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Ex-funcionária desabafa após sofrer racismo em loja de vestuário esportivo de luxo na BA: 'negra cor de disco'

Imagem Ex-funcionária desabafa após sofrer racismo em loja de vestuário esportivo de luxo na BA: 'negra cor de disco'
Falas racistas supostamente ditas pela gerente da loja foram gravadas no último dia 8 de setembro  |   Bnews - Divulgação
Pedro Moraes

por Pedro Moraes

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Publicado em 04/10/2023, às 14h12 - Atualizado às 19h09


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Relação com efeitos negativos e alvo de ataque racista. Durante cerca de um ano, entre dezembro de 2021 a outubro de 2022, Vanessa Ribeiro, de 26 anos, construiu uma carreira digna de respeito dentro de uma loja de vestuário, localizada na Avenida Antônio carlos Magalhães, em Praia do Forte, na cidade de Mata de São João, no estado da Bahia. Mas, nem mesmo a responsabilidade e o comprometimento no trabalho que exerceu, a isentou de virar alvo de uma gerente do estabelecimento comercial.

A ex-funcionária da Track&Field alega ter sido vítima de racismo por parte de Patrícia Bellandi Lima. Em uma gravação, registrada no último dia 8 de setembro, obtida pelo BNews, a mulher acusada como agressora conversa com outra ex-colaboradora, identificada pelo prenome de Isabele. 

Em um trecho do áudio, a gerente da loja chama Vanessa de “negra cor de disco” e “tifunzinha”.

“Vanessa por exemplo, aquele cabelo, ela é negra, cor de disco. Se ela alisa o cabelo, fica muito artificial, porque ela é tifunzinha. Se ela botasse o cabelo cacheado, natural, ia ficar bonita. Então força muito, porque eu nunca vi negro ter cabelo liso”, dispara a gestora.Posteriormente, a mulher cita outra pessoa, que não teve a identidade divulgada.

Vanessa Ribeiro, vítima de racismo. Foto: Montagem/BNews//Reprodução/Instagram @nessaribeeiroo_

“E a outra eu acho que deveria diminuir um pouco. Elas poderiam assumir, a outra assumir menos, e a outra assumir total o que ela é (...) Fica aquele negócio de negro, que parece que passou um ferro (...) Feche os olhos e pense, ela com cabelo natural, com cachinhos, não é bonito? A impressão que dá, por ela ser muito escura, que pegou aqueles ferro e passou”, acrescentou Patrícia Bellandi no áudio.

A gerente, ainda conforme o áudio, descreve o cabelo da vítima como “bombril”.

“Se eu pegar uma progressiva daquela e passar no seu ou no meu, ninguém vai reparar muito, mas pela cor da pessoa. Se ela assumisse a cor dela, o cabelo dela ficaria mais bonito, porque ela não é feia. Tem que dar um jeito nela. Eu vou dizer isso a ela: ‘Menina, cabelo de bombril’? Ó, não pode falar isso. ‘Deixe eu falar uma coisa. Esse cabelo seu tem como botar um cremezinho’”, finalizou.

Em entrevista à reportagem, Vanessa Ribeiro afirmou que o caso de racismo ocorreu depois dela ser demitida por Patrícia e por um supervisor. “Eu não tenho ideia [do motivo das falas]. [Pode ser] inveja, incômodo dela, alguma coisa que não sei explicar de fato. Ela falava muitas coisas bonitas na minha frente, por trás era só tristeza”, declara. 

Conflitos

O convívio entre Patrícia e Vanessa também ficou marcado, durante o tempo de trabalho na Track&Field, por discussões, sobretudo por, segundo a vítima, presenciar coisas erradas e rebater. 

Ainda conforme a vítima, o assédio moral e a perseguição eram constantes dentro da loja. “Vinha sofrendo muito com ela, já presenciei atos racistas lá dentro com clientes. Levava para o supervisor, ele cobria muito os erros dela e não levava para os donos”, comenta. 

Questionada sobre a demissão, Patrícia ressalta não saber o motivo. “Sempre cumpri com tudo lá dentro, até hoje não sei porque [fui demitida]”, garante. 

A Track&Field foi procurada pela reportagem do BNews e informou que desde que tomou ciência do episódio ocorrido na Loja da Praia do Forte, envolvendo uma de suas funcionárias e uma ex-colaboradora, que já não trabalha na loja há mais de um ano, realizou uma sindicância interna para apuração do fato, que seguiu com o desligamento da funcionária.

"Somos uma marca de bem-estar e por isso buscamos promover o melhor ambiente para nossos clientes, colaboradores e parceiros. Este tipo de situação fere os valores da marca que é veemente contra qualquer tipo de discriminação. Com isso, seguiremos prestando o apoio necessário a todas as partes envolvidas e reforçando a importância do respeito às pessoas", diz trecho da nota.

Do mesmo modo, a Polícia Civil foi procurada. O órgão disse que a Delegacia de Proteção Ambiental de Praia do Forte apura a denúncia registrada na segunda-feira (2). A suposta autora foi intimada e será interrogada. A investigação policial está em fase inicial.







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