Meio Ambiente

Junho Verde: Porta voz do Greenpeace fala sobre os impactos causados pela crise climática

Chuvas intensas, secas histórias, incêndios florestais e aquecimento global são alguns dos impactos  |  Fernando Frazão/Agência Brasil

Publicado em 09/06/2022, às 06h00   Fernando Frazão/Agência Brasil   Samuel Barbosa

Os danos causados no planeta por conta da intensificação da crise climática estão cada vez mais evidentes. No Brasil é notório os impactos desse desequilíbrio, que vão desde as chuvas intensas, até os registros de secas histórias que causam o desabastecimento de água em milhares de cidades e municípios. Sem falar nos incêndios florestais e o aquecimento global.

Mas o que esperar daqui pra frente, e quais as projeções sobre as mudanças do clima? Em conversa com o BNews, o porta voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil, Rodrigo Jesus, disse que o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) indica que os principais riscos projetados que já trazem a assinatura da crise climática para o Brasil e a América Latina incluem segurança hídrica, saúde devido a epidemias crescentes, degradação dos ecossistemas dos recifes de coral, risco para a segurança alimentar devido a secas frequentes ou extremas, e danos à vida e infraestrutura em consequência de inundações, deslizamentos de terra, elevação do nível do mar, tempestades e erosão costeira.

"Os eventos de chuvas fortes, que resultam em inundações, deslizamentos de terra e secas, devem se intensificar bastante em magnitude e frequência, apresentando riscos à vida e à infraestrutura. Estima-se que o aquecimento de apenas 1,5°C resulte em um aumento de 100 a 200% no número de populações afetadas por inundações na Colômbia, Brasil e Argentina, 300% no Equador e 400% no Peru".

Ele cita dados do último levantamento das normais climatológicas (1961 a 2020) do Instituto Nacional de Meteorologia. "A cidade de Cuiabá (MT) teve uma elevação significativa da temperatura mínima durante o mês de outubro de 2020, ficando 1,6ºC mais quente em comparação com 1931. Em São Paulo, as madrugadas estão cada vez mais quentes. De 1931 até os dias atuais, houve um aumento da temperatura mínima para 2,7ºC nos meses de julho e abril. O documento também apresenta elevação de temperatura média nas cidades de Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba. No que diz respeito à precipitação, chamam a atenção os dados da cidade de Barcelos, no norte do Amazonas, com aumento significativo no volume de chuvas nos meses de fevereiro a maio quando comparados os períodos de 1931 a 1960 com 1991 a 2020. A precipitação aumentou, em média, 244mm. As cidades de Maceió, em Alagoas, e Mirante do Santana, em São Paulo, também tiveram aumento de chuvas”, explica.

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Em artigo publicado recentemente sobre negligência do Brasil com relação à crise climática, o Greenpeace mostrou a importância de que governos estaduais decretem 'estado de emergência climática'. Segundo porta voz da instituição, isso nada mais é do que um ato político, comprometido em efetivar ações de adaptação e recursos para perdas e danos materiais em casos de impacto nas populações que estão em situação de vulnerabilidade mediante a intensificação dos eventos extremos.

"O que temos hoje enquanto ação do poder público mediante as enchentes, alagamentos, secas, vendavais e etc, é uma ação de resposta imediata, que sim, possui sua importância, mas não garante e não resolve o problema da vulnerabilidade social. É necessário implementar planejamentos e garantir orçamento para prevenção destas catástrofes em diálogo com as pessoas que são as primeiras impactadas: mulheres, negros, periféricos, indígenas, comunidades tradicionais, pessoas que possuem uma renda per capita menor que dois salários mínimos e etc".

Rodrigo Jesus explica ainda que dentre as recomendações do 'estado de emergência climática' estão a elaboração do Plano Estadual de Adaptação Climática, realização de audiências públicas com a população, orçamento destinados para perdas e danos materiais das famílias impactadas pelos eventos climáticos extremos, mapeamento de áreas de vulnerabilidade para zerar o desmatamento local, e abandonar o uso de combustíveis fósseis e diversificar a matriz elétrica com investimento em energia renováveis.

Sobre a destinação de verbas para ações efetivas de cuidado com o meio ambiente, o porta voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil explica que o poder público precisa priorizar as ações de prevenção no plano anual orçamentário.

"Atualmente não existe uma orientação ordenada e categorizada para um fundo de prevenção de desastres que seja efetivada e que seja insubstituível em relação a outra demanda intersetorial. O esforço político se dá na gestão da crise do risco, quando ele se apresenta. Esse vício da reação pública perante a catástrofe não irá garantir resiliência perante as populações mais afetadas. Enquanto não tivermos uma discussão institucional, sobre os impactos da crise climática e a intensificação dos eventos extremos para nortear o planejamento e estratégia das ações públicas. Iremos assistir mais casos de mortes como Petrópolis, Sul da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e entre outros".

Empresas socialmente responsáveis

Rodrigo Jesus ressalta ainda que as empresas, enquanto um setor que também movimenta a economia do país, precisam entender e mitigar eficientemente os riscos e impactos que suas atividades estão contribuindo no aumento dos gases de efeito estufa e consequentemente no impulsionamento desses episódios de eventos extremos.

"Ser uma empresa com responsabilidade socioambiental é ter um posicionamento e atuação com o objetivo de zerar o desmatamento, diminuir suas taxas de emissão GEE sem a utilização do aporte do crédito de carbono como forma de mitigação apenas, estar envolvida nos projetos sociais da territorialidade na qual faz parte sua sede ou filial, entender os processos de reciclagem e logística reversa, compreender e analisar quais rejeitos estão sendo liberados e qual a responsabilidade perante a poluição dos recursos hídricos, encarar os procedimentos de licenciamento ambiental como não impeditivo para a execução das atividades, e realizar a análise fundiária do seu estabelecimento a partir de ações que não gerem conflitos territoriais com comunidade tradicionais ou indígenas e entre outros".

30 anos de Greenpeace Brasil

O Greenpeace vem atuando há trinta anos no Brasil pela mudança do atual sistema, se posicionando e pressionando corporações, projetos e governos que rifam a natureza em nome da riqueza de uma parcela minoritária de privilegiados. Desde ações contra madeira ilegal, no começo dos anos 2000, passando pelo combate à indústria dos combustíveis fósseis e pela defesa da nossa biodiversidade. Atuando também no combate ao desmatamento - nossa maior contribuição para as emissões que intensificam o aquecimento global-, apoiando a luta dos povos originários, e entendendo que defender seus direitos é defender também o meio ambiente.

 

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