Polícia

Repórter do jornal O Estado de S. Paulo é presa em Washington

Imagem Repórter do jornal O Estado de S. Paulo é presa em Washington
Os policiais a acusaram de invadir a Universidade de Yale, uma das mais respeitadas dos EUA   |   Bnews - Divulgação

Publicado em 29/09/2013, às 09h51   Redação Bocão News (twitter: @bocaonews)



A correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Washington, Cláudia Trevisan, foi detida nesta sexta-feira, 27, na Universidade Yale, uma das mais respeitadas dos EUA, ao aguardar a saída do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, de uma conferência no local. Conforme matéria do Estadão na íntegra.

A jornalista foi algemada e por quase cinco horas mantida incomunicável dentro de um carro policial e em uma cela do Departamento de Polícia da universidade. Sua liberação ocorreu apenas depois de sua autuação por “transgressão criminosa”.

O caso foi acompanhado pelo Itamaraty, em Brasília, e especialmente pela Embaixada brasileira em Washington e pelo consulado em Hartford, Connecticut, que colocou à disposição da jornalista seu apoio jurídico. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, estava em Nova York e foi informado por assessores sobre o incidente. Claudia, pouco antes de ser presa, conseguiu informar um diplomata da Embaixada brasileira por telefone.

Claudia Trevisan é correspondente do jornal em Washington desde o fim de agosto. Nos últimos cinco anos, havia atuado em Pequim, na China, onde foi também diretora da Associação de Correspondentes Estrangeiros. Por outros veículos de comunicação brasileiros, havia trabalhado também como correspondente em Buenos Aires e em Pequim. “Eu não invadi nenhum lugar”, declarou ela, ao mostrar-se indignada pela acusação policial e por sua prisão.

“Passei cinco anos na China, viajei pela Coreia do Norte e por Mianmar e não me aconteceu nada remotamente parecido com o que passei na Universidade Yale”, completou nesta sexta, ainda abalada pelo episódio.

A jornalista havia sido destacada para cobrir a visita do ministro Joaquim Barbosa à Universidade Yale, onde ele participaria do Seminário Constitucionalismo Global 2013. Ela trocara e-mails com a assessora de imprensa da Escola de Direito da universidade, Janet Conroy, que lhe informara ser o evento fechado à imprensa. Claudia aquiesceu, mas disse que, por dever de ofício, esperaria pelo ministro do lado de fora do Woolsey Hall, o auditório onde aconteceria o seminário. Ela também havia conversado previamente, por telefone celular, com o próprio ministro Barbosa, a quem solicitou uma entrevista. Barbosa disse que não estava disposto a falar com a imprensa. Claudia, então, informou ao presidente do STF que o aguardaria e o abordaria do lado de fora do prédio.

Prisão
O prédio é percorrido constantemente por estudantes e funcionários da universidade e por turistas. Suas portas estavam abertas às 14h30 de quinta-feira, 26. Claudia ingressou e, na tentativa de confirmar se o evento se daria ali, dirigiu-se ao policial DeJesus, em guarda no primeiro andar. Ele pediu para Claudia acompanhá-lo.

No piso térreo do prédio, a pedido do policial, Claudia forneceu seu endereço em Washington, telefone e passaporte. Ao alcançarem a calçada, do lado de fora do prédio, DeJesus recusou-se a devolver seu documento. “Nós sabemos quem você é. Você é uma repórter, temos sua foto. Você foi avisada muitas vezes de que não poderia vir aqui”, disse o policial, segundo relato de Claudia, para em seguida agregar que ela seria presa.

O processo de prisão teve uma sequência não usual nos EUA. Os argumentos de Claudia não foram considerados pelo policial. Na calçada, ele a algemou com as mãos nas costas e a prendeu dentro do carro policial sem a prévia leitura dos seus direitos. Ela foi mantida ali por uma hora, até que um funcionário do gabinete do reitor da Escola de Direito o autorizou a conduzi-la à delegacia da universidade, em outro carro, apropriado para o transporte de criminosos.

Na delegacia, Claudia foi revistada e somente teve garantido seu direito a um telefonema depois de quase quatro horas de prisão, às 21h20. O chefe de polícia, Ronnell A. Higgins, registrou a acusação de “transgressão criminosa”. Ela deverá se apresentar no próximo dia 4 diante de um juiz de New Haven.

O jornal O Estado de S. Paulo manifestou sua indignação à Escola de Direito da Universidade Yale pela prisão arbitrária de sua correspondente em Washington. Solicitou também respostas a cinco perguntas pontuais sobre o episódio e seu acesso às imagens de câmeras de segurança do prédio de Woolsey Hall, para comprovar o fato de Claudia ter obedecido às instruções do policial. A resposta dessa instituição está sendo aguardada.

Fotos: Divulgação
Nota originalmente postada às 11h do dia 28

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp