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De volta a Salvador, humorista baiano Jhordan Matheus esgota ingressos: "tô quebrando a p*** toda"

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Comediante se apresenta em novembro com 1200 ingressos esgotados na capital baiana  |   Bnews - Divulgação @ajulianadasfotos

Publicado em 25/10/2021, às 09h14   Brenda Viana


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O ano era 2014, em meio a copa do mundo. Um rastafári começou a publicar vídeos na cozinha de casa, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador. Com uma câmera não muito boa, mas com um humor específico que só os baianos entendiam, Jhordan Matheus conseguiu cativar os internautas e, em 2020, em meio a pandemia, virou a sensação da internet (para a felicidade do leonino de 27 anos que habita nele) com seus Stand Up’s e, principalmente, sobre a música ‘Rita’, do cantor Tierry.

“Teno, batenu. Batenu, teno”. E, literalmente, bateu tão certo que o baiano, que saiu de Salvador com apenas R$ 120 no bolso para conseguir a vida em São Paulo por não ter espaço aqui em sua cidade, além de ter ficado longe dos filhos e da avó, a famosa ‘veia macumbeira’ por sete meses, retorna à capital baiana, em novembro, com sessões de Stand Up totalmente esgotadas, da sua turnê “Textani”.   “Eu acho que ainda não estou conseguindo assimilar tudo, o que é esgotar seis sessões. São mais de 1200 ingressos vendidos!", comenta Jhordan, surpreso, em entrevista ao BNews.

Além de cada porcentagem de reconhecimento, as piadas, que pode ser conhecida como ‘humor negro’, feita por negros e voltada para negros (e para brancos refletirem), também tem seu lugar para levantar lutas e causas sociais para abrir a mente das pessoas, principalmente sobre racismo. Questionado sobre seus stand ups estarem fazendo mudanças, Jhordan é enfático.

“Eu acho que, só pelo fato de eu estar lotando seis sessões em Salvador, de alguma forma estou quebrando a porra toda. Independente de qualquer coisa, só pelo fato de estar lá, já estou incomodando, já estou entortando bico de muitos”, comenta o comediante que, até o fechamento desta matéria, acumula 297 mil seguidores no Instagram e muitos fãs desde a sua participação no filme Capitães da Areia


(Reprodução)

Confira a entrevista na íntegra!

Como é voltar a se apresentar em Salvador depois de tanto tempo, e de cara, esgotar todos os ingressos em seis sessões?


Jhordan Matheus: Na real? Já esgotamos seis sessões em coisa de 30 minutos. É uma sensação muito boa, é uma parada muito... não sei explicar direito, mas é um sentimento muito bom de que o trabalho vem dando certo e tudo aquilo que eu fiz em Salvador, fazendo achou por aí, estou colhendo agora aqui em São Paulo e podendo voltar para casa fazendo isso é gratificante demais. Eu sempre tive uma ideia comigo que eu queria primeiro conquistar a minha família com stand up. Eu queria que minha família acreditasse que com o stand up eu podia mudar a realidade deles, ganhar a minha grana, conquistar o meu espaço e fazer meu nome. Eu conquistei, primeiro, São Paulo, depois eu conquistei a minha quebrada, depois eu conquistei a minha família e, agora, eu tô conquistando Salvador. Espero conquistar a Bahia inteira, fazer shows e mostrar o meu trabalho, mostrar o quão orgulhoso eu sou de ser baiano, de ser soteropolitano, de carregar esse sangue, carregar essa energia que só o baiano tem. Eu acho que ainda não estou conseguindo assimilar tudo o que é esgotar 6 sessões. São mais de 1200 ingressos vendidos. A expectativa é muito grande.

Como você apresentaria quem é Jhordan Matheus? Como foram os primeiros passos na carreira?

Jhordan Matheus: Primeiro hoje me apresentaria como o cara que acredita muito mais no trampo, acredita muito mais no trabalho, acredita que com trabalho você consegue conquistar os seus bagulhos, tudo que eu venho conquistando, não só na minha vida profissional, mas na minha vida pessoal. Isso tudo tem me dado muita coragem e vontade de seguir, me olhando como filho, como pai, como amigo, como qualquer coisa. Eu acho que eu estou me sentindo feliz no momento que eu estou. Apresentaria como um cara que está feliz com o trampo, que está contente, empolgado, está pronto para este gás de subir e representar Salvador. Eu me apresento hoje como ‘maloqueiro ousado’, um cara da favela do Engenho Velho de Brotas, que não está com medo de nada, que quer conquistar o mundo. Então, eu tenho muito orgulho em colocar minhas ideias, de ser um a mais e ser referência para algumas pessoas, eu acho muito legal ser referência.

Em 2018, você começou a ganhar uma boa repercussão com os vídeos na cozinha de casa, falando sobre copa do mundo, bbb, cena esportiva, etc. Ali, você percebeu que tinha algo maior à sua espera?

