Eleições

Incerteza de abstenção e polarização entre Colbert e Zé Neto ilustram cenário de eleição em Feira

DIvulgação/Prefeitura
Bnews - Divulgação DIvulgação/Prefeitura

Publicado em 06/10/2020, às 15h48   Luiz Felipe Fernandez


FacebookTwitterWhatsApp

Não há como negar que a pandemia de Covid-19 vai influenciar significativamente a eleição municipal deste ano. Em Feira de Santana não é diferente.

Em visita à cidade, o BNews se deparou com um cenário ainda morno, distante de estar aquecendo para a disputa nas urnas em novembro, diferentemente de outros anos. Até mesmo entre os mais jovens, há uma incerteza sobre a abstenção, que pode refletir no resultado local.

"Não podia ir pra bar, festa, trabalho, agora vai poder votar?", questionou uma vendedora da tradicional Feiraguai, onde se encontra absolutamente tudo - menos alguém empolgado com a eleição. 

Outro fato é a polarização da disputa, conforme apontam pesquisas eleitorais, entre o atual prefeito e o deputado federal Zé Neto (PT), que já tentou algumas vezes chegar à Prefeitura.

Os quase 20 anos de hegemonia do grupo do Democratas no poder em Feira de Santana somam ao capital político do antigo vice-prefeito Colbert Martins Filho (MDB), que ascendeu à liderança do Executivo após a saída de José Ronaldo (DEM) para disputar o governo em 2018. 

É notório que ainda que não conte com defensores fervorosos e nem tenha a simpatia do "povão", Colbert tem a ajuda da popularidade do ex-prefeito e da sua tradição familiar. 

O seu pai, Colbert Martins (PMDB), foi prefeito em duas ocasiões na cidade, entre 1977 e 1982, e depois entre 1989 e 1992, e tem no legado obras importantes como o Hospital Ignácia Pinto dos Santos, conhecido como Hospital da Mulher.

O pouco tempo à frente da Prefeitura também é um fator que pode distanciar Colbert Filho dos feirenses, já que em apenas dois anos ele não conseguiu concluir parte dos projetos que estão há anos estagnados em Feira de Santana, como o Centro de Convenções e  a obra do BRT, assinada no mandato de Zé Ronaldo e alvo de críticas.

O discurso dos opositores é o mesmo, de que não apenas lhe falta carisma, como também a a ausência do diálogo franco com a população é uma marca da sua gestão. 

No Centro da cidade, outros moradores confirmaram a tese de que Colbert teria maior apoio entre as camadas mais favorecidas economicamente da sociedade, enquanto Zé Neto (PT) transita com entusiasmo entre os mais pobres.

"Não deu para ver muita coisa pois ele priorizou as obras que precisavam ser feitas. Acabou que tá tudo quebrado, feio, mas vai melhorar no futuro", confia uma moradora do bairro Santa Mônica.

Pedro Paulo, aposentado, não se diz plenamente satisfeito com a situação de Feira, mas ainda prefere apostar na reeleição de Colbert a arriscar outro nome. "Não confio em ninguém, dos que estão aí, melhor deixar Colbert. Ele só tem que asfaltar a rua aqui", diz o senhor, apontando para a rua de pedras em frente à sua casa, no mesmo bairro. 

Zé Neto ainda reluta para desfazer a fama de "doido" e arredio, propagada até pelos que dizem apoiá-lo. Terceira via na disputa mas ainda pouco lembrado pelos potenciais eleitores, Carlos Geílson tenta surfar nesta onda e já alfinetou o colega da base governista, questionando o seu "temperamento".

"Na favela só dá Zé Neto, ele passa e conversa com todo mundo, mas é daquele jeito dele né, doido, doido. Já Colbert não é muito simpático", diz Neide, que reside no bairro do Aviário.

Há aqueles que veem a necessidade de eleger outro nome para romper a sequência do grupo liderado por Zé Ronaldo (DEM) e, até o momento, apostar no deputado federal petista, com forte identificação com Feira, se torna a alternativa mais plausível.

Confiante na "onda Bolsonarista", José de Arimateia vai precisar convencer mais do que o eleitorado fiel ao presidente para se eleger na cidade que deu 67% dos votos ao candidato do PT Fernando Haddad em 2018. Ele crê em um perfil conservador de Feira de Santana, mas as pesquisas ainda não apontam para este caminho.

Dayane Pimentel (PSL) também se apresenta como uma candidata da direita conservadora, mas o rompimento e rusgas com a família Bolsonaro tiram dela o maior cabo eleitoral deste segmento, o que faz com que a sua vitória seja ainda mais desacreditada.

Com 56 anos vividos boa parte deles na Câmara Municipal de Feira, como vereador, Beto Tourinho (PSB) bate no peito ao dizer que a sua candidatura não é endossada por nenhuma figura da velha política feirense, apesar de ser filho do ex-prefeito José Falcão. 
A missão é multiplicar os pouco mais de 4200 votos recebidos em 2016, que o colocaram na 12ª posição entre os mais votados para o legislativo local.

Somam-se ao pleito ainda Carlos Medeiro (Novo), Marcela Prest (PSOL), Rei Nelsinho (PRTB) e Orlando Andrade (PCO), que foi candidato a governador da Bahia na última eleição, quando recebeu 3100 votos.

Mesmo com outras oito possibilidades, há pouco mais de um mês da eleição, Colbert e Zé Neto despontam como os favoritos. No entanto, seja um dos dois ou qualquer outro, a tarefa de governar Feira não será nada fácil em um ano de recessão econômica agravada pela crise sanitária vivida em razão da Covid-19. 

Entre as principais reivindicações ouvidas na cidade está a demora na marcação de exames e consultas na rede pública de saúde. Com cerca de 600 mil habitantes, Feira de Santana conta apenas com duas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e os cidadãos sofrem com a espera. 

Quase todos os candidatos colocam a construção de um hospital municipal que complemente a atuação do Clériston Andrade, como prioridade em seu plano de governo.

Do outro lado, Colbert defende que o Hospital da Mulher, construído no segundo mandato do seu pai, é suficiente como equipamento público. A solução, segundo ele, para melhorar o serviço, pode ser a efetivação de contratos de parceria público-privada (PPP).

Seja quem for o vencedor, terá que lidar com esta e tantas outras questões que passam por segurança, mobilidade urbana e educação.Por ora, os postulantes vão ter que dar largas braçadas para alcançar o petista e emedebista e tentar, pela primeira vez, ocupar a cadeira na Prefeitura.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp