Eleições

Aliados escondem Temer em campanhas eleitorais

Beto Barata/PR
Ex-ministros tentaram impedir a circulação de imagem em que aparecem juntos de presidente  |   Bnews - Divulgação Beto Barata/PR

Publicado em 07/09/2018, às 15h00   Folhapress/Débora Sögur Hous, Gustavo Fioratti e Paulo Passos


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Presidente mais impopular da história do Brasil, Michel Temer sumiu das propagandas eleitorais de seus aliados.

Pelo menos 16 ex-ministros do emedebista são candidatos em todo país. Só dois deles citaram o presidente no horário eleitoral na TV, desde o dia 31 de agosto, e em publicações nas redes sociais, desde o início da campanha, no dia 16.

Um, para criticá-lo. Foi o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (PPS), que concorre no Rio de Janeiro a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Outro que citou Temer, o ex-chefe da Fazenda Henrique Meirelles, o fez de forma discreta, enquanto contava sua história na vida pública, durante o horário eleitoral. O emedebista é candidato à Presidência da República.

Já nas redes sociais, Meirelles não publicou nenhuma postagem que fizesse referência ao atual presidente. Lula, por exemplo, foi citado 26 vezes pelo emedebista desde o dia 16 de agosto no Twitter.

Outros ex-integrantes da cúpula do governo ignoram o presidente. É o que faz Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e que também foi líder do governo no Senado até agosto. O senador emedebista tenta a reeleição em Roraima.

Um dos aliados mais fiéis do presidente diz no horário eleitoral que sua proposta para barrar a entrada de venezuelanos no Brasil não foi aceita. “Continuo cobrando providências do presidente”, diz Jucá, sem dizer o nome de Temer. Nas redes sociais, apenas mencionou o companheiro de partido para anunciar que deixou a liderança do governo.

Enquanto aliados trabalham para se descolar da imagem do presidente, rivais tentam justamente lembrar quem esteve ao seu lado durante o governo.

Temer atingiu o índice mais baixo de aprovação em pesquisa do Datafolha, em junho. Seu governo foi considerado ótimo ou bom por 4% dos brasileiros, enquanto 82% da população considera seu governo ruim ou péssimo.

Em Pernambuco, Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM) foram à justiça para impedir a circulação de uma imagem em que aparecem ao lado do presidente, com a legenda "A Turma de Temer em Pernambuco". Eles são, respectivamente, ex-ministro das Cidades e ex-ministro da Educação do presidente. Também estão na montagem Fernando Bezerra (PSB) e Armando Monteiro (PTB). 

Em Alagoas, Maurício Quintella Lessa (PR), ex-ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, e hoje candidato ao senado, faz menções à sua atuação no Governo Federal, mas sem nominar Temer.

Lessa é testemunha de Temer em sua defesa no inquérito dos portos. A investigação apura se o presidente beneficiou empresas no setor de portos em troca de propina, em decreto editado em 2017.

É um ex-aliado quem mais fez referências ao presidente na propaganda. Jingle do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, candidato a deputado federal, diz, em ritmo de samba, que ele “enfrentou o Geddel das malas/ e também o Vampirão/ foi o primeiro a gritar/ chega de corrupção”.

“Vampirão” é um apelido dado por rivais a Temer. E “Geddel das malas” faz referência a escândalo que envolve Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, preso após operação da Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões a ele atribuídos, em malas em um bunker em Salvador.

Quando diz que “enfrentou” Geddel, Calero faz menção direta a seu pedido de demissão em novembro de 2016. Logo após entregar o cargo, afirmou à Folha, que sua decisão foi tomada porque estava sofrendo pressão de Geddel para que interviesse na aprovação, no Iphan, órgão de preservação subordinado à pasta da Cultura, de projeto imobiliário em uma área tombada em Salvador.

O político foi preso preventivamente em setembro do ano passado, após a apreensão dos R$ 51 milhões. O emedebista foi denunciado por fazer parte, com outros integrantes de seu partido, de organização criminosa que desviava recursos de órgãos públicos e estatais, entre eles a Caixa Econômica Federal, e por ter recebido propina da JBS.

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