Jhordan Matheus: Eu acho que quando eu fiz aqueles vídeos, quem me conhece mesmo das antigas no trampo da comédia, quando eu estava fazendo aqueles vídeos, eu fiz na intenção de mostrar um pouco mais as pessoas quem eu era, tentando ser um pouco engraçado para as pessoas acreditarem e colar no meu show. Porque fazer show em Salvador dava sete pessoas, nove pessoas, e eu fiz sete noites de stand up na minha quebrada e as sete noites deram sete pessoas. Eu sei quem são as pessoas até hoje que se foram meus amigos que foram no chão e deram uma força o gás necessário, então eu fiz esses vídeos na cozinha para mostrar um pouco mais de mim, um pouco mais daquele cara que estava ali para as pessoas pensarem ‘dá para ir ali assistir esse cara’. E aí eu botei esses vídeos (no YouTube) com essa intenção, e eu não esperava o tamanho que ia ser hoje, mas eu sempre acreditei que o meu trampo e a me dá resultados e eu ia mostrar mais de mim. O Brasil ia me conhecer, o mundo ia me conhecer. Eu sempre tive essa vontade.

Foi a partir daí, que veio a decisão de morar em São Paulo? Quais foram as maiores dificuldades nessa mudança?

Jhordan Matheus: Foi não ver Salvador acreditando no meu show. E eu entendi, também, pelo fato de não ter alcance e não ter como conseguir chegar nas pessoas, mas eu estava em Salvador e não tava conseguindo fazer nada. Eu tenho uma piada que eu digo que quando eu estava viajando para São Paulo a minha vó falou: ‘você vai para São Paulo, você vai ficar fudido. Eu falei: 'já estou fudido aqui, vou ficar fudido lá também’. Mas eu sabendo que aqui [São Paulo] tinha mais shows, os donos de casa dava mais oportunidade e tudo, então eu falei ‘eu vou para São Paulo, vou tentar lá, vai ser isso aí mesmo’. E chegando em São Paulo consegui fazer mais shows, mas sempre com aquele sentimento de que ‘eu queria estar em Salvador, fazendo show em Salvador com minha galera, minhas referências, falando dos bairros que eu conheço, dos lugares perigosos, como eu queria estar em casa’, mas eu tive que vir para poder ser visto, para poder voltar para casa, para poder fazer o que eu vou fazer hoje que é lotar 6 sessões até aqui. 

As dificuldades foram várias. Eu lembro que eu saí de Salvador com R $120 na mão. Eu lembro que o comediante ‘daí’ de Salvador, Juninho Brandão, me levando no carro, perguntou: ‘Jhordan, você vai para São Paulo com quanto no bolso?’, e eu respondi: ‘com 120 reais’. O primeiro rolê que eu tive que dar eu gastei quase 40, fiquei com um rombo enorme no orçamento que eu tinha, mas eu falei: ‘velho eu estou aqui, vai ser isso. 

Continuei acreditando, continuei fazendo meu trampo. Vários shows de graça durante muito tempo. Fiquei aqui 7 meses sem ver meus filhos e essa foi a minha maior dificuldade, ficar em São Paulo, sem ver minha família, sem ver minha avó, meu pai, meus filhos e isso foi o que mais pegou, mas, também, o que foi mais me deu gás para acreditar. Eu tinha que trabalhar para encurtar essa distância e Graças a Deus eu consegui”. 

Em seu humor, você defende questões raciais de forma engraçada. Você acha que consegue combater, de certa forma, o racismo e o preconceito?

Jhordan Matheus: Eu acho que só pelo fato de eu estar lutando seis sessões em Salvador de alguma forma estou quebrando a porra toda (risos). Independente de qualquer coisa, só pelo fato de estar lá, já estou incomodando, já estou entortando bico de muito de muitos, mas eu estou lá, fazendo. E eu só tô lá porque estou fazendo um bom trabalho, porque eu estou mostrando meu potencial, porque estou fazendo meu trampo. Eu não estou brincando, eu estou trampando. Ninguém pode olhar na minha cara e dizer que isso tudo é sorte. Isso aqui é trabalho. Eu trabalhei para isso, lutei para conquistar esse bagulho, para fazer várias sessões, para fazer show, para colocar a galera no YouTube, assistir o meu canal, para colocar a galera assistindo no Instagram meu conteúdo. Isso foi trampo, isso não foi do nada. 

Mas eu sempre busco colocar no meu texto, de forma escondida, mas que faça você parar e pensar algum momento. Eu acho quando a gente está sério, quando a gente está chateado, quando a gente tem um bloqueio sobre algo, a gente não consegue pensar sobre ele quando a gente está estressado, bloqueado. Mas quando a gente está rindo, a gente está aberto a tudo, entendeu? Dando risada. Então tem essa teoria de que: eu faço a galera ri, eu abro a cabeça delas a ponto de receber qualquer tipo de informação, e quando elas estão rindo, eu vou lá e coloco a minha pitada de "pense aí um pouquinho sobre isso porque eu acho que isso é importante" e eu tenho certeza que rindo, a pessoa guarda a informação e, em algum momento, ela vai rir de novo daquilo e aberta, ela vai pensar sobre aquele algum momento vai fazer alguma diferença. 

