Política

Laudo da PF descarta "sinais de adulteração" em vídeo de suposta orgia de Dória e ele dispara: “difamação eleitoral”

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Uma das mulheres apontadas como participante da orgia presta depoimento aos investigadores nesta terça-feira(8)  |   Bnews - Divulgação Govesp

Publicado em 08/03/2022, às 16h48   Juliana Barbosa


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Ao que tudo indica, a novela iniciada em 2018 ainda terá muitos capítulos. Quase quatro anos após movimentar a campanha eleitoral mais acirrada dos últimos tempos em São Paulo,um vídeo com cenas de uma orgia sexual supostamente protagonizada pelo governador João Doria está no centro de uma investigação à qual a Polícia Federal vem dedicando atenção especial.

Em janeiro deste ano, a PF elaborou um laudo pericial no qual descarta “sinais de adulteração” nas imagens, que viralizaram em outubro de 2018. Os encarregados da investigação também chamaram para depor uma mulher apontada como participante da suposta orgia, cuja gravação foi largamente disseminada por WhatsApp para atingir a reputação do tucano às vésperas do segundo turno. A mulher de 41 anos é funcionária do gabinete de um parlamentar aliado de João Doria. O depoimento está marcado para a tarde desta terça-feira(8). 

O fato é que o inquérito aberto ainda em 2018, pelos advogados de João Dória para apurar o crime de "difamação eleitoral", pode ser um obstáculo na corrida do presidenciável. De acordo com as informações da Crusoé, João Doria afirma que a PF está reeditando ‘o maior crime eleitoral já realizado contra um candidato na história do Brasil, justamente quando se aproximam as próximas eleições presidenciais’ e acusa a instituição de tentar prejudicar sua pré-candidatura ao Planalto.”

O  polêmico vídeo, dividido em dois trechos, começou a circular em 23 de outubro daquele ano. Nas imagens, um homem com feições semelhantes às de Doria aparece na cama com seis mulheres. Naquele mesmo dia, o governador veio a público, ao lado da primeira-dama, Bia Doria, para negar que fosse ele o personagem das cenas. O tucano classificou o vídeo de “vergonhoso” e disse tratar-se de uma “fake news” que teria sido forjada por adversários políticos. Cinco dias depois, Doria disputaria o segundo turno contra o então governador Márcio França, do PSB, que negou envolvimento no caso e processou o tucano por calúnia. No ano passado, Doria disse em uma entrevista que França estava por trás da propagação da gravação.

O pedido para que a Polícia Federal apurasse a “difamação eleitoral” contra Doria foi feito pela defesa do governador logo no dia seguinte à divulgação do vídeo. Àquela altura, o criminalista Fernando José da Costa, que hoje é secretário da Justiça do governo paulista, anexou um laudo no qual dois peritos contratados afirmavam que o vídeo tem “características de claro produto de montagem e simulação” e que o homem que aparece nas imagens tem características diferentes da fisionomia de Doria, como o formato dos dentes”, “ausência de pelugem no tórax e costeleta diferente. O advogado disse ainda que no momento da orgia – a gravação teria sido feita na noite de 11 de outubro de 2018 – o tucano estava reunido com ele próprio no comitê de campanha do PSDB.

A apuração da Polícia Federal havia caído no esquecimento, mas ganhou força nos últimos meses. A Crusoé teve acesso com exclusividade ao inquérito, que corre em sigilo na Superintendência da PF em São Paulo. A investigação já passou pelas mãos de cinco delegados. No início, a PF ouviu um homem que compartilhou o vídeo em um grupo de WhatsApp de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no dia em que as cenas viralizaram. Os policiais também buscaram informações sobre quatro pessoas detidas em flagrante colando cartazes com ataques a Doria em razão do filme.

Por causa da pandemia, alguns depoimentos de testemunhas foram adiados e o inquérito foi prorrogado com anuência do Ministério Público e autorização do juiz da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo. A investigação voltou a tramitar mais rapidamente em outubro do ano passado, quando o delegado Leonardo Henrique Rodrigues solicitou uma perícia técnica ao Núcleo de Criminalística da PF para  “identificar/reconhecer a identidade das mulheres”  que aparecem nas cenas. O delegado também pediu que os peritos federais apontassem eventuais montagens no vídeo.

A partir da demanda, os peritos chegaram até a comparar o rosto das mulheres com o banco de imagens faciais mantido pela corporação na tentativa de reconhecer alguma das participantes. Por causa da baixa qualidade técnica da gravação, porém, o sistema não conseguiu identificar ninguém.

Apesar da tentativa frustrada de reconhecimento facial por meio da tecnologia, a perícia da PF chegou a uma conclusão que vai na contramão do argumento sustentado até então pela defesa de Doria – a de que o vídeo foi manipulado. No laudo, assinado em janeiro deste ano, o perito Bruno Garbe Júnior diz não ter encontrado indícios de fraude no material. No documento, o perito afirma que “analisou a direção da iluminação, disposição de personagens e objetos e suas relações na imagem, assim como a continuidade do sinal de áudio, não encontrando sinais de adulteração nas imagens examinadas”.

