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LEM: Comandante Rangel conta que segue sem contato com candidato a vice desertor: “Achou que não ia dar em nada”

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Em entrevista ao BNews, candidato derrotado comentou operação Desertor e disse que ainda não sabe se participará das eleições em 2022  |   Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 27/11/2020, às 16h10   Marcos Maia



O candidato derrotado a prefeito de Luís Eduardo Magalhães, na região Oeste, Comandante Rangel conta que ainda não esteve com seu candidato a vice nas eleições municipais, Aldo Dourado (PL), desde que este desistiu do posto dias do dia da votação e sumiu do mapa.

“Ele se lançou em uma aventura, e achou que não ia dar em nada”, avaliou em entrevista ao BNews na tarde desta sexta-feira (27). Após a atitude do ex-correligionário, Rangel - representante do bolsonarismo no sufrágio em LEM - divulgou um áudio atribuído a Dourado no qual ele confessa está sendo aliciado para abandonar a chapa. Rangel acusa o grupo do candidato vencedor nas eleições do último dia 15 de novembro, Júnior Marabá (DEM), de está por trás da manobra. 

Procurada pela reportagem do BNews, a assessoria de comunicação de Marabá disse que "não há o que comentar" à respeito das acusações de Rangel e destacou que o democrata e sua equipe estão concentrados nos detalhes da transição para a nova gestão. O áudio foi apresentado ao público há três semanas, durante uma coletiva de imprensa.

“O cara falando e eu me arrepiando. Falei: 'Porra. olha o sinal! Isso é sinal que tá incomodando e a vitória vai ser certa'. [...] Eu falei: 'Rapaz, a tentação é grande'. Eu ainda falei assim: 'Vou dar a resposta amanhã'. [Disseram:] ‘200 mil para você desistir da candidatura, para você ir para João Dourado e ficar lá. Some daqui, some da política’ ", diz a voz atribuída a Dourado no registro.

O  material foi apresentado à imprensa um dia após seu então candidato a vice anunciar que estava renunciando ao posto. Em nota, Dourado explicava que a decisão era motivada pela constatação do que chamou de "total falta de apoio" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no pleito.

Ele também acusou Rangel de manter "largos vínculos" com a gestão do atual prefeito, e candidato derrotado, Oziel Oliveira (PSD). "O pessoal não ligou muito para aquilo lá [a coletiva]. Fiz a exposição dos áudios que haviam sido gravados - tanto pelo coordenador da campanha como pelo vice-candidato", recortou.

Ele acrescenta que todo o material - que comprovaria que Dourado foi financeiramente cooptado a deixar a chapa - foi apresentado à Polícia Federal e ao Ministério Público Eleitoral. Rangel disse que a instituição já trabalha em um inquérito mas não soube dar mais detalhes.

Na última quinta-feira (26), a polícia federal deflagrou a operação Desertor, para apurar suposto esquema de corrupção eleitoral envolvendo um candidato ao cargo de vice-prefeito da cidade nas últimas eleições. Foram cumpridos oito mandatos de busca e apreensão - quatro deles para aparelhos celulares - e um mandato de prisão preventiva.

"Durante as investigações, que tiveram início no dia 12 do corrente mês, foram revelados indícios de que os envolvidos receberam proposta de dinheiro para abandonarem o partido ao qual pertenciam, com o objetivo de polarizar a disputa eleitoral entre candidatos", informou nota divulgada pela PF. A nota sobre a operação - batizada com o termo militar usado para designar aquele que abandona serviço ou posto sem a permissão de um superior - não cita o nome do alvo em nenhum momento. 

"A gente sabe das pessoas diretamente, mas é ruim a gente citar nomes porque até atrapalha o trabalho da polícia. Lógico que a gente suspeita de um monte de pessoas, né? A polícia inicialmente trabalhava com quatro nomes, agora já desdobrou para mais oito. Isso é uma cadeia até chegar no mandante", afirmou. Rangel diz não acreditar que nenhum eleitor ou empresário tenha sido responsável por realizar os supostos pagamentos por conta própria.

Ele concorria ao Executivo municipal com Oliveira e Marabá, e terminou o pleito em terceiro lugar - com 1% das intenções de votos. Marabá derrotou o atual prefeito com 59,29% das intenções de votos, ante 39,58% alcançados pelo atual prefeito do PSD. Na avaliação de Rangel, o atual prefeito, e candidato derrotado, tinha interesse que o eleitorado ficasse dividido entre outras duas candidaturas.

"O Outro queria a polarização porque sabia que o prefeito estava sofrendo uma rejeição muito grande, um desgaste de vários mandatos. Para ele só interessava a polarização. Assim, um terceiro candidato para ele era ruim. No momento da eleição em que eu estava crescendo e tirando voto desse outro candidato, ele se desesperou para fazer essas investidas", acusou. Para Rangel, a desistência do vice seis dias antes da disputa,e a consequente impugnação de sua chapa, foram fundamental para sua derrocada.

A presença da coligação "Pra Luís Eduardo Decolar" no pleito só foi confirmada na véspera da eleição, na noite do dia 14, sábado. O nome de Rangel foi confirmado nas urnas após o Ministério Público eleitoral não aceitar a renúncia de Carneiro nos termos apresentados. Assim, seu nome permaneceu como o de vice nas urnas. Dourado segue desaparecido desde o anúncio, e Rangel conta que não teve mais qualquer contato com ele.

"Tenho dado alguma assistência a esposa e filha dele, que ainda se encontra muito nervosa e abatida. A gente tem dado algum apoio moral. [...] Não tenho nada contra ele. Acho que é uma pessoa que estava passando por dificuldade financeira. Ele comentou isso com a mulher. Mas, não era uma dificuldade que ele tivesse uma dívida, ou algo do tipo, ao ponto de fazer isso daí. Ele se lançou em uma aventura, e achou que não ia dar em nada", disse.

A esposa de Dourado chegou usar as redes sociais para dizer que não compactuava com a decisão do marido. Ao longo da entrevista, Rangel também lamentou que a política no município tenha se tornado o que ele descreveu como "guerra de poder econômico" e “de facções”. Questionado sobre a possibilidade de voltar a concorrer nas eleições de 2022, ele disse que ainda não sabe, ponderando que pode voltar se for "por uma causa justa". 

"Tenho 60 anos de idade. Já criei meus filhos e família. O patrimônio que eu tenho hoje é suficiente para viver como eu sempre vivi. [...] Não tenho ambição de perseguir um cargo", concluiu. Em 2018, Rangel concorreu ao Senado Federal. Na ocasião, ele conquistou 577.645 votos válidos - o que representa 4,85% da preferência do eleitorado.

Classificação Indicativa: Livre

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