Política

Em nova sigla, ACM Neto se blinda de cobrança por alinhamento a Bolsonaro

Dinaldo Silva/BNews
Bnews - Divulgação Dinaldo Silva/BNews

Publicado em 01/10/2021, às 13h01   Luiz Felipe Fernandez


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Na tentativa de se recolocar nacionalmente e superar o desgaste com a eleição à presidência na Câmara dos Deputados, que gerou uma crise interna no DEM, o ainda presidente nacional da sigla encontra na secretaria-executiva do novo partido da fusão com o PSL, o União Brasil, um lugar para se blindar das cobranças por qualquer alinhamento ao governo Bolsonaro.

Em conversa com o BNews, o analista político Rodrigo Daniel diz que esta pode ser uma forma do ex-prefeito de Salvador evitar a exposição nos meses que antecedem a sua campanha para o Governo da Bahia, já que ele não se beneficiaria com a eventual nacionalização do debate eleitoral local.

"Bívar assume o presidente do partido que é maior, mas há uma segunda intenção, pois ele não quer nacionalizar essa eleição. Ele sabe que corre um grande risco de perder para Wagner com a força política de Lula. Se ele deixa a presidência do partido, ele não precisa responder publicamente sobre qualquer apoio a Bolsonaro", pondera o jornalista, que lembra o último pleito em que o ex-governador Antônio Carlos Magalhães tentou nacionalizar o debate, em 2006, mas Paulo Souto perdeu para Jaques Wagner, justamente com a ajuda da popularidade de Lula que foi reeleito naquela ocasião.

Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia, Rodrigo Daniel explica que Neto terá o controle do fundo partidário, que tende a ser o maior entre os partidos com a fusão, mas, ao mesmo tempo ,se livra de qualquer "entrave" com o presidente da República.

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"Até então, a sua única agenda era ser presidente do partido, não tinha como se esquivar. Desde a eleição da Câmara, quando rompeu com Rodrigo Maia, trouxe para ele um desgaste nacional e regional. Ele deixando a presidência evita esse tipo de entrave e nacionalizar a eleição na Bahia, que é o seu principal objetivo", complementa.

Sobre o futuro dos correligionários e o entra e sai de quadros, o analista acredita que os mais identificados com Bolsonaro devem sair da nova sigla, mas que o cenário ainda é nebuloso sem uma decisão do presidente sobre qual partido irá se filiar. 

Na prática, situações como a do vereador de Salvador, Alexandre Aleluia, podem ser resolvidas com mais agilidade, já que uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abre margem para que quem tiver mandato em um partido que se uniu a outro, pode se filiar a outra legenda sem perder o mandato. Mesmo com algumas baixas, Rodrigo Daniel destaca que o União Brasil pode atrair deputados com mandatos em busca de se reeleger com a ajuda de um fundo partidário generoso.

Na visão do professor de Ciência Política da Ufba, Joviniano Neto, o que motivou ACM Neto a abrir mão da presidência "superpartido" foi o controle da estrutura partidária, com a gerência da destinação de verbas para as campanhas, inclusive para sua ao governo da Bahia. Para o especialista, a posição como líder nacional do DEM já estava "contraproducente" desde a eleição da Câmara, quando, ao perceber que não conseguiria convencer os correligionários a votarem em Baleia Rossi (MDB), deixou a bancada livra para decidir em quem votar. O resultado foi uma vitória com ampla margem do deputado Arthur Lira (PP-AL), que teve o apoio do Planalto.

A possibilidade de uma reinserção no cenário nacional e retomada do protagonismo alcançado pela trajetória em Brasília e no comando do DEM como fator importante para ACM Neto é uma leitura também do cientista político Cláudio André.  Além disso, a chance de liderar as articulações regionais com a destinação de recursos partidários é atrativa.

"Ele olhou para essa fusão também na perspectiva de manter projeção enquanto liderança nacional, já que não dá para comparar a sua carreira política a de Luciano Bivar. Óbvio que assume esse lugar de proa no novo partido e penso que olhou certamente para a montagem de uma estratégia na Bahia. Esse novo partido não terá ruptura explícita com o bolsonarismo, continuará nas 'franjas' do governo Bolsonaro. Com esse novo partido, ele pode influenciar a política na Bahia, como um partido renovado e também controlar a montagem de apoio regionais e com isso gerar condicionais para montagem de palanque no estado", argumenta.

A repaginada pode atrair votos dos mais moderados e se soma à intenção de Bolsonaro de eventualmente se filiar ao PTB, que hoje abriga a base mais radical ligada ao bolsonarismo. Segundo Cláudio André, o partido nascido da fusão espera conseguir "dialogar" com diferentes espectros dos próprios apoiadores de Bolsonaro, desde aqueles arrependidos até os pouco radicais.

"Há uma expectativa de que esse partido consiga dialogar com a base bolsonarista, arrependida, moderada e um pouco radical, para compor e buscar votos deste perfil de eleitorado para focar na conquista de uma bancada legislativa [...] um partido de centro-direita que consiga aproveitar a base bolsonarista, mas que consiga aparecer para outros grupos e segmentos como um partido diferente. Isso interessa muito a ACM Neto na Bahia", assegura.


NECESSIDADE

A opção pela fusão, segundo Joviniano Neto, tem uma motivação baseada na "necessidade" de sobrevivência política, e acomoda os interesses das duas legendas. O DEM entra com os quadros antigos, caciques e com uma "identidade política bem definida", mas que sofreu recentemente com a crise interna e ameaça de debandada. Em poucos anos a sigla perdeu nomes importantes e com grande força eleitoral, como Rodrigo Maia, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, e pode ver o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), migrar para o PSD, assim como o governador do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Já o PSL, ganhou notoriedade ao ceder espaço para a candidatura de Jair Bolsonaro, mas não tem solidez e trajetória no cenário político brasileiro. Apesar da identificação com a agenda neoliberal e do "novo individualismo", o partido conseguiu eleger quadros surfando na onda do bolsonarismo, que parece não chegar com a mesma força em 2022, como apontam as pesquisas no momento.

"É uma fusão que parte de uma necessidade política concreta de sobrevivência", avalia Joviniano. 

O professor crê que o novo partido saia "menor" da eleição de 2022, pois afirma que o crescimento exponencial do PSL está vinculado a Bolsonaro, que rompeu com o presidente da sigla, Luciano Bivar, e viu rachar a sigla entre os que o apoiam e os que não.

"Boa parte dos votos do PSL foi na onda. Eles vão ter um partido grande, com recursos eleitorais, mas com muita gente que foi eleita na onda lavajatista. O eleitor que votou nesse pessoal pode votar diferente agora", adverte.

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