Manifestação

Estudantes do colégio Thales de Azevedo protestam contra intimação sofrida por professora de Filosofia

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Publicado em 19/11/2021, às 13h35   Redação BNews


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Os estudantes do Colégio Estadual Thales de Azevedo realizaram uma manifestação, nesta sexta-feira (19), contra a intimação sofrida por uma professora de Filosofia da instituição de ensino. “Ela não é uma professora desrespeitosa, sempre foi dinâmica, sempre quis que a gente pensasse”, disse uma aluna em defesa da docente.  

Outra estudante ainda relatou como é o comportamento da aluna, que fez a denúncia. “Essa aluna já passou por três salas e essa desavença já vem há muito tempo, a professora sempre manteve respeito e ela sempre gritando”, contou. 

Vale ressaltar que a professora virou alvo de denúncia por parte da discente após ser acusada de ensinar conteúdo de cunho “esquerdista” e “doutrinação feminista”. Na ocasião, ela precisou deixar a sala de aula e prestar depoimento à polícia. 

Todavia, a garota, na verdade, teria procurado a polícia para denunciar que estava sendo hostilizada pelos colegas de classe por ter opiniões políticas diferentes dos demais. Por causa disso, ela supostamente era excluída durante as aulas com o consentimento da profissional da educação. 

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Pelo menos essa foi a versão apresentada pela garota e a mãe quando procuraram na terça-feira (16) a Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca), onde foi registrado um boletim de ocorrência. A informação foi confirmada pela Polícia Civil.

Posicionamento do Thales de Azevedo e da APLB

Após a situação, o colégio emitiu uma nota de repúdio, em que afirma que a intimação “censura o exercício laboral, afronta a todo o corpo docente e gestão no sentido de interferir na autonomia da instituição em colocar em prática seu projeto de formação humana, crítica, livre, socialmente ativa e responsável”. 

“Essa situação, portanto, viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394) e do Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005)”, segue o comunicado. 

Sindicato dos Professores da Bahia (APLB) também se manifestou sobre o caso e afirmou que o departamento jurídico da entidade foi acionado para tratar da intimação.  

“O departamento jurídico da APLB foi acionado atendendo o apelo de um grupo de professores do referido colégio que esteve na sede do Sindicato e relatou observar atitudes inamistosas e de perseguição de uma determinada estudante contra uma das professoras de Filosofia por conta da mesma apresentar temática nas aulas referentes a questões de gênero, racismo, assédio, machismo, diversidade, entre outras”, diz a nota.

Ainda de acordo com a APLB, a professora ficou emocionalmente abalada com a notícia da intimação e precisou dar entrada em uma unidade de saúde. 

“A comunidade escolar foi tomada de surpresa ao tomar conhecimento de que a referida aluna e sua genitora apresentou notícia-crime na DERCCA contra a professora de Filosofia. Após receber a intimação, a professora encontra-se extremamente abalada emocionalmente, necessitando inclusive de ser hospitalizada para atendimento médico de urgência. Motivo pelo qual estamos preservando sua identidade”, informou a entidade. 

“Rui Oliveira esteve nesta quinta-feira (18) na escola Thales de Azevedo, com um representante do Jurídico, José Lucas Sobrinho e demais diretores, como João Santana e Delsuc Machado, para apurar as denúncias e apoiar os docentes. Ficou estabelecido que a unidade escolar irá elaborar um documento que a APLB divulgará amplamente na imprensa e para a Secretaria de Educação estadual. Ainda segundo informações, no mês de agosto foi realizado um seminário online pela escola e após o evento um grupo de estudantes e seus responsáveis expediram uma nota atacando os professores e palestrantes. Em outra ocasião, durante uma aula remota da disciplina de Inglês, a mãe de uma estudante, a mesma que deu entrada na queixa contra a professora de Filosofia, invadiu o espaço da aula online para inquirir e exigir explicações sobre a temática, que segundo ela seria inadequada por se tratar de feminismo”, completa o comunicado. 

Confira na íntegra a nota do Colégio Estadual Thales de Azevedo:

A gestão do Colégio Estadual Thales de Azevedo vem através desta nota, manifestar profundo repúdio a intimação recebida pela nossa docente, em seu local de trabalho, no dia 16/11/2021, para comparecer à Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente em razão desta ferir a liberdade de cátedra e a autonomia pedagógica princípios constitucionais fundamentais. Infelizmente, as alegações de que os conteúdos curriculares das Ciências Humanas são de cunho “esquerdista” e os conteúdos das Linguagens são “de doutrinação feminista”, têm provocado o enviesamento dos conhecimentos historicamente construídos e dos fenômenos sociais, em silenciamento dos docentes!

A intimação policial direcionada a professora censura o seu exercício laboral, afronta a todo o corpo docente e gestão no sentido de interferir na autonomia da instituição em colocar em prática seu projeto de formação humana, crítica, livre, socialmente ativa e responsável. 

Essa situação, portanto, viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394) e do Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005).

A gestão escolar se manifesta, portanto, na defesa irrestrita da democracia e a reconhece como ação prática e não teórica. Desse modo, reforça que a missão, visão e valores do Colégio Estadual Thales de Azevedo – unidade básica de oferta pública de educação - se ampara nos princípios constitucionais de garantia de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, para o pleno desenvolvimento dos seus estudantes.

Nesse sentido, a equipe gestora sentindo a ameaça que paira sobre o fazer docente,
atravessada pela angustiante insegurança e a indignação de toda comunidade escolar, solicita o apoio de todas as entidades e movimentos sociais que militam em defesa da educação pública, gratuita, laica e de qualidade socialmente referenciada para ampliar a nossa voz na garantia da autonomia pedagógica fundamental para a ambiência de liberdade de expressão, liberdade de cátedra, livre debate sócio-político-cultural, com respeito ao pluralismo de ideias e aos direitos humanos.

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