Eleições / Eleições 2022

Dia do Nordestino: Por que período eleitoral abre margem para xenofobia contra o Nordeste?

Foto: Joilson César/BNews
Analistas e pesquisadores apontam causas que podem explicar xenofobia contra o Nordeste e impactos eleitorais  |   Bnews - Divulgação Foto: Joilson César/BNews

Publicado em 08/10/2022, às 12h51   Vinícius Dias



A xenofobia contra o Nordeste faz parte do tecido social brasileiro. Isso é um fato. E, portanto, a política não seria uma exceção à regra: no período eleitoral, é muito comum ver uma série de ataques que generalizam e menosprezam as opções eleitorais manifestadas nas regiões.

Cientistas políticos e estudiosos da área apontam que, inclusive, boa parte das afirmações feitas são falsas. Por exemplo: a de que é por conta do Nordeste que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o primeiro turno contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), que o PT só vence eleições presidenciais por conta da região ou mesmo que o voto de Nordestino está ligado ao estômago e programas sociais supostamente assistencialistas.

Neste sábado, é comemorado o Dia do Nordestino, data criada pra marcar a celebração da cultura e costumes da região, com seus 9 estados e 1.558.000 km². Professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e PhD em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Camilo Aggio pontua que não há relação entre grau de escolaridade e qualidade do voto.

O professor utiliza os exemplos de programas como o Auxílio Brasil e a chamada PEC das Bondades, implementadas pelo governo de Jair Bolsonaro, para mostrar empiricamente que o voto da região nada tem a ver com o estômago.

Mesmo com os programas sociais, Bolsonaro não venceu no Nordeste, onde Lula conquistou 21.753.139 de votos. Ele terminou o primeiro turno em primeiro lugar, com 57.259.504 votos e Bolsonaro, em segundo, com 51.072.345 votos – somadas todas as regiões.

"Vários analistas, colunistas, que cogitaram que o eleitorado de Lula, principalmente do Nordeste, trocaria o voto pelo Auxílio. Sem nenhum respaldo científico. Quebraram a cara. Primeiro disseram que seria com Auxílio Brasil, depois com a PEC das bondades. E Bolsonaro não conseguiu tirar meio voto de Lula na região", inicia o especialista.

Ele completa apontando os motivos para esse tipo de aposta: "Há uma leitura preconceituosa muito típica do Sudeste, do Sul, que sempre miram no eleitorado pobre e colocam na condição de votar pelo estômago e gratidão a políticas sociais - ao contrário do que seriam eles e do que seriam suas regiões", defende Aggio.

Comparando com a eleição de 2018, foi no Sudeste onde o PT ganhou mais votos em relação a eleição atual, quando Fernando Haddad disputou pelo Partido. Foram 23 pontos percentuais a mais no comparativo da região. 

Quem vem em seguida, foi justamente o Sul, onde Lula conseguiu aumentar em 17% a votação em 2022. Mesmo sendo derrotado nessas duas regiões, isso acabou sendo o que de fato determinou a vitória em primeiro turno já que,  no Nordeste, Lula avançou menos que sua média nacional: fez 16 pontos percentuais a mais do que Haddad em 2018.

Do outro lado, Bolsonaro caiu de 46% dos votos no primeiro turno de 2018 para 43,2% neste ano. Apesar da queda percentual, o presidente teve 1,8 milhão de votos a mais. Isso se explica por dois fatores: o crescimento no número de eleitores em relação a quatro anos atrás e a queda de brancos e nulos para o menor patamar já registrado em uma eleição presidencial.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp