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Governo recebe informações sobre saídas espontâneas de garimpeiros da terra yanomami

Polícia Federal
A informação sobre a detecção de fluxos de garimpeiros foi confirmada pela ministra dos Povos Indígenas  |   Bnews - Divulgação Polícia Federal

Publicado em 04/02/2023, às 20h20   VINICIUS SASSINE, BOA VISTA, RO (FOLHAPRESS)


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O governo federal recebeu informações sobre possíveis saídas espontâneas de grupos de garimpeiros que invadiram a Terra Indígena Yanomami, um movimento que se intensificou nos últimos dias e que já foi constatado por equipes que estão em área.

A informação sobre a detecção de fluxos de garimpeiros foi confirmada pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que visitou Boa Vista neste sábado (4) para acompanhar o andamento da declaração de estado de emergência em saúde pública na terra indígena. O governo Lula (PT) deu início às ações de emergência no último dia 20.

A Folha também colheu indícios de que estão ocorrendo movimentos de grupos de garimpeiros nos últimos dias, interessados em deixar áreas com exploração de ouro.

A reportagem recebeu relatos nesse sentido de invasores, de moradores de vilas que acabam servindo como ponto de apoio logístico ao garimpo e de investigadores que atuam no monitoramento de áreas invadidas no território tradicional.

"Temos essa informação de que muitos garimpeiros estão saindo. É bom que saiam mesmo. Retirar 20 mil garimpeiros demora um tempinho", disse Guajajara na tarde deste sábado. "Se eles começam a sair, estão corretos. Melhor para todo mundo se saem sem precisar da ação da força de segurança."

Segundo a ministra, as informações sobre possíveis saídas de grupos de garimpeiros foram levantadas por serviços de inteligência do governo, por servidores que estão na região desde a declaração do estado de emergência, por sobrevoos de equipes do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) e por integrantes de associações de indígenas.

Lula já afirmou que os mais de 20 mil garimpeiros que invadiram a terra indígena serão retirados em operações do governo federal, sem especificar uma data. Os detalhes sobre essa desintrusão, que já foi determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), cabem ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, segundo a ministra dos Povos Indígenas.

Presente na comitiva da ministra, a diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Lucia Alberta Andrade, disse que a retirada dos garimpeiros deve evitar erros ocorridos na década de 90, quando também havia uma ocupação do território por invasores, em quantidade até mesmo superior à atual, pelas estimativas existentes.

"Deve haver muito cuidado para que não ocorra como na década de 90, quando garimpeiros foram para Raposa Serra do Sol [outra terra indígena em Roraima] e para outros garimpos ilegais", disse Andrade.
Segundo ela, eventuais ações de retirada dos invasores deve levar em conta a presença dos indígenas isolados na terra yanomami.

Há relatos de garimpeiros que já procuram pistas de pouso ilegais no território, após caminhadas pela mata, para deixar as áreas de garimpo. Segundo integrantes do governo federal, ações estão sendo pensadas em conjunto com o governo de Roraima para assegurar transporte a quem se dispor a uma saída espontânea.

"É preciso combater a raiz, que é o garimpo ilegal. Não é possível que mais de 30 mil indígenas yanomamis sigam convivendo com 20 mil garimpeiros em seu território", disse Guajajara. "O governo federal está organizando ações de retirada de garimpeiros, perfuração de poços artesianos e serviços de comunicação."

A ministra afirmou que a decisão de retirar os invasores está tomada, sem dizer quando isso ocorrerá. Ela disse ainda que equipes de saúde enviadas às regiões de Surucucu e Auaris, as mais impactadas pela crise de saúde, com explosão de casos de malária e desnutrição grave, precisam ser mantidas em segurança nesses locais.

Somente em janeiro, 223 yanomamis foram transportados da terra indígena a unidades de saúde em Boa Vista. A principal razão foram quadros graves de malária, desnutrição, pneumonia e outras doenças oportunistas da fome.

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