Adversários de Doria chegaram a ser ouvidos pela PF. Foi assim que os investigadores conseguiram nome e sobrenome da mulher que prestará depoimento nesta terça-feira(8). A identificação dessa testemunha, que teria participado da orgia, ocorreu após depoimento do vereador paulistano Camilo Cristófaro, do PSB, desafeto do governador que já havia explorado o episódio durante a campanha de 2018. Foi o parlamentar, correligionário de Márcio França, quem afirmou aos investigadores que essa mulher, atualmente, trabalha como assessora de um vereador da Câmara Municipal de São Paulo ligado a Doria. Com os dados da assessora em mãos, a PF a intimou para prestar depoimento.

Ainda de acordo com a Crusoé, Doria afirmou ter sido surpreendido com a informação de que a PF  “decidiu ressuscitar”  a investigação. Ele voltou a mencionar os laudos produzidos por sua defesa que apontam que o vídeo é produto de uma fraude. “Fui surpreendido hoje com a informação de que a Polícia Federal decidiu ressuscitar a investigação de um caso da eleição de 2018, que se tornou o maior crime eleitoral já realizado contra um candidato na história do Brasil, justamente quando se aproximam as próximas eleições presidenciais. Laudos independentes produzidos na época do episódio comprovaram de maneira cristalina que o vídeo em questão é uma fraude primária. (…) Um segundo laudo independente também comprovou a fraude desse vídeo”, diz a nota do governador.

O governador faz uma acusação grave. Para ele, a PF está usando o caso para atingir sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. “É revoltante que a Polícia Federal não tenha investigado os autores do crime em 2018. Agora, quatro anos depois do episódio, utiliza essa fake news não para elucidar o caso, mas para atingir a vítima desta armação sórdida. Lamentavelmente, uma parte da instituição de Estado tem sido utilizada para propósitos políticos, como já ocorreu recentemente com outros pré-candidatos à Presidência. É uma afronta ao Estado Democrático de Direito. Não me intimidei na época desse crime e não me intimidarei com essa tentativa rasa para prejudicar a minha pré-candidatura. A determinação de construir um país mais justo, próspero e pacificado é maior do que a tentativa torpe de atacar a minha honra e da minha família”, diz a nota de Doria.

Leia também: "Eu errei", diz Dória sobre relação com Bolsonaro

“Eu errei. Nós erramos”, foi assim que João Dória (PSDB), governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência da República justificou o apoio dado ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL) na época da campanha, em 2018. “O erro foi acreditar que as propostas de Jair Bolsonaro eram honestas, transformadoras para o Brasil. Alguém que dizia que faria um governo liberal (...) iria apoiar das causas ambientais, de apoio a diversidade, aos negros, aos quilombolas (...) e que teria a compreensão humana dos fatos”, relatou Dória durante entrevista no programa BNews Agora desta terça-feira (15), na Piatã FM.

Ainda justificando o distanciamento entre ele e Bolsonaro logo após assumir o cargo, em São Paulo, Dória relata: “antes da pandemia ele já não tinha condições. Com dois meses tendo assumido a Presidência da República, fez gestos intimidatórios, antidemocráticos, inclusive ameaçado fechar o Supremo Tribunal Federal e tentou intimidar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia”, relembrou o governador.

Veja a nota na íntegra:

"Fui surpreendido hoje com a informação de que a Polícia Federal decidiu ressuscitar a investigação de um caso da eleição de 2018, que se tornou o maior crime eleitoral já realizado contra um candidato na história do Brasil, justamente quando se aproximam as próximas eleições presidenciais.

Laudos independentes produzidos na época do episódio comprovaram de maneira cristalina que o vídeo em questão é uma fraude primária. A Revista Veja publicou em outubro de 2018 documento técnico que comprovou “alterações digitais” e manipulação. Um segundo laudo independente também comprovou a fraude desse vídeo.

É revoltante que a Polícia Federal não tenha investigado os autores do crime em 2018. Agora, quatro anos depois do episódio, utiliza essa fake news não para elucidar o caso, mas para atingir a vítima desta armação sórdida.

Lamentavelmente, uma parte da instituição de Estado tem sido utilizada para propósitos políticos, como já ocorreu recentemente com outros pré-candidatos à presidência. É uma afronta ao Estado Democrático de Direito.

Não me intimidei na época desse crime e não me intimidarei com essa tentativa rasa para prejudicar a minha pré-candidatura.

A determinação de construir um país mais justo, próspero e pacificado é maior do que a tentativa torpe de atacar a minha honra e da minha família".

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