Política

Bolsonaro encontra Salvini, da ultradireita italiana, em memorial de pracinhas da Segunda Guerra

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pós a execução dos hinos nacionais, Bolsonaro depositou uma coroa de flores no monumento e o pastor evangélico Samuele Baroncelli fez um breve pronunciamento  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Twitter/@matteosalvinimi

Publicado em 02/11/2021, às 11h31   Folhapress


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O dia em Pistoia amanheceu chuvoso e confuso, como disseram alguns moradores. Na manhã desta terça-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Matteo Salvini, líder do partido de ultradireita Liga Norte, encontraram-se para participar de um ato solene em homenagem aos 467 pracinhas mortos em combate durante a Segunda Guerra Mundial. No total, 20.573 soldados brasileiros estiveram na Itália lutando contra o fascismo.

Como em todos os anos, a cerimônia acontece no cemitério San Rocco, em frente ao monumento ao soldado desconhecido erguido em memória dos brasileiros. Após a execução dos hinos nacionais, Bolsonaro depositou uma coroa de flores no monumento e o pastor evangélico Samuele Baroncelli fez um breve pronunciamento. Já o padre Dom Piero Sabadini celebrou uma pequena missa e abençoou o monumento.

Sabadini substituiu, às pressas, Dom Tardelli, que todos os anos celebrava a missa e que, desta vez, negou sua presença por ser "abertamente contrário a instrumentalização da celebração".

Mas ao que parece, Dom Piero não estava muito feliz em participar do ato. Uma pessoa próxima ao religioso falou com a Folha de S.Paulo em condição de anonimato e deixou claro que o padre não concorda com nada do que está acontecendo no encontro entre Bolsonaro e Salvini. Disse ainda que o presidente brasileiro é um ditador e que o pai de Dom Piero morreu lutando contra o fascismo.

Em sua fala, Salvini pediu desculpas pela polêmica levantada nos últimos dias, em referência aos protestos contra Bolsonaro. "Desculpem a polêmica de alguns, que conseguem fazer divisões mesmo em um dia de lembrança, de honra como hoje. A amizade de nossos povos é mais forte do que a polêmica de alguns que não representam o povo italiano", disse.

Tanto o político italiano quando o ministro da Defesa brasileiro, o general Walter Souza Braga Netto, que acompanha Bolsonaro em Pistoia, mencionaram em seus discursos a expressão "a cobra vai fumar", um dos slogans da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Antes de se pronunciar, o presidente brasileiro deu a palavra a Romano Levoli, um dos últimos pracinhas ainda vivos dentre os que lutaram na guerra. Sem entrar em detalhes, o ex-combatente disse que a Itália não reconheceu a sua "memória histórica".

Bolsonaro disse estar emocionado. "Pela primeira vez estou em solo italiano, solo este sagrado para nós. Estamos comemorando aqueles que tombaram em luta pelo que tem de mais sagrado em nós, a nossa liberdade".

O presidente também lembrou que cerca de 30 milhões de brasileiros têm origem italiana --uma das justificativas apresentadas pela prefeita de Anguillara Veneta para conceder a cidadania honorária ao líder brasileiro.

Bolsonaro e Salvini têm muito em comum. Se, de um lado, o relatório final da CPI da Covid pediu que o presidente brasileiro fosse denunciado por crimes de responsabilidade e contra a humanidade, de outro, seu aliado italiano responde a um processo criminal por sequestro de pessoas.

Em 2019, Salvini negou acesso aos portos italianos a um barco da ONG espanhola Open Arms que havia resgatado 147 imigrantes no Mar Mediterrâneo, ao largo da Costa da Líbia. Durante o impasse, vários migrantes desesperados se jogaram no mar na tentativa de chegar nadando à terra firme. A embarcação só teve permissão para atracar após 19 dias, mas não por decisão de Salvini.

Foi necessária uma intervenção do Ministério Público de Agrigento, na Sicília, que ordenou o desembarque dos migrantes. Se condenado pelo crime de que é acusado, Salvini pode pegar até 15 anos de prisão.

Segundo fontes internas da Liga Norte, o encontro com Bolsonaro deveria ter acontecido em Roma, em ocasião da participação do presidente brasileiro na cúpula do G20, que reúne as principais economias do mundo. Mas, estrategicamente, Salvini optou por encontrá-lo em Pistoia, aproveitando a ocasião para inaugurar a sede de seu partido na cidade.

A ação de Salvini é clara. Há quatro anos sob controle de líderes de centro-direita, a pequena cidade vai às urnas no ano que vem, e uma vitória em Pistoia pode ter alto valor estratégico para a Liga Norte.

A tática do político italiano, no entanto, não passou despercebida pelos moradores da cidade.Liderenças locais, já descontentes com a visita de Bolsonaro a Pistoia, marcaram dois protestos para esta terça-feira: um pela manhã, que aconteceu simultaneamente à cerimônia em memória dos pracinhas, e outro durante a tarde (por volta das 11h, no horário de Brasília)

Isolado internacionalmente, Bolsonaro teve uma agenda magra em sua estadia na Itália. Além de Salvini, o presidente só encontrou oficialmente Alessandra Buoso, prefeita de Anguillara Vêneta, que o recebeu nesta segunda para a entrega do título de cidadão honorário.

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