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Agro se engana ao não assinar carta pela democracia, diz ex-presidente da Sociedade Rural

Para Camargo Neto, um dos signatários da carta, todos sairão perdendo se os resultados das eleições não forem respeitados  |  Reprodução/ LInkedin

Publicado em 30/07/2022, às 14h52   Reprodução/ LInkedin   Folhapress/ Patrícia Campos Mello

Lideranças do agronegócio se enganam ao não apoiar os manifestos pela democracia, diz o pecuarista Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-presidente da Associação dos Produtores e Exportadores de Carne Suína.

Para Camargo Neto, um dos signatários do manifesto que já conta com centenas de milhares de assinaturas, todos sairão perdendo se os resultados das eleições não forem respeitados. "É preciso entrar em uma eleição confiante de que a regra é aquela e que o resultado será aceito, mesmo que não for o que interessa a algum dos candidatos. Se houver uma turbulência na democracia, com certeza todo mundo vai ser afetado", diz Camargo Neto, que declarou apoio à candidata do MDB à presidência, Simone Tebet.

Produtor rural há 40 anos, Neto foi secretário de Política Agrícola no governo Fernando Henrique Cardoso.

PERGUNTA - Muitos banqueiros, empresários, industriais e investidores aderiram aos manifestos em defesa da democracia lançados nesta semana. Mas há poucas lideranças do agronegócio entre os signatários. Por quê?
PEDRO DE CAMARGO NETO - É difícil até de explicar, porque se trata de uma carta redigida com o cuidado de ser apartidária e a favor da democracia, algo que antecede o processo eleitoral. É simplesmente aceitar as regras do processo eleitoral, até se perder. Mas o presidente [Jair] Bolsonaro falou que vê a carta como eleitoral, reagiu assim, e o agro apoia muito o Bolsonaro.

P - Lideranças do agro perdem ao não assinar os manifestos?
PCN - Eu acho que eles estão se enganando. É preciso entrar em uma eleição confiante de que a regra é aquela e que o resultado será aceito, mesmo que não for o que interessa a algum dos candidatos. Se houver uma turbulência na democracia, com certeza todo mundo vai ser afetado.

P - Por que o agro apoia o presidente Bolsonaro?
PCN - A pandemia -que foi trágica, causou centenas de milhares de mortes- teve um efeito econômico positivo no setor agrícola, com pleno emprego, preços bons, então o setor viveu um período econômico bom.

Os dois ministros da Agricultura do governo Bolsonaro, Teresa Cristina e Marcos Montes, tiveram um diálogo muito bom do setor. Então a conjuntura econômica favorável e os dois bons ministros da Agricultura criaram um clima favorável ao governo Bolsonaro.

Eu também vivi esse momento econômico positivo, e tive bom relacionamento com os ministros, mas não é por isso que vou apoiar de qualquer maneira.

P - Existe também um histórico de animosidade do agro com os partidos de esquerda.
PCN - Existem duas grandes questões que deixaram sequelas: a questão agrária, invasão de terras, MST, e excessos do ambientalismo. O ambientalismo ou parte dele nos deu uma canseira muito grande, que muitos não mereciam. Eu consegui olhar mais longe. Mas, para muitos, essas sequelas impedem o debate, a conversa.

P - O sr. rompeu com o setor agrícola em 2020, ao sair da Sociedade Rural Brasileira. Por quê?
PCN - O nível de ilegalidade que a gente vive na Amazônia é crítico. O garimpo ilegal está cada dia mais controlado pelo crime organizado, o Brasil começa a perder controle de parte de seu território, há muita grilagem de terras públicas, desmatamento, extração ilegal de madeira.

E a reação do governo é muito ruim, é de omissão mesmo. Vai dar trabalho recompor a credibilidade que vínhamos conquistando. Isso já está nos causando muitos problemas. Hoje, quando você se senta com a União Europeia para discutir qualquer assunto, como uma questão sanitária, ela reage questionando nossa credibilidade. Parte do setor declarou apoio à política ambiental do governo, e eu não concordei com isso, por isso saí.

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