Saúde

Fé na vida: idosos relatam superação pós-luta contra o câncer de próstata

Cerca de 66 mil homens são diagnosticado com câncer de próstata anualmente - Divulgação | Shutterstock
Doença é responsável por pouco mais de 15 mil mortes anualmente  |   Bnews - Divulgação Cerca de 66 mil homens são diagnosticado com câncer de próstata anualmente - Divulgação | Shutterstock
Alex Torres

por Alex Torres

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Publicado em 16/11/2023, às 17h12


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Cercados por um tabu histórico, muitos homens deixam de realizar os cuidados preventivos necessário para a detecção do câncer de próstata. O mito, camuflado por uma fragilidade do indivíduo masculino, termina sendo responsável por pouco mais de 15 mil mortes no país anualmente em decorrência da doença.

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Ao todo, cerca de 66 mil homens são diagnosticados com câncer de próstata por ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O tipo da doença oncológica é o segundo mais comum entre indivíduos do sexo masculino, com 29% de todos os registros, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.

Aposentado, o economista Marival Clício Maia, de 75 anos, está dentro da estatística de homens que receberam o diagnóstico do câncer de próstata. Ao Bnews, ele revelou quais foram os primeiros sentimentos que teve quando descobriu a doença e os processos que enfrentou para, mais de 10 anos depois, estar totalmente curado.

Um momento bem difícil. Basicamente, meu chão meio que desabou naquela hora. Falaram que eu tinha um princípio de câncer de próstata e eu fiquei bastante preocupado. Me deram duas opções na época. Uma delas era fazer o tratamento, que não me daria uma certeza da cura da doença, enquanto a segunda era fazer a cirurgia, que me daria uma certeza maior. Eu fiz isso e estou bem até hoje", afirmou Marival.


Situação parecida viveu Antonino Justiniano de Souza, de 81 anos, que recebeu o diagnóstico positivo do câncer através do exame Antígeno Prostático Específico (PSA). Ele lembra que ficou apreensivo com a notícia, mas, como gosta de dizer, preferiu "encarar a situação de frente" e também optou pelo procedimento cirúrgico.

"Toda a doença, quando você recebe o diagnóstico, você fica naquela agonia, naquela preocupação. Eu sou uma pessoa que tenho o costume de encarar as coisas de frente para resolver logo. Então, quando eu descobri o câncer de próstata, através do PSA, corri logo na clínica para verificar qual era o grau em que estava. Fiz a biópsia e descobri que poderia ser tratado com quimioterapia, mas fui orientado a buscar algo tratasse de vez. Então acabei optando pela cirurgia", lembra.

Apoio é fundamental

Por ser uma doença que pode comprometer questões relacionadas à vida sexual do homem, muitos pacientes se sentem desconfortáveis em abordar o assunto de forma clara e trasparente. No entanto, uma boa rede de apoio, através de amigos e familiares, podem fazer com que esse caminho, por vezes tortuoso, se torne um pouco mais leve.

"Todo mundo foi coeso comigo, porque já se sabia naquela época que câncer de próstata era uma doença muito complicada, mas eu tive que aceitar e a família encarou numa boa também. Passei uns 15 ou 20 dias de recuperação da cirurgia. Sem dúvidas ter pessoas do lado ajudou no processo, ninguém caminha sozinho na sociedade. Eu tive apoio dos familiares e consegui 'tocar o barco'", contou Marival.

Já Antonino lembra que, mesmo preferindo não conversar muito sobre o assunto, conseguiu "tirar de letra" o momento difícil. O aposentado lembra que restringiu as pessoas que souberam do seu quadro, mas, aqueles que ficaram cientes, foram muito importantes.

"Por conta de ser uma doença meio complicada, principalmente por conta de certos comentários, terminei evitando muita conversa. Como eu costumo encarar as coisas de frente, então consegui 'tirar de letra' essa questão de apoio dos amigos. Agora, aqueles que vieram a saber dessa situação, realmente me deram um apoio muito grande", pontuou Antonino.


