Política

Brasil tem que debater regulamentação das drogas sem preconceito "ideológico e religioso", diz Rui Costa

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Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 29/09/2021, às 11h56   Luiz Felipe Fernandez


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Governador de um dos estados com maior índice de violência do país, o governador Rui Costa (PT) afirmou nesta quarta-feira (27) que o Brasil precisa debater a regulamentação das drogas sem um viés "ideológico e religioso", que normalmente travam as discussões. Para além do prejuízo causado pelo próprio uso, lembra o governador, é necessário criar uma alternativa ao que hoje só fomenta a briga de traficantes pelo domínio do mercado.

"Acho que o Brasil precisa discutir sim, sem demagogia, sem preconceito ideológico, religioso, o que fazer com que esse consumo de drogas, para além do mal à saúde, não provoque tantas mortes. Acho sim que chegou o momento, é hora do país discutir isso. Nos tornamos um dos países com o maior número de consumidores e não vamos parar o consumo instantaneamente. Com o acesso ao mercado ilegal, na ilegalidade os grupos se matam e matam inocentes para controlar esse comércio", argumentou o governador em resposta ao BNews.

O tema é defendido pelo secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino, que afirmou que a medida poderia "quebrar as pernas do crime organizado". Recentemente, ele admitiu a dificuldade de evitar a violência causada pela guerra às drogas, ao responder sobre a morte de policiais em 2021.

O debate também precisa envolver diferentes esferas da sociedade civil, alerta o governador, desde a Justiça, passando pela imprensa e também pelas "igrejas".

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"Chegou a hora de discutir isso claramente, sem nenhum preconceito, se não a gente faz de conta que não está vendo", acrescentou.

Com a organização do tráfico de drogas desde o início da proibição de substâncias como a maconha, nos anos 1930, hoje a prática se tornou um dos negócios mais rentáveis, o que faz com que tentem cooptar não somente os mais "violentos", como também os mais capacitados para trabalhar, por exemplo, na contabilidade.

"Se você ouvir um diretor de escola, vai ouvir que o tráfico hoje não vai recrutar os mais violentos, baderneiros, eles vão procurar os alunos mais bem resolvidos, mais calmos, com aprendizagem melhor, para ir para contabilidade, pois esses não ameaçam os negócios", conta o governador, que cita ainda os motoristas que carregam as drogas, que muitas vezes nem portam armas mas acabam sendo os primeiros a serem mortos.

CARTELIZAÇÃO

Estados como São Paulo apresentam uma taxa de homicídios muito menor do que a Bahia são o resultado de já ter alcançado a "cartelização" do mercado de drogas, com o domínio exercido por uma facção criminosa, diferente do que ocorre na maior parte do Nordeste.

Na Bahia, duas principais facções, ligadas aos dois principais grupos que atuam em todo o Brasil, disputam o território e o controle do mercado a cada esquina. Em um mesmo bairro, muitas vezes, há diferentes comandos, o que resulta em uma violência ainda maior.

"Infelizmente, onde tem menos mortes, onde tem pacto, não tem disputa pelas drogas. Não é que não tenha consumo, controle das comunidades. Uma facção só controla tudo. Lugares como Nordeste, Centro-Oeste, não há comando único e há disputa de facções, então o número de mortes é muito grande", lamenta.

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