Saúde

No mês da conscientização, mães relatam desafios diários para inclusão de crianças autistas

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Data é lembrada com vários desafios a serem superados  |   Bnews - Divulgação Freepik|

Publicado em 12/04/2022, às 06h20   Maiara Lopes


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No mês de conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA), mães de crianças autistas seguem relatando dificuldades no que diz respeito à inclusão e diagnóstico precoce das crianças. A data é lembrada com vários desafios a serem superados, que vão desde o diagnóstico complicado até mesmo a garantia dos direitos fundamentais das pessoas com o transtorno.

O Ministério da Saúde define o transtorno como um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

A sexóloga Monique Teixeira, mãe do pequeno Nicolas, 2 anos e 3 meses, que é autista, relata que a principal dificuldade, de um modo geral, se dá pela falta de informações e treinamento para lidar com as crianças. “As escolas que estão abertas para receber são poucas. Na atual escola dele, já enfrentamos dificuldade desde a matrícula, pois não queriam aceitar quando souberam do transtorno”, relata.

Nicolas foi diagnosticada com o TEA aos dois anos, já que, segundo Monique, ele regrediu na aprendizagem, no desenvolvimento da fala, além de apresentar comportamentos específicos, como enfileirar os brinquedos e fixar o olhar nos objetos. “A partir disso, levei ele em um neurologista e comecei a investigar”.

TEA

Atualmente, o garotinho tem acompanhamento em clínicas especializadas. Mas, ainda assim, as dificuldades persistem. “A terapia que o plano oferece é muito pouco tempo, são apenas 30 minutos por sessão com um psicólogo e um fonoaudiólogo, uma vez por semana, sendo que a média de tratamento para o autismo é de 10 horas semanais”, desabafa a mãe.

O TEA afeta o comportamento do indivíduo, e os primeiros sinais podem ser notados em bebês de poucos meses. No geral, uma criança do espectro autista apresenta os seguintes sintomas:

  • Dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, expressão facial, gestos, expressar as próprias emoções e fazer amigos;
  • Dificuldade na comunicação, optando pelo uso repetitivo da linguagem e bloqueios para começar e manter um diálogo;
  • Alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas, dificuldade de imaginação e sensibilidade sensorial.

O pequeno Carlos Miguel, 4 anos, teve a indicação ainda mais cedo, com um ano e três meses. A mãe dele, a contadora Marluce Lima, lembra que a pior parte do processo é a aceitação após receber o diagnóstico concreto. A confirmação é a pior parte, você vive uma fase de luto, tenta entender porque aquilo aconteceu, aí vem a angústia, o medo, a insegurança. É um misto de sentimentos”.

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Marluce também aponta que os principais problemas estão relacionados à falta de informação, o que acaba gerando muito preconceito. “Muitos profissionais, até mesmo educadores, não sabem lidar com os comportamentos das crianças autistas, não passaram por capacitações. Diante disso, por conta própria, comecei a fazer cursos e a ler muito sobre o assunto”, relembra.

Cada indivíduo dentro do espectro vai desenvolver o seu conjunto de sintomas variados e características bastante particulares. Tudo isso vai influenciar como cada pessoa se relaciona, se expressa e se comporta.

Hoje, a mãe se sente orgulhosa em afirmar que consegue compreender que cada indivíduo seu processo e seu tempo. “Para um autismo cada conquista é comemorada, pois o que é simples para os outros para eles é bem mais complexo. A gente se emociona, sorri juntos, chora. Nem todos os dias ele consegue fazer as atividades e os estímulos, mas não desistimos e continuamos com pequenos esforços até ele conseguir”.

Especialistas explicam que as causas do TEA não são totalmente conhecidas, e a pesquisa científica sempre concentrou esforços no estudo da predisposição genética, analisando mutações espontâneas que podem ocorrer no desenvolvimento do feto. No entanto, já há evidências de que as causas hereditárias explicariam apenas metade do risco de desenvolver TEA. Fatores ambientais que impactam o feto, como estresse, infecções, exposição a substâncias tóxicas, complicações durante a gravidez e desequilíbrios metabólicos teriam o mesmo peso na possibilidade de aparecimento do distúrbio.

Por outro lado, o diagnóstico de TEA pode ser acompanhado de habilidades impressionantes, como facilidade para aprender visualmente, muita atenção aos detalhes e à exatidão; capacidade de memória acima da média e grande concentração em uma área de interesse específica durante um longo período de tempo.

Infelizmente, embora o transtorno seja um problema de saúde pública, ainda não existem políticas públicas que olhem com atenção para esta parcela da sociedade, além de profissionais suficientes para atender toda a demanda.

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