Eu já tive shows de chegar um policial para mim e falar que toda vez que vê o negro, principalmente rastafari ou coisa do tipo, ele sempre aborda, E, depois do meu show, ele a repensar sobre isso porque, talvez, o racismo que existia dentro dele estava tão enraizado, que ele não conseguia ver que qualquer um poderia ser um suspeito, que poderia estar com alguma coisa, e hoje ele está parando mais as pessoas que, na cabeça dele, não tem nada. E isso faz com que eu pense que a minha piada, pelo menos, uma pessoa no rolê desse policial foi salva pela minha piada, essa pessoa, de alguma forma, se livrou de alguma coisa.

Muita gente conheceu Jhordan com o vídeo de Rita,  que já ultrapassou 3 milhões de visualizações. Você enxerga que ali foi uma virada em sua carreira?


Jhordan Matheus: O vídeo de Rita hoje, somando todas as visualizações em todas as plataformas a gente já passa a marca de 7 milhões de visualizações de tudo. A música é maravilhosa, eu amo a música, amo Tierry. A música fez a virada da minha carreira, eu de antemão agradeço aqui a Thierry pela moral. Logo que eu lancei o vídeo, eu mandei para ele e tinha umas piadas que tinham mais inseguranças de que algum momento poderia ofender ele ou coisa do tipo, mas ele foi muito tranquilo, muito suave comigo, gostou da piada, gostou do bagulho, apoiou trampo, compartilhou no perfil dele e isso só ajudou mais quando ele compartilhou no perfil dele. O vídeo estava com 800 mil visualizações e, quando ele compartilhou, a gente foi para 1 milhão e 200 mil e depois disso foi só decolando, então de certa forma, foi um cara que me ajudou. A minha carreira mudou, tudo mudou, hoje o esgoto shows.  Brasília, Goiânia, Porto Alegre, Floripa, Blumenau, Canoas, Recife, estamos esgotados em Salvador. São Paulo a gente esgota sempre. 

A minha carreira virou na pandemia. Ela não virou antes, nem depois, ela virou no meio da pandemia. Todo mundo fala que eu fui um alívio para essa pessoa, eu fico honrado e lisonjeado por ouvir isso e por ser essa pessoa, por ter ajudado, de alguma forma, essa pessoa a passar por esse momento difícil que a gente passou. E eu sei que a pandemia matou muita gente, fez muita coisa ruim, mas foi no meio disso tudo, dessa loucura, que minha carreira virou, que tudo aconteceu e eu só agradeço mesmo.

Você é um cara que não abandona as suas raízes, seja visitando sempre ou falando sobre sua comunidade, como fez no Conversa com Bial. Já passou pela cabeça fazer um show aberto ao público no Engenho Velho, local onde você nasceu?

Jhordan Matheus: Eu tenho um show chamado ‘Favela Comedy’ que é um show beneficente que eu faço sempre no Cine Teatro solar Boa Vista. Vinícius, que é o diretor do teatro, ele sempre deu uma moral muito forte no trampo de abrir as portas do teatro para que eu pudesse ter esse gás de dentro da comunidade. Conseguir arrecadar, da última vez que eu fui, 300 brinquedos na quebrada e, esse ano, eu pretendo fazer novamente esse show. Pretendo dar um caminhão de brinquedo, eu quero fazer um show que eu lotar aquele lugar de forma absurda. Eu conto que Salvador cole nesse show e que me deu uma moral e que eu consiga dar muito brinquedo para todo mundo. 

Quero muito fazer esse show, já estamos organizando. Logo menos vamos estar disponibilizando ingressos para vender. Vai ter um valor que a gente vai pegar esse dinheiro e vai reverter, de alguma forma, para as crianças, nem que seja comprando comida, doando alguma coisa. vamos buscar parceiros. Já deixo aqui público, se tiver parceiros que estejam afim, dispostos a participar desse projeto, a ser uma mais, a fazer uma diferença na minha quebrada, no Engenho Velho de Brotas quem tivesse a disposição de um salve porque estou querendo.

Existe a pretensão de fazer algum projeto social na comunidade?

Jhordan Matheus: Eu tenho com certeza, em algum momento da minha vida, não sei como e nem com quem, mas, em algum momento da minha vida, eu vou ter o meu projeto social dentro da quebrada. É um projeto para formação mesmo dos jovens, formar os pivetes da quebrada, descobrir talento, acreditar que na quebrada tem ator, tem médico, tem violonista que tem a porra toda. E eu quero descobrir, no jovem da quebrada, o que ele tem. Eu quero ser essa ponte, essa pessoa. Sempre tive esse plano e não vai ser diferente. Assim que eu puder, que eu tiver esse poder, eu ser o cara de chegar na quebrada, eu vou começar na sala pequena, mas eu vou começar a dar aula, ensinando alguma coisa, a cuidar de pessoa, a cuidar dos pivetes da quebrada, eu quero ser uma mais. 

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