Política

Sátira deve ocorrer de modo responsável, diz vereadora alvo do Porta dos Fundos

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No filmete de 2min43s, Yollanda conversa com o filho, que não aparece no vídeo, sobre o fato de ter sido eleita, de forma surpreendente  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Instagram @indiarabarbosa.novo

Publicado em 23/11/2020, às 19h43   Fábio Zanini/Folhapress


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A auditora fiscal Indiara Barbosa, 37, do Partido Novo, imaginou que teria algum sossego ao fim de uma campanha em que foi a vereadora mais votada em Curitiba (PR), com mais de 12 mil votos.

Desde domingo (22), no entanto, sua rotina tem sido mais atribulada que nos movimentados dias correndo atrás de votos. Indiara tornou-se personagem central de um vídeo do grupo Porta dos Fundos, que gerou reações iradas sobretudo da direita (mas não apenas) nas redes sociais.

O vídeo mostra uma personagem fictícia de nome Yollanda Ramos. No esquete, ela diz ser a vereadora mais votada de Curitiba e filiada ao Novo, o que gerou identificação imediata com Indiara.

No filmete de 2min43s, Yollanda conversa com o filho, que não aparece no vídeo, sobre o fato de ter sido eleita, de forma surpreendente. Tudo teria sido decorrência de favores sexuais.

"Eu fui numa festa do Partido Novo, fiquei doidona e acabei cativando um dos presentes. E ele quis lançar minha candidatura", diz a personagem.

Sua expressiva votação, diz Yollanda, se deveu ao fato de ter vazado nudes em redes sociais nos dias anteriores à eleição. As fotos teriam sido especialmente populares entre adeptos de encontros de trocas de casais.

"Aparentemente a comunidade de swing do Paraná é maior do que eu imaginava", diz ela, que anuncia como um de seus projetos conceder bolsa a garotas de programa. Animada, Yollanda já faz planos para disputar o governo do Paraná em 2022.

Tão logo o vídeo foi ao ar, começaram manifestações de repúdio à sátira e apoio a Indiara. Muitos apontaram hipocrisia de um canal que tem no seu comando pessoas identificadas com a esquerda, geralmente bastante ciosa com relação a episódios de machismo.

Manifestaram-se em defesa da vereadora eleita, por exemplo, a deputada estadual por São Paulo Janaína Paschoal (PSL), o fundador do Novo, João Amoêdo, o grupo liberal Livres e o MBL (Movimento Brasil Livre). Mesmo influenciadores digitais que não são de direita (muito pelo contrário), como Felipe Neto, criticaram a peça. A deputada do PDT, Tabata Amaral (SP) foi outra a se solidarizar.

Em conversa com a reportagem, a vereadora eleita afirmou que a sátira é uma crítica às mulheres que participam da política. "É a primeira vez que uma mulher é a mais votada na cidade. É claro que tem uma relação."

Mãe de uma criança de 7 anos, ela disse que passou a se preocupar ao ver alguns comentários ao vídeo postados em redes sociais. "Você começa a ver pessoas aplaudindo, gente perguntando se teve realmente vazamento de nudes na minha campanha", afirma.

"O Porta dos Fundos tem milhões de seguidores, e a grande maioria não me conhece. Mas quando dizem que é a vereadora mais votada de Curitiba, e do Partido Novo, todo mundo vai associar a mim", afirma.

No final do ano passado, o Porta dos Fundos atraiu a fúria de grupos conservadores em razão de seu especial de Natal, no qual caracterizava Jesus Cristo como gay. Sua sede chegou a ser alvo de um atentado no Rio de Janeiro.
Indiara, agora, diz que recebeu sugestões de amigos para processar o grupo, mas diz não ter tomado essa decisão ainda. Ela diz que poderia ficar satisfeita se houvesse um esclarecimento por parte do Porta dos Fundos, ou uma edição do vídeo para desfazer a relação com seu perfil.

O Novo, partido da vereadora eleita, tem como bandeira as liberdades individuais, o que inclui a de expressão. Indiara diz que não está colocando em questão esse direito. "Eles são livres para satirizar, mas eu sou livre para não concordar."

Ela afirma que mesmo uma liberal não acredita que o direito de manifestação seja absoluto. "A gente acredita que a liberdade tem de ser exercida com responsabilidade", afirma.

Após a repercussão, o Porta dos Fundos negou que o vídeo seja uma parodia destinada à vereadora.
Indiara, no entanto, não se convence com a argumentação. "Entendi que é uma personagem, é uma sátira. O problema é que deram as características específicas de uma pessoa, que são as minhas características", afirma.

Classificação Indicativa: Livre

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