Prevenção e cuidados

Em contato com o Bnews, o chefe do serviço de urologia e de cirurgia robótica do Hospital Mater Dei, Nilo Jorge Leão, alertou para os cuidados preventivos necessários que auxiliam no tratamento do respectivo câncer.

"O câncer de próstata é silencioso e, por conta disso, a gente precisa seguir as recomendações da Sociedade Brasileira de Urologia para políticas de rastreio, com a realização de toque retal e exames de PSA a partir dos 50 anos, sendo uma vez ao ano para todo mundo, e a partir dos 45 anos para pacientes negros ou que tenham o histórico familiar", explicou.

Sobre o tabu em cima do exame de toque, Nilo Leão garante que o procedimento é tranquilo, rápido e o paciente não sente dor. "O exame é uma parte ínfima da avaliação que, quando indicado e realizado, dura menos que 10 segundos, além de ser completamente indolor".

Nilo Leão
Nilo Leão garante que o exame de toque é tranquilo, rápido e indolor - Foto: Divulgação

De acordo com o urologista, existem alguns pequenos indícios de uma predisposição do indivíduo ao câncer de próstata, como obesidade, sedentarismo, etnia negra e idade avançada, principalmente acima de 60 anos. Além disso, ter histórico de câncer de próstata em parentes de primeiro grau, como pais e irmãos.

Questionado sobre sintomas que estejam relacionados a doença, Nilo contou que é possível traçar alguns padrões que podem indicar problemas na próstata, mas que não estariam diretamente relacionados ao câncer.

"Existem sintomas associados à próstata, como jato de urina fraco, acordar muitas vezes durante a noite para urinar, ter a sensação que terminou de urinar e não esvaziou totalmente a bexiga, que demonstram que a próstata pode estar aumentada, algo chamado hiperplasia prostática, que requer avaliação e tratamento por parte do urologista, mas isso não é sintomas de câncer, e sim, uma doença completamente comum, porém benigna", informou o urologista.

Tenha fé na vida

Depois de passar por uma experiência como o câncer, dificilmente um indivíduo não tira alguma lição como aprendizagem. Marival e Antonino destacaram o olhar com mais carinho que passaram a dar à vida, mesmo que a doença os tenham deixado um pouco abalados em um primeiro momento.

Marival e Antonino
Marival (à esq) e Antonino (à dir) celebram a vida após superar a doença - Fotos: Arquivo Pessoal

Segundo Marival, o problema não está no homem ficar abalado, uma vez que isso seria quase que inevitável devido a delicadeza da situação. No entanto, a crença em dias melhores precisa ser ainda maior para que a pessoa quebre as barreiras da adversidade e fique ainda mais forte.

"Não existe nada melhor do que viver podendo estar saudável. Eu tenho 13 anos que fiz a cirurgia e não tenho problema nenhum. Depois que tive a certeza que não iria morrer, passei a acreditar um pouco mais na vida e pensar em fazer mais coisas, porque às vezes você se retrai. Pensa em não fazer mais aquele investimento, comprar aquela casa, adquirir aquele terreno... isso para mim não mudou, muito pelo contrário. A partir deste momento, eu tive a certeza que minha vida iria continuar normal", celebrou.

Antonino segue na mesma linha e falou da importância de se manter firme diante das adversidades e se rodear de boas energias. Como um mantra que ele carrega consigo, saber 'encarar as coisas de frente' se tornou quase uma filosofia de vida, porque, no fim das contas, essa é a realidade da vida.

"Toda vez que surge uma doença em você, quando te pega desprevenido, você sente aquele baque. O importante é saber encarar de frente e com a certeza de que tudo vai dar certo. A realidade da vida é essa, a gente não pode esmorecer ou enfraquecer. Importante também não aceitar comentários negativos que te coloquem para baixo. Uma coisa é você saber que está curado, isso foi muito bom para a minha vida. A cirurgia foi espetacular e dá muito ânimo para a vida, saber que tudo aquilo ficou para trás", concluiu.

Classificação Indicativa: Livre

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