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BNews Novembro Negro: Empresas aderem à iniciativa de equidade racial e ampliam contratação de pessoas negras

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Pesquisa feita IBGE aponta que a desigualdade racial no mercado de trabalho ficou ainda mais agravante durante a pandemia da Covid-19  |   Bnews - Divulgação Divulgação/CUT

Publicado em 18/11/2021, às 06h30   Diego Vieira


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Já parou para pensar quantas pessoas negras trabalham na mesma empresa que você? Será que vemos a mesma quantidade negros e brancos ocupando cargos de liderança? Será que pessoas negras e brancas que estão no mesmo cargo recebem os mesmos salários? Não é preciso pensar muito para chegarmos a uma resposta para estes questionamentos: Não.

Prova disso, é uma pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontou que a desigualdade racial no mercado de trabalho ficou ainda mais agravante durante a pandemia da Covid-19.

Os principais indicadores do estudo mostram que: o desemprego aumentou mais entre os pretos; Pretos têm menor proporção entre os trabalhadores com carteira assinada; A remuneração dos pretos é menor que a dos demais em todos os segmentos.

E não para por aí. Segundo o Instituo Ethos, quando falamos de cargos executivos, apenas 4,7% das posições dentre as 500 empresas brasileiras de maior faturamento são compostas por negros.

Dados obtidos através de pesquisas do IBGE apontam ainda que entre os 10% mais pobres da população brasileira, 78,5% são negros (pretos e pardos) e 20,8% são brancos. Já entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: 72,9% são brancos e 24,8% são negros. A ausência de políticas afirmativas de inclusão do negro na economia, o racismo estrutural e a baixa qualidade da educação pública são apontados como fatores causais desses altos índices de desigualdade e da instabilidade social do país.

Na contramão desses dados agravantes, muitas empresas têm adotado medidas para contribuir na mudança desse cenário de desigualdade no mercado de trabalho. Uma dessas iniciativas é a chamada equidade racial que nada mais é do que reconhecer que fatores como raça, etnia, idade, gênero e classe social, por exemplo, podem impedir o sucesso de uma pessoa em relação a alguém que teve mais oportunidades ao longo de toda a vida.

A PWC, empresa que presta serviços de auditoria e consultoria, por exemplo, criou um programa de aceleração de carreira para profissionais negros: o Black as Manager. A iniciativa inclui mentoria realizada por sócios da instituição ao longo de 12 meses. A empresa atua em vários países e possui 15 escritórios espalhados pelo Brasil, um deles na Bahia.

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De acordo com Luciano Sampaio, um dos sócios da empresa em Salvador, a ideia do programa surgiu da necessidade de promover, além de debates e reflexões, ações efetivas para o avanço da pauta da equidade racial.

“Sempre tivemos um programa de inclusão e diversidade muito forte, mas a gente foi observando com o passar do tempo que as pessoas negras entravam na firma, mas elas não tinham ascensão da mesma forma que os demais e isso chamou a nossa atenção porque a gente perde talentos de altíssima qualidade”, afirma.

Lançado em 2020, o Black as Manager proporciona aos profissionais negros formação de inglês, treinamento de habilidades sócio emocionais e técnicas, e mentoria com profissionais da alta liderança. 

“O nosso propósito é que brancos e negros caminhem juntos e tenham a mesma possibilidade de crescimento dentro da empresa [...] Apesar de a gente contratar uma quantidade grande de pessoas negras, poucas ficavam por muito tempo e obtinham ascensão dentro da firma, ressalta o sócio que também atua como um dos mentores do programa. 

A primeira turma, composta por 50 pessoas, deve concluir a formação em dezembro deste ano e a próxima deve iniciar os trabalhos já no ano que vem. 

Renã Adão, um dos integrantes da primeira turma, classifica o programa como incentivador. “É notório que os profissionais negros entram nas empresas com algumas lacunas e ver a PWC se preocupando com isso e fornecendo ferramentas para também conseguirmos alcançar cargos de liderança é inspirador e até muito motivacional para continuarmos crescendo na carreira. Que a gente consiga atuar também como agente transformador para que outras pessoas também consigam chegar até aqui.”, afirma.

Assim como a PWC, A Ambev, empresa brasileira dedicada à produção de bebidas, também implantou um programa para promoção da equidade racial. 

O programa de estágio Representa é direcionado exclusivamente para estudantes negros e tem como principal objetivo gerar oportunidades de desenvolvimento para essas pessoas. 

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De acordo com Rosiclea dos Santos, gerente regional de Gente e Gestão da Ambev, o Representa surgiu em 2019 e já conta com mais de 200 beneficiários desde a sua implantação. 

“Primeiro ele foi implantado na nossa administração central, como um piloto, e funcionou. Em 2020, a gente expandiu para todas as unidades da Ambev para trazer mais equidade. Quando a gente olhava para o nosso programa de estágio, a gente não conseguia ter representatividade negra, mesmo aqui no Nordeste. Até aqui na Bahia, o estado com maior quantidade de negros do Brasil”, destaca. 

A ideia do programa, segundo a gerente, é que esses estagiários, após a conclusão dos seus respectivos cursos, sejam efetivados na empresa. “Ao chegarem na Ambev, esses estagiários têm toda mentoria com os gestores deles, ou seja, existe um acompanhamento para que eles possam se desenvolver. Eles possuem todo o suporte para crescerem dentro da empresa”, enfatiza. 

E por falar em efetivação, esse é principal objetivo de Iago Pereira. O estudante de Engenharia Química ingressou na Ambev através do programa de estágio

 “Eu passei cerca de oito meses buscando uma oportunidade. Capacidade técnica não me faltava, estava bem preparado para assumir o estágio. Tinha um bom relacionamento e uma boa bagagem, mas nunca conseguia uma aprovação até que tive conhecimento desse programa da Ambev voltado para pessoas negras e ai conseguir ser aprovado e ter um bom desempenho”, afirma.

“Aqui dentro eu tenho tido ótimas referências, tenho conseguido me desenvolver, e isso é fruto de tudo que a Ambev tem me proporcionado. Estou bem perto de ser contratado e espero que isso aconteça”, acrescenta o estudante.

Além do programa voltado para estudantes negros, a Ambev assumiu em 2020 o compromisso de contratar mais de 200 negros para posição de liderança. “Hoje já temos 466 contratados, ou seja, ultrapassamos essa meta”, comemora Rosiclea.

Classificação Indicativa: Livre

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