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Caetano Veloso: novos livros lançam luz sobre obra do artista, à beira dos 80 anos

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O cantor e compositor baiano completa 80 anos no próximo domingo, dia 7 de agosto  |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 05/08/2022, às 08h34   Folhapress


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Além de "Outras Palavras: Seis Vezes Caetano", de Tom Cardoso, outros dois livros se unem no desejo de lançar luz sobre Caetano Veloso e sua obra no ano em que o artista celebra oito décadas. "Letras" (Companhia das Letras), organizado por Eucanaã Ferraz, reúne pela primeira vez todas as letras escritas pelo compositor. Já "Lançar Mundos no Mundo: Caetano Veloso e o Brasil" (Fósforo), de Guilherme Wisnik, é um ensaio que procura estabelecer chaves de compreensão para a obra do baiano de Santo Amaro a partir de sua relação com o país.

"A relação de Caetano com o Brasil é o leitmotiv do livro", explica Wisnik. "Para muitos artistas, nascer no Brasil é um acidente, um detalhe. Para Caetano, não. Ele sempre pensou muito em sua obra a partir desse enraizamento."

Wisnik aponta que o Brasil é tema central da produção tropicalista de Caetano e no período do exílio. "De volta ao país, porém, ele se entrega a um momento pleno de viver o presente, 'Odara'. Com a Nova República, ele retoma esse olhar para o país em canções como 'Podres Poderes', mostra o inconformismo com quem avança o sinal vermelho, reflexo da falta de cidadania", diz o ensaísta.

"Não se alinha com o festejo de Chico Buarque em 'Vai Passar'. Pergunta, em 'Vamo Comer', 'quem vai equacionar as pressões do PT, da UDR e fazer dessa vergonha uma nação?'. Escreve canções duras como 'O Cu do Mundo'. Mas agora, em 'Meu Coco', diante dessa monstruosidade que o país virou, ele tira o dedo da ferida e propõe afirmar que o Brasil existe para podermos construí-lo de novo."

"Lançar Mundos no Mundo" é uma reedição revista e atualizada de "Folha Explica: Caetano Veloso" (Publifolha), de 2005. Além de lapidar o texto original, Wisnik acrescentou reflexões referentes aos últimos 17 anos de -muita- atividade do compositor.

"Para um artista mais velho, muitas vezes esse período depois dos 60 anos representa um declínio na capacidade criativa. Mas Caetano se reinventa. Em 2006, lança o disco 'Cê', com uma banda jovem de rock indie", lembra o autor. "Caetano retoma uma potência que talvez estivesse perdendo um pouco. Desde então mantém isso, como ao comandar a retomada artística de Gal em "Recanto". E chega em "Meu Coco", de novo um disco de reinvenção."

Responsável pela organização de "Letra Só", antologia de letras de Caetano lançada em 2003, Eucanaã agora empreende um mergulho mais fundo. "Letras" reúne mais de 300 letras que dão conta de toda a produção do compositor -as gravadas em seus discos, as feitas para trilhas sonoras, as registradas em álbuns de outros intérpretes.

As letras estão organizadas das mais recentes ("Meu Coco", de 2021, é a primeira do livro) às mais antigas (a última é "Sim, Foi Você", gravada por Gal Costa num compacto de 1965). Mais do que simplesmente reuni-las e ordená-las, Eucanaã teve o cuidado de adequá-las ao formato do texto escrito -com a presença de Caetano ao longo de todo o processo.

Por exemplo, ele suprimiu repetições que fazem sentido no canto, mas não impressas. "Mas avaliei cada caso", diz o organizador. "A canção 'Porquê?' me obrigou a achar um caminho. Ela é pura repetição. Mas, como anuncia o gozo, a repetição tem a ver com um crescendo de intensidade. Fiz de um jeito para mostrar isso. Caetano achou ótimo, falou: 'Está parecendo um poema concreto'."

No texto de apresentação, Eucanaã se refere a "Letras" como "um livro de poesia reunida", marcando posição no debate sobre versos de canções serem ou não poesia. "Essa é uma discussão vencida", afirma, categórico. "Esse é um livro de poesia reunida, com todas as especificidades desse tipo de poesia, feita para o canto, para a dança, para a oralidade. E ainda assim, poesia."

Poesia necessária neste 2022, nota o organizador. "Com o Brasil atravessando este momento difícil, o livro teve o sabor de fechamento de algo para o nascimento de uma coisa nova", diz, antes de mencionar o aniversário de Caetano. "Além disso, é um livro que se soma a uma festa. Estou feliz em participar dela."

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