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Quando um jingle forte marca

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O marketing volta com força a contar nas futuras andanças e campanhas  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 06/12/2021, às 06h06   Victor Pinto


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Você pode amar ou odiar o finado ACM, mas é inegável que seu jingle ACM Meu Amor feito sob encomenda pela Propeg em 89 a Gerônimo e Vevé Calazans é uma das músicas de campanha mais emblemáticas. Não sou músico e nem nunca estudei a área, muito menos o marketing político na seara da publicidade com mais consistência, mas me arrisco a tecer comentários de um espectador. A marca voltou com força quando ACM Neto veiculou a canção no lançamento da pré-candidatura na última semana. Foi o gancho de várias notícias Brasil afora.

Eu sou apaixonado por campanha eleitoral. Éden Valadares, presidente do PT, chega a dizer que eu sou “tarado por eleição”. Sou mesmo. Desde guri. E quando se trata de acompanhar as táticas de marketing essa tara cresce ainda mais. Na faculdade de jornalismo, na Ufba, um dos produtos do meu trabalho de conclusão de curso foi justamente um programa de rádio sobre trilhas sonoras. Uma das edições conversei com Gerônimo. Ele mesmo diz: “É uma música emblemática. Está no coração de todo povo da Bahia. O povo conhece mais ela do que É D’oxum”. A versão original foi puxada pela voz de Antônio Carlos Besouro, o mesmo da versão atual.

Depois de muita briga na justiça, quando o compositor entrou contra ACM Neto e a TV Bahia após não pagamento de direitos autorais pela veiculação da música, o assunto foi resolvido. Acordo foi feito e um benfeitor comprou os novos direitos e cedeu para utilização nesta campanha. Ao trazer de volta o ACM Meu Amor com as devidas adaptações, o ex-prefeito de Salvador dá o tom que vai utilizar em 2022: a lembrança do avô e o pertencimento da Bahia.

Outros jingles em todo esse tempo foram marcantes: a exemplo de Waldir Pires em 1986 - “Eu quero ver um tempo novo de crescer, de construir, a Bahia vai mudar trabalhando com Waldir” - ou Hilton 50 na Capital de Resistência de Ednei Santana na voz do reggae de Edson Gomes. Também vale o registro do forró da campanha de Wagner de 2006 do “Agora eu sei que dá, eu sei que pode ser”.

Waltinho Queiroz com o Deixe o Coração Mandar - com Armandinho, Dodô & Osmar - da gestão Mário Kertész a frente da prefeitura de Salvador fez um jingle que transformou uma música publicitária em uma música popular carnavalesca e de uma sensibilidade de poucos. Nