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PT acredita em frente ampla de esquerda pelo governo de SP; entenda

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Candidato do PT, Fernando Haddad lidera pesquisas de intenção de voto  |   Bnews - Divulgação Foto: Arquivo Pessoal/ Fernando Haddad

Publicado em 27/03/2022, às 15h50   Carolina Linhares e Victoria Azevedo | Folhapress


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Depois da desistência de Guilherme Boulos (PSOL) da disputa pelo Governo de São Paulo, o PT do ex-prefeito Fernando Haddad ainda espera que o ex-governador Márcio França (PSB) também retire sua candidatura em prol de uma frente de esquerda. Mas petistas já enxergam vantagens caso França insista em manter seu nome, como vem fazendo.

Entre membros do PT que admitem um cenário em que Haddad e França concorram, há a leitura de que a candidatura do pessebista poderia beneficiar o petista. Isso porque o ex-governador disputaria votos do centro e da direita, atrapalhando o crescimento das candidaturas de Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Segurar o vice-governador Rodrigo Garcia é importante para a estratégia do PT, que prefere enfrentar o bolsonarista Tarcísio no segundo turno e, assim, espelhar a polarização nacional entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, Haddad lidera com 28%, seguido de França (19%), Boulos (11%), Tarcísio (7%) e Rodrigo (6%).

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Na hipótese de um palanque duplo para Lula em São Paulo, o apoio mútuo entre PT e PSB viria no segundo turno.

A maior abrangência do eleitorado de França, algo que petistas já veem como um trunfo para levar Haddad ao segundo turno, é, por outro lado, o argumento do pessebista para manter sua candidatura.

França acredita ter mais chances de vencer do que Haddad e, por isso, seria o melhor representante de Lula em São Paulo.

No evento de filiação de Geraldo Alckmin ao PSB, na quarta-feira (23), o presidente da sigla, Carlos Siqueira, se referiu a França como o próximo governador de São Paulo —a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, estava na plateia.

Em conversa com jornalistas na segunda (21), Haddad afirmou que, com a desistência de Boulos, o PT está com um "caminho mais consolidado e reforçado" na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, mas que ainda há tempo para construir mais alianças.

"Acredito que o campo progressista possa estar todo reunido. Esse era o objetivo desde o começo de todas as tratativas", disse.

Por outro lado, Haddad ressaltou não ver problema em que ambos concorram e se apoiem no segundo turno. "Não vejo nenhum constrangimento. Acho absolutamente possível", afirmou.

Numa eventual desistência de França, o ex-governador é mencionado entre petistas como um bom nome para concorrer ao Senado na chapa.

França só fala em retirar sua candidatura e mirar o Legislativo caso as campanhas contratem pesquisas que o mostrem menos viável que Haddad. A ideia é rechaçada entre petistas, já que Haddad hoje lidera os levantamentos.

O ex-governador também admite o cenário em que haja concorrência. "Se Haddad for convencido [da ideia de decidir a partir de uma pesquisa], bem. Se não for, tudo bem também, vamos sair os dois", disse à reportagem.

Aliados de França no PSB minimizam a pressão que a desistência de Boulos provocou, já que agora depende apenas do ex-governador para que uma aliança de esquerda em torno de Haddad se concretize.

De acordo com eles, a retirada de Boulos era esperada, enquanto França segue convicto de sua candidatura.

Segundo o presidente estadual do PT em São Paulo, Luiz Marinho, a formação da aliança Haddad-França seria "importantíssima" e daria "magnitude" ao nome do ex-prefeito.

O PC do B estadual já formalizou apoio ao nome de Haddad, e o PV deverá fazer o mesmo nos próximos dias. PT, PC do B e PV anunciaram a formação de uma federação para a eleição de 2022.

Apesar da desistência de Boulos, o PSOL ainda precisa debater internamente o apoio a Haddad. O próprio líder sem-teto defende coesão. "A minha posição é buscar a unidade, e acredito que a candidatura do Haddad é a que melhor expressa isso", diz Boulos.

De acordo com interlocutores de Haddad, agora o ex-prefeito terá que lidar com um "bom problema": tentar aglutinar todas as forças aliadas na construção de sua chapa majoritária.

Haddad diz que essas tratativas estão começando, mas que percebe que "todo mundo está imbuído nos melhores propósitos" para compor a chapa —que deve ter uma vaga ocupada pela federação PSOL-Rede e a terceira destinada a PSB ou Solidariedade.

Os pessebistas veem com bons olhos a unificação das candidaturas, mas também já admitem que França e Haddad concorram separados e se apoiem apenas no segundo turno. Ainda segundo dirigentes do PSB, essa resolução se dará mais adiante.

Além disso, é entendido entre membros do PT e do PSB que qualquer resultado em São Paulo, seja a unificação ou a concorrência, não inviabiliza o acerto nacional entre os partidos e a chapa Lula-Alckmin.

Em fevereiro, França esteve com Lula e houve a expectativa de que o pessebista poderia desistir.

Na ocasião, ele propôs ao petista que o imbróglio fosse resolvido com base em pesquisa, a ser contratada em maio, que indicasse quem seria mais viável e quem poderia bater Tarcísio no segundo turno.

A sugestão foi recebida por Lula, mas não prosperou no PT. Marinho, por exemplo, rechaça a proposta. "As pesquisas já estão na rua, estão à disposição. É só escolher uma delas", diz.

Após a conversa com Lula, o ex-governador mencionou a jornalistas que a manutenção das duas candidaturas tem a desvantagem de eventualmente incluir caneladas entre os dois na campanha.

O argumento de França para manter seu nome é o de que sua candidatura atrai votos da esquerda e da direita —até mesmo de bolsonaristas—, enquanto Haddad não fura a bolha da esquerda e tem maior rejeição.

Por isso, ele seria mais competitivo, principalmente no segundo turno, e representaria um palanque mais proveitoso para Lula num estado conservador.

Integrantes da campanha de França dizem ser favoráveis a uma unificação, mas ressaltam que a composição tem que ter critérios técnicos e objetivos, o que favoreceria o ex-governador, na visão deles.

Seguindo essa leitura, França pode ir além de Lula, agregando o voto do setor agro, de igrejas, de membros da segurança pública —enquanto a força eleitoral de Haddad está a reboque do ex-presidente.

Há ainda entre aliados de França quem espere que Haddad desista para apoiá-lo. O raciocínio é o de que Lula buscou ampliar sua candidatura com Alckmin na vice e que Haddad deveria fazer o mesmo em São Paulo —seria "um gesto de grandeza pela democracia".

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