Economia & Mercado
Publicado em 12/01/2023, às 15h29 Cadastrado por Lorena Abreu
As ações da Americanas despencam na bolsa nesta quinta-feira (12) depois que a empresa publicou comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que chega a R$ 20 bilhões.
Em outras palavras, de acordo com informações do portal g1, a Americanas percebeu que o valor bilionário (referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores) não havia sido registrado de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa. "A primeira grande conclusão é que não estamos falando de um número que está fora do balanço. Só que ele não está registrado apropriado ao longo dos últimos anos", esclareceu Sérgio Rial, ex-presidente da companhia, em pronunciamento.
As ações da Americanas (AMER3) negociam em leilão nesta tarde. O leilão é um "mecanismo de defesa" que interrompe as negociações comuns para tranquilizar momentos de variação bruta de papéis na bolsa. Ainda assim, a queda por volta das 13h15 era de 86%.
O fato relevante com a notícia foi divulgado na noite desta quarta-feira (11), que informou ainda que o presidente da companhia, Sergio Rial, deixou o cargo apenas 10 dias depois de assumir. O diretor financeiro da empresa, André Covre, também renunciou. Covre havia tomado posse junto a Rial.
Os nomes dos dois executivos foram muito bem recebidos pelo mercado. Na época do anúncio, as ações da Americanas chegaram a subir mais de 20%. Apesar de ter deixado a empresa, Rial disse que a operação é "absolutamente viável".
Como consequência do escândalo na noite desta quarta-feira, os investidores amanheceram em polvorosa. As principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários da empresa em leilão até às 13h55, como uma forma de impedir oscilações muito grandes nos preços.
O documento divulgado pela companhia não traz muitos detalhes sobre o que de fato foi encontrado nas contas, mas esclarece que a área contábil detectou "a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras".
O rombo foi detectado na área de fornecedores da companhia, que, segundo especialistas do mercado, é uma das áreas em que mais problemas desse tipo podem ser identificados, já que contratos de determinados fornecedores podem ser favorecidos de forma a beneficiar outras partes.
Uma auditoria independente foi instalada para apurar o problema.
A Americanas disse que ainda não é possível determinar todos os impactos do rombo na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia. Em contrapartida, a empresa afirmou estimar que "o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial". Assim, o rombo teria apenas um efeito contábil, e não financeiro — o que levaria a uma saída do dinheiro do caixa da companhia.
O que diz o mercado financeiro?
Mesmo com as informações preliminares, as corretoras e casas de análise começam a mudar as recomendações sobre as ações da companhia.
Em um relatório, a Genial Investimentos passou de recomendação de compra para venda e reduziu o preço-alvo de AMER3 de R$ 28,40 para R$ 9,40.
Já de acordo com o relatório da XP Investimentos, em equipe liderada pela Head de Varejo Daniella Eiger, apesar do fato relevante dizer que o efeito caixa é imaterial, a falta de detalhes sobre os fatos adiciona muita incerteza aos ativos e ao futuro da companhia. A XP coloca a recomendação em Americanas sob revisão e enxerga três principais riscos:
Analistas do Itaú BBA compartilham da mesma visão e, assim como a XP e outras instituições, colocar as ações da Americanas sob revisão até que os fatos sejam esclarecidos.
Para além da insegurança com a notícia sobre o rombo bilionário, ainda segundo o portal g1, o mercado se mostra bastante descontente com a saída de Sérgio Rial, um executivo com boa fama entre investidores e especialistas.
Rial é um banqueiro e economista que já trabalhou com diversas instituições financeiras e foi presidente do Santander Brasil de 2016 a 2022, tendo sido escolhido pessoalmente pela herdeira do banco, Ana Patrícia Botín.
Sob sua gestão, o Santander Brasil se tornou a operação mais rentável de todo o grupo espanhol, além dos resultados do banco ter se destacado em relação aos outros bancos brasileiros por diversos trimestres com Rial à frente.
Rial foi escolhido para o comando da Americanas em um momento bastante complicado para todo o setor de varejo no Brasil.
Junto com as demais empresas do setor, Americanas também sofria com o cenário. Rial, então, era visto como alguém que poderia recolocar a empresa em uma trajetória mais lucrativa, e sua saída frustra os acionistas.
A grande questão é se as inconsistências na companhia vão refletir em todo o setor de varejo. Mesmo que o rombo seja nas contas da Americanas, outras importantes varejistas como Magazine Luiza e Via vivem um dia de forte desvalorização na bolsa, com suas ações despencando cerca de 10%.
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