Entrevista

Otto Alencar abre o jogo e revela conversa com Lula sobre eleições na Bahia

Marcos Oliveira/Agência Senado
Senador discutiu com Lula montagem da chapa majoritária  |   Bnews - Divulgação Marcos Oliveira/Agência Senado

Publicado em 18/03/2022, às 06h00   Victor Pinto e Eliezer Santos


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“Me fizeram candidato a governador sem eu ser”. Em entrevista exclusiva ao BNews o senador Otto Alencar (PSD) contou sobre a movimentação das últimas semanas que provocou uma reviravolta na base governista, mas deixou intacto seu projeto de reeleição ao Senado. 

Da definição de Jerônimo Rodrigues como candidato do PT ao governo ao rompimento traumático do PP, Otto revelou suas impressões sobre os desdobramentos que espera ver na disputa eleitoral, em especial ao Senado – quando terá confronto direto com o vice-governador João Leão, de quem era aliado até uma semana atrás. 

O senador revelou ainda detalhes das conversas que teve com o ex-presidente Lula em São Paulo e da insistência [e posterior compreensão] do petista para que ele encabeçasse a cabeça da chapa contra ACM Neto na Bahia. 

Confira:

BNews - O senhor ficou muito quieto durante esse período. Até lá em Brasília a gente chegou a se encontrar, o senhor adotou um voto de silêncio para poder até acompanhar a movimentação, refletir. Mas agora já tem o nome de Jerônimo com martelo batido, seu nome no Senado martelo batido também. Como o senhor está analisando esse novo cenário, está confiante na vitória? 

Otto Alencar - Olha, primeiro, às vezes eu era provocado a falar de um tema que todos sabiam que era conhecido da imprensa aqui da Bahia que eu não seria candidato a governador. Eu sempre me coloquei como candidato a Senado. O Partido dos Trabalhadores escolheu o nome do secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, que tem o meu apoio, apoio do nosso grupo. Vamos caminhar juntos, como sempre estivemos juntos e confiantes porque nós temos todo um acervo de lideranças que vai de vereador ao vice-prefeito, a prefeito, todos eles reunidos, que sem dúvida nenhuma é uma militância muito forte e eu acredito muito nessa militância forte para disputar uma bela eleição. 

Até porque a eleição de dois em dois anos, quando acaba a de prefeito, começa de governador, é um exausto e longo caminho. Terminou a eleição de prefeito em 2020, começou a sucessão do governador Rui Costa, eu sou um crítico disso. Ou o Congresso Nacional faz eleições gerais de quatro em quatro anos, ou cinco em cinco anos, ou nós vamos ter apenas um país acabando a eleição e pensamos já na outra. 

Eu sou favorável que as eleições sejam gerais. Uma eleição de muito tempo, eleição de dois anos, porque quando terminar agora em 2022, em 2023 começa a falar de eleição de prefeito, sucessão aqui de Salvador, sucessão do interior. Isso desgasta muito quem quer trabalhar, cria muita dificuldade. 

BNews - O senhor nunca se colocou oficialmente como um candidato a governador, mas Jaques Wagner naquela fatídica entrevista da segunda-feira colocou que o desenho que ele tinha arquitetado era o senhor na cabeça da chapa, com Rui Costa ao senado. Isso de fato não chegou a ser tratado? Ele não conseguiu lhe convencer ou o senhor já tinha colocado desde o início com Wagner que seria o Senado?

Otto Alencar - Em nenhum momento. Desde o início com Wagner eu disse a ele que não aceitava ser candidato a governador. Eu disse a ele, disse ao presidente Lula em São Paulo. Presidente Lula ainda conversou comigo, ‘olha Alencar, veja aí, reveja’. Eu disse, presidente eu não sou candidato. Quando eu votei em São Paulo na quarta-feira, na segunda-feira seguinte o presidente Lula me ligou e disse textualmente ‘olha eu vi que você ficou constrangido porque você não quer ser candidato. Se é candidato a senador, eu vou lhe apoiar. Eu disse permanentemente a Wagner, disse a Rui, fui na Seplan, naquele dia que você foi me entrevistar, e disse a João Leão que eu não era candidato a governador, era candidato a senador, disse a ele lá na vista de Jabes, do deputado Cacá Leão. Então eu fui honesto com o meu pensamento, com meu projeto político a vida inteira. Não declinei em nenhum momento. Só que nesse período me fizeram candidato a governador sem eu ser. Você não pode ter um projeto político e, de repente, mudar dele sem se preparar para exercer, primeiro, a liderança de uma candidatura ao governo, que não é tão fácil e depois ir para o governo sem ter essa ideia de voltar a ser Exeecutivo.

BNews - O senhor esperava esse rompimento do PP com a base do governo?

Otto Alencar - Sinceramente não, mas não vou avaliar o porquê do acontecimento. Cada um tem o seu juízo e eu respeito, a sua consciência, aquilo que lhe é mais doloroso ou mais prazeroso, dentro de uma estrutura que existia. Eu não vou de jeito nenhum fazer essa análise porque não me cabe, isso cabe exatamente aos membros do Partido Progressista. Eu falo Partido Progressista, não falo pessoas porque a entidade tomou a decisão de forma praticamente, a executiva total tomou essa decisão.

BNews - PSD e PP tem densidade paritária no interior. Tem muita gente dizendo que vai ser mais divertido acompanhar a disputada do Senado do que do governo do estado. O senhor está pronto para essa disputa?

Otto Alencar - Eu me preparei para isso. Quando me preparo para disputar um cargo, você nunca tem possibilidade de escolher o adversário. Disputei essa eleição em 2014 contra o ministro Geddel, contra doutora Eliana Calmon e outros dois candidatos, que não me passam o nome agora. Não dá para você escolher o adversário e também não dá para temer absoluta nenhum, nem ter receio de absolutamente nenhum. Eu vou com aquilo que eu acho que é correto defender, o meu trabalho ao longo dos anos que eu sou político, ao longo dos anos que eu sou senador da República e também o meu trabalho que eu fiz ao longo de tantos anos como secretário três vezes, governador em 2002, e mostrar o que é que eu penso das coisas do momento. Defender uma política que não seja a atual política do governo federal, não é que eu seja anti-Bolsonaro, anti-bolsonarista. Eu sou contra a política econômica do governo, a política de saúde que levou e ceifou quase 700 mil vidas aí pela pandemia. Sou contra a política de discriminação da Bahia, a Bahia sem investimento nenhum. Não tem uma obra nova iniciada na Bahia. Eu desafio o presidente da República a mostrar uma obra que ele iniciou na Bahia, concluiu algumas, não iniciou nenhuma obra na Bahia. Fez o cerco no governador Rui Costa. Pelas crises recorrentes que aconteceram, todas gestadas pelo presidente da República, de e agredir jornalista, como agrediu várias vezes, agredir as mulheres, ameaçar pessoas, ameaçar a democracia no 7 de setembro de 2020. Então eu não sou contra essa política, eu fiz oposição responsável o tempo inteiro a Bolsonaro. E aqueles que apoiaram o Bolsonaro precisam agora botar a cara como apoiadores de Bolsonaro. Muitos estão aí e vão ter que sustentar esse legado do Bolsonaro. Eu vou sustentar o legado aqui do governador Rui Costa, do ex-governador Jaques Wagner, nesse período que nós estamos juntos, e o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eu vejo meu país com muita tristeza agora no mapa da fome desde o fim 2017. Saiu do mapa da fome em 2014, entrou em 2017 e está até hoje, o desemprego e milhões e milhões de brasileiros com carestia, a inflação da cesta básica altíssima, os juros de dez 10.75%. Consegui com o Banco Central, com o Ministério da Economia, talvez uma das coisas mais importantes que conseguimos agora, que não se alterasse os encargos financeiros dos contratos assinados com agronegócio, com a indústria e com os serviços. Então, quem assinou contrato de financiamento de 3%, ia passar para 10.75%, O Banco CentraL, através do nosso trabalho da Comissão de Assuntos Econômicos, editou uma portaria mantendo os encargos financeiros dia do contrato, e não com a revisão do aumento dos juros. Com dólar alto, com bolsa oscilando, eu sou um crítico disso. 

BNews - O senhor marca território no sentido de dizer que é oposição ao governo Bolsonaro e também ao dizer que apoia Lula e vai ser um defensor da candidatura dele na Bahia. Mas ao mesmo tempo João Leão também faz esse discurso de que quer apoiar Lula. Isso não lhe incomoda? 

Otto Alencar - Absolutamente. Não incomoda em nada. Se é uma coisa que não me não me abala é isso aí. Não sou apoiador recente, não sou apoiador desde o ano passado, eu votei contra o impeachment de Dilma. Não estou apoiando agora. Eu nunca fui circunstancial, nunca fui isso ou aquilo eu conforme os fatos. Então eu venho já na trajetória de aliança com o legado de Lula há muito tempo. Como votei contra a cassação da Dilma, como votei contra a reforma da Previdência, o PP não votou contra, votou a favor. Votei contra a reforma trabalhista, votei contra uma série de encaminhamentos do atual governo contra os interesses dos trabalhadores. Então eu não estou apoiando o Lula porque é o Lula... estou apoiando o Lula de ontem, de anteontem, no governo dele, da Dilma. Não tem porque eu achar que um novo apoio, um recente apoio vai me surpreender, de jeito nenhum. 

BNews - Como está a organização do PSD para a eleição proporcional? 

Otto Alencar - O PSD tem um grupo forte na proporcional, tanto na estadual tanto na federal, vamos atuar para ajudar e creio que vamos ter um bom desempenho nas eleições desse. A minha posição é realista. Vamos ter bom desempenho na proporcional, tenho conversado com todos os candidatos, que têm mandato, que não têm mandato, que são pré-candidatos e acredito que o PSD vai ter um bom desempenho.  

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