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BNews Novembro Negro: Ilê Aiyê tem papel fundamental na resistência negra do Curuzu

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Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 20/11/2021, às 06h01   Lara Curcino


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O Curuzu, um dos bairros mais negros de Salvador, abriga uma tradição de representatividade há décadas. Lá, há 47 anos, foi fundado o primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê. Antes disso, no entanto, o local já sediava terreiros de religiões de matrizes africanas e já possuía tantos outros traços culturais fortes. 

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A criação do Ilê foi um marco e impulsionou também o empreendedorismo afro, presente e perceptível até hoje no bairro para qualquer um que caminhe pelo Curuzu, que, até 2017, era classificado somente como uma rua da Liberdade, antes de ter a “emancipação” reconhecida pela Prefeitura de Salvador.  

“Moro aqui há 45 anos e não troco meu bairro por lugar nenhum, só saio daqui quando eu morrer”, é o que diz Antônio Alves, que comanda há 27 anos o Pastel do Bigode, estabelecimento que fica em frente à Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê.


“Aqui tenho tudo, minha casa e meu trabalho. Sou preto, gosto de ser preto, e aqui posso dizer isso com orgulho, sem medo”, completou ele. 

A ladeira do Curuzu, eternizada pela música “O mais belo dos belos”, é palco da tradição carnavalesca do desfile do trio elétrico do Ilê Aiyê e passou a ser conhecida mundialmente por causa disso. 

Outra tradição do bloco é a caminhada pelas ruas do bairro no Dia da Consciência Negra, celebrado nacionalmente neste sábado (20). Em 2021, no entanto, o ato não será realizado, ainda em razão da pandemia. 

“Fazemos uma caminhada no Curuzu e na Liberdade, uma das maiores da Bahia, mas a pandemia não deixou a celebração acontecer novamente neste ano”, contou Vovô do Ilê, fundador e presidente do bloco, ao BNews

Vovô afirmou ainda que a agremiação também não está se organizando para um possível carnaval. “O Ilê não está preparado para um carnaval no ano que vem, esperamos que não aconteça. Mas, se ocorrer, vamos arranjar alguma forma de sair nas ruas para o povo.”

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Ainda segundo Vovô, “o Curuzu é um lugar muito importante, de vanguarda”. “Aqui sempre teve muita manifestação, antes antes do Ilê, que acaba surgindo justamente desse rastro. Aqui é um lugar combativo e isso é necessário, porque Salvador é a cidade mais negra fora da África, mas ainda é muito racista, sem cargos de comando e representantes negros. A luta continua”, declarou ele. 

Outro morador do bairro, o promotor de vendas Antônio Lázaro avalia que o Curuzu poderia ter um papel mais incisivo no movimento negro. 



“O lugar tem sua importância histórica, mas eu acredito que o efeito prático precisa ser um pouco maior. Tem entidades aqui que poderiam ter um papel mais forte, levantar a bandeira mais alto”, disse ele, que preferiu não dar mais detalhes sobre os grupos criticados. 

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