Saúde

Dor psicológica: As consequências deixadas pelo aborto clandestino

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No Brasil, o aborto é ilegal, mas a justiça permite a prática em situações de risco à vida da mãe, gravidez resultante de estupro ou fetos anencéfalos  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Senado Federal

Publicado em 08/07/2022, às 05h50   Karine Pamponet


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Os temas considerados tabus do universo feminino, como violência sexual e aborto, ganharam notoriedade da mídia nas últimas semanas após a situação vivenciada pela atriz Klara Castanho e retificada por tantas outras, famosas ou não, que se encorajaram a abrir o coração nas redes sociais.  Os danos deixados na mulher vão além das marcas físicas. Elas passam a vivenciar sequelas emocionais como depressão, culpa e transtorno bipolar.

A Federação Brasileira das Associações Ginecológicas e Obstetrícia (Febrasgo), estima que 800 mil a um milhão de mulheres realizam aborto no Brasil de forma clandestina, por ano. Cerca de 300 mil, morrem durante a prática ilegal.

“Eu engravidei de forma indesejada e optei pela interrupção da gestação por medo social do julgamento das pessoas em ser mãe solteira. Na hora achei que fosse a melhor coisa a fazer já que a gravidez não foi fruto de um relacionamento. Hoje me pego pensando no que fiz. Também serei alvo de julgamento social das pessoas que souberem”. Esse é um depoimento de uma empresária de 33 anos que prefere não se identificar. Ao Bnews, ela disse ainda o quanto é difícil conviver com esse segredo. “Ás vezes me sufoca, me deixa dúvidas da minha atitude e culpa pelo que fiz. Tento fugir desses pensamentos. Não encaro. Finjo que não aconteceu”, completou.

No caso do aborto, as marcas íntimas, cravadas na alma, podem aparecer de imediato ou levar algum tempo. Para especialistas em psicologia encarar o preconceito da sociedade, pela culpa de ter cometido um crime segundo as leis brasileiras, é um gatilho para desequilíbrios psicológicos. “Guardar tudo em silêncio pode ser muito perigoso para a saúde mental. Existe uma interiorização da dor que mexe com a autoestima feminina. Além disso, a culpa provoca perda de apetite, sono e pesadelos. Essas questões precisarão ser tratadas em consultório, em sessões de terapia”, disse a psicóloga Helena Lima, especialista em psicanálise e depressão.

Numa linha mais feminista, existem aquelas mulheres que defendem a autonomia pela decisão sobre o próprio corpo como uma forma de empoderamento. Mas, para a especialista em depressão, mesmo as mais seguras das suas atitudes guardam sentimentos condenatórios no seu íntimo, seja por crenças familiares, religiosas ou éticas. “O estigma da ilegalidade do aborto coloca a mulher na condição de ré e numa situação de autocondenação. A mulher se torna a segunda vítima do aborto, se permite agredir fisicamente, e isso desencadeará consequências emocionais como ansiedade, depressão ou estresse pós-traumático”, concluiu a psicóloga.

Os danos na saúde emocional das pessoas que fizeram aborto clandestino, normalmente, duram anos e precisam de ajuda profissional para serem sanados. No Brasil, o aborto é ilegal, mas a justiça permite a prática em situações de risco à vida da mãe, gravidez resultante de estupro ou fetos anencéfalos.

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