desta quinta, as ações de petroleiras privadas estão entre as maiores altas do dia, com ganhos em torno de 3,5% dos papéis da 3R Petroleum e da PetroRio. Já as ações da Petrobras recuavam em torno de 1%.

No exterior, após começar o dia em queda, os principais índices acionários ensaiam uma reversão para o campo positivo. O Nasdaq avançava 0,54% e o S&P 500 tinha alta de 0,33%, enquanto o Dow Jones recuava 0,03%.

Números de pedidos de auxílio desemprego nos Estados Unidos maior do que o mercado esperava reforçam a expectativa dos agentes financeiros de uma postura menos rigorosa do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) no processo de alta dos juros.

Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos somaram 228 mil com ajuste sazonal na semana encerrada em 1º de abril, mostrou um relatório do Departamento do Trabalho divulgado nesta quinta. Os economistas esperavam 200 mil pedidos.

Investidores também mostravam certa cautela uma vez que, nesta sexta-feira (7), quando o mercado de ações em Nova York estará fechado, será publicado o relatório de emprego dos EUA, com o importante dado de abertura de vagas fora do setor agrícola.

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