Saúde

Transtornos psicológicos: Entenda os perigos do autodiagnóstico com vídeos de internet

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Redes sociais como TikTok e Twitter abrem espaço para que adolescentes e jovens pratiquem o autodiagnóstico de psicopatologias  |   Bnews - Divulgação Freepik

Publicado em 09/05/2023, às 05h40 - Atualizado às 07h00   Cadastrado por Victória Valentina


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O TikTok virou um grande diário aberto para pessoas que compartilham suas lutas com a saúde mental. No Twitter, adolescentes em seus fã-clubes falam sobre seus problemas com família, escola ou relacionamentos. Muitas vezes, na inocência, esses jovens associam seus sentimentos a sintomas de psicopatologias. Qualquer desatenção vira TDAH. Gosta de manter a casa em ordem? Já pensam em transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Mudou de humor muito rápido? Ah, é bipolar, com certeza.

Mas, aí está o perigo de fazer isso numa rede social. Quem deixa visualização e like, ou até mesmo quem publica este tipo de conteúdo está sujeito a fazer o autodiagnóstico, prática cada vez mais comum e que pode ser perigosa.

A psicóloga clínica e terapeuta cognitivo-comportamental, Natália Barbosa Medeiros, sabe muito bem como lidar com esse tipo de paciente. Ela, que está nas principais redes sociais, costuma atender adolescentes a partir de 12 anos. Ao BNews, a profissional conta que muitos já chegam afirmando um diagnóstico e até sugerindo medicação. "Quando eu vou perguntar desde quando descobriu o que tinha, eles relatam que é porque ou alguém falou que as características batem ou viu na internet de alguma forma", relata. 

Para a psicóloga, o principal risco dessa prática é a falta de informação e a exigência de rapidez para a resolução do problema. "Muitas pessoas se medicam logo de cara, sendo que, se ela realmente tiver um diagnóstico, o ideal é realizar a psicoterapia, pois muitas vezes só este processo faz com que haja a remissão da grande parte dos sintomas que estão atrapalhando o sujeito", explicou.

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes.

Natália explica que, na sua linha de atendimento de terapia cognitivo-comportamental, busca entender melhor a queixa, e investigar o que levou a esse autodiagnóstico e até que ponto ele deve ser considerado.

"Quando vejo que realmente não tem [o transtorno], eu faço o trabalho de psicoeducação, que consiste em explicar que existe sim o fato de que todos nós, em algum momento, possuímos características de diversos tipos de transtornos. Se abrimos o Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM) iremos encontrar características como desantação, prejuízo no sono, etc, coisas que em algum momento nós vamos possuir", frisa.

Informação e banalização

A divulgação desse tipo de conteúdo, não só no TikTok mas também em outras redes sociais como Twitter - que abriga muitos adolescentes e jovens adultos -, acaba contribuindo para uma espécie de banalização da real dificuldade de diagnosticar alguém corretamente com psicopatologias.

Uma pesquisa divulgada em 2020 pela consultoria Kronberg e pela Decode, empresa de análise de dados, registrou um aumento nas pesquisas relacionadas a transtornos mentais. A busca por "Teste de ansiedade quiz" cresceu 750% e por "Você tem depressão quiz" alcançou 200%.

"Eu acho que a internet é um impulsionador de informação muito potente, mas quando falamos sobre determinadas condições psicológicas, precisamos ter muito cuidado e falar de forma em que a pessoa possa de fato se identificar com alguns sintomas, mas isso não significa que ela tem algum transtorno", explica Natália Barbosa Medeiros.

Enquanto profissional, ela reforça a importância do incentivo para buscar um atendimento correto, uma vez que esse é o único meio de dar o diagnóstico. "O material que o profissional tem é o relato do paciente, dos pais, da escola ou de outros ambientes. É um trabalho que demanda profissionalismo, e ainda assim pode ser que haja equívocos. É muito triste saber que um processo tão complexo muitas vezes é reduzido a uma simples checklist de sintomas que a gente vê em um vídeo de 15 segundos nas redes sociais", conclui a profissional.

Classificação Indicativa: Livre

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