Esporte

Presidente do Bahia fala sobre se assumir gay em meio homofóbico: 'Entrei em depressão e pensei em desistir do futebol'

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Emerson Ferretti, que preside o Bahia, ainda revelou que muitos jogadores 'simulam vidas heterossexuais'  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Redes sociais

Publicado em 03/03/2024, às 21h30   Cadastrado por Victória Valentina


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O primeiro presidente abertamente gay de um grande clube de futebol brasileiro, Emerson Ferretti, do Bahia, desabafou sobre as dificuldades que enfrentou no esporte ao assumir sua homossexualidade. Segundo ele, diversos jogadores simulam vidas heterossexuais para evitar discriminação. 

"É claro que há muitos homens gays no futebol, mas isso é ignorado. Namoradas e até mulheres de fachada são mais comuns do que se imagina. Eu realmente entendo quem recorre a esse teatro. Eles não querem se tornar o centro das atenções, nem serem prejudicados à isso", disse em depoimento à Veja.

Segundo o ex-goleiro, quando ele entrou para a escolinha do Grêmio, aos oito anos, percebeu que tinha um jeito afeminado e que, por conta disso, precisaria se esconder se quisesse crescer no futebol. 

"Não havia ninguém com quem eu pudesse conversar e compartilhar minha aflição. Só esperava que, em algum momento, essa atração por pessoas do mesmo gênero simplesmente desaparecesse, mas claro que isso nunca aconteceu. Foram décadas de solidão, inserido em um ambiente que não tem nenhum pudor em se demonstrar machista e cheio de preconceitos. Ao mesmo tempo, não queria abrir mão do meu sonho de ser goleiro. Morria de medo de ser descoberto. Só fui ter coragem para me relacionar com outro homem depois dos 21 anos. Escondido, evidentemente", relatou.

Gaúcho de Porto Alegre, Ferretti relembrou que, aos 20 anos, quando conquistou a titularidade no Grêmio, "a fama só fez a pressão aumentar".

"Em diversos momentos, entrei em depressão e pensei em desistir do futebol. Por mais que tentasse preservar minha intimidade, as fofocas corriam soltas pela cidade. Nunca apareci rodeado por mulheres, nos bares e casas noturnas, nem ao lado de namoradas, como costumam fazer os jogadores héteros. Meus próprios companheiros de equipe começaram a desconfiar de mim e a soltar piadinhas no vestiário", disse.

"Já nos gramados, precisei de muita inteligência emocional para lidar com comentários de adversários e gritos homofóbicos da torcida, algo que ainda é totalmente naturalizado e corriqueiro nos estádios. A solução foi manter a atenção e me concentrar em obter o melhor desempenho entre todos na minha função. Se fosse bem-sucedido, talvez não houvesse margem para a discriminação."

O presidente do Tricolor de Aço, assumido desde 2022, disse só se sentiu saindo do armário "de verdade" no pré-carnaval deste ano, quando foi fotografado ao lado de um homem, aos 52 anos de idade.

Emerson Ferretti afirmou ainda que foi muito bem acolhido no Bahia e que falar sobre o assunto é um jeito de inspirar jovens homossexuais que gostam de futebol. 

"Sinto que posso acabar com uma série de estereótipos, como o de que homossexuais não têm talento com a bola. Fui surpreendentemente acolhido nessa missão. No Bahia, clube do qual sou presidente, não ouvi nenhum comentário negativo ou piada. É um clube superconsciente, que faz ações afirmativas junto a sua torcida. Deixar de encenar um personagem depois de tanto tempo foi libertador. Doa a quem doer, este é o Emerson de verdade, que nunca mais vai ter de se esconder", finalizou.

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