Política

Aliados comemoram Bolsonaro 'tímido', e ministros do STF, baixa adesão

Agência Brasil
Interlocutores do presidente e integrantes do Legislativo e do Judiciário temiam que falas do presidente pudessem acentuar crise  |   Bnews - Divulgação Agência Brasil

Publicado em 01/05/2022, às 20h12   Folhapress


FacebookTwitterWhatsApp

Ainda que desaconselhada pelo seu entorno, a participação do presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (1) em atos que tiveram o Supremo Tribunal Federal (STF) como alvo foi minimizada tanto por aliados quanto por ministros da corte.

Interlocutores do presidente celebraram a participação tímida de Bolsonaro, que falou rapidamente, por chamada de vídeo com apoiadores na avenida Paulista, sem menções diretas ao STF.

A declaração genérica de Bolsonaro, tanto em Brasília, onde ele sequer discursou, quanto em São Paulo, ao menos não escalou a crise entre os Poderes, como ocorreu em outros momentos e como era esperado.

Para esses aliados, o chefe do Executivo fez um gesto aos seus eleitores, mas manteve o tom dos seus conselheiros, de não esticar a corda com o STF –em especial neste momento em que, pela primeira vez, consideram que teve uma vitória política diante da corte.

LEIA TAMBÉM:

Já ministros do STF, reservadamente, disseram que as manifestações foram completamente distintas do atos de raiz golpista de 7 de Setembro, quando o presidente xingou e exortou a desobediência a decisões da Justiça.

Os magistrados reconhecem que atos em que eleitores do presidente pediam a destituição deles ou o fim da "ditadura da toga" são ruins, mas se tranquilizaram com a baixa adesão, que era esperada na corte.

Na avaliação de um ministro do STF, há uma antecipação da campanha eleitoral, mas o fato de o protesto ter sido esvaziado, principalmente em Brasília, demonstra certo exaurimento por parte da população.

Na capital, o ato ocupou menos de uma quadra da Esplanada, numa proporção muito inferior às manifestações bolsonaristas que tiveram o mesmo palco.

Organizadores esperavam que Bolsonaro fosse ao palco, mas ele apenas passou para cumprimentar manifestantes e falou rapidamente em uma live no seu Facebook ao deixar o local.

"[Vim] cumprimentar o pessoal que está aqui na manifestação pacífica em defesa da Constituição, da democracia, e da liberdade. Então parabéns a todos de Brasília, bem como todos brasileiros que hoje estarão nas ruas", disse.

Já em São Paulo, os atos foram recheados de ataques ao STF e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas o chefe do Executivo se conteve em falar sobre temas "conservadores" e não mencionou o Judiciário.

Em seu breve discurso, enalteceu seus apoiadores e disse dever "lealdade a todos vocês" e que irá "onde vocês estiverem". Ele falou ainda em "liberdade" e repetiu ser o chefe de um governo que "acredita de Deus" e que "defende a família".

O presidente participa, desde 2020, de atos que têm o Supremo como alvo. Os primeiros falavam em intervenção militar e levaram à abertura de inquérito na Corte.

A tensão entre os Poderes, elevada com o decreto de indulto do chefe do Executivo a Daniel Silveira (PTB-RJ), continua. Mas a sua participação não reeditou os piores momentos de crise institucional, como temiam integrantes dos Legislativo e do Judiciário.

Bolsonaro tem moderado o discurso desde o final da semana, quando passou a dizer que Silveira falou coisas absurdas, mas o Supremo exagerou.

A fala está em sintonia com o que aliados e integrantes da campanha de reeleição identificaram nas pesquisas: a defesa de Silveira divide o eleitorado, mas há sentimento de que a dosimetria da pena (oito anos e nove meses de prisão) teria sido exagerada.

LEIA TAMBÉM:

Ainda assim, Bolsonaro não pretende explorar eleitoralmente o episódio. O baixo quórum deste domingo comprova o que campanha já constatou: o indulto concedido ao deputado teve efeito positivo sobre a base que já é cativa de Bolsonaro. Há uma divisão em outra parcela do eleitorado, mais moderada.

Além disso, embora inflame uma parcela dos eleitores, o perdão dado a Daniel Silveira não impacta a principal fatia da população que Bolsonaro precisa conquistar para ser eleito e que está mais preocupada com os efeitos da economia.

Na última semana, ministros da Suprema Corte e interlocutores de Bolsonaro passaram a tentar costurar uma forma de pacificar o caso de Silveira.

O decreto foi considerado irremediavelmente constitucional, mas há uma tentativa de manter a cassação dos seus direitos políticos, tornando-o inelegível. O deputado é pré-candidato ao Senado.

A avaliação no Supremo é que o clima continua na mesma situação, e a ida de Bolsonaro aos atos não piora a tentativa de costurar uma saída para o imbróglio.

No Legislativo, parlamentares de oposição focaram no discurso de ataque à Corte presente nas falas e nos cartazes do ato bolsonarista. Vice-presidente do União Brasil, o deputado federal Junior Bozzella (SP) afirmou que não há mudança de postura do presidente no seu rápido discurso na Paulista.

"Nunca houve mudança de tom. Tem oscilação de acordo com o momento, mas o enredo é o mesmo, de afrontar o Estado Democrático e os demais Poderes. A simples participação dele já é agressiva. Porque não deixou de ser um ato antidemocrático", disse.

LEIA MAIS:Fato & Opinião: Luiz Carlos detalha articulação do Republicanos pela vice de ACM Neto; assista

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que participou dos atos com Lula na cidade de São Paulo, ​ lamentou que o discurso de Bolsonaro não tenha sido usado para anunciar novas medidas do governo federal voltadas à classe trabalhadora, como é tradição. E concordou que não houve mudança de tom no pronunciamento.

"As manifestações [que o apoiam] falam por si. São manifestações autoritárias, fazem parte de um movimento orquestrado por ele de ataque às entidades democráticas. Ele deve ter sido aconselhado a ficar quieto, porque a tensão está alta, mas as manifestações falam por si", afirmou.

Siga o BNews no Google Notícias e receba os principais destaques do dia em primeira mão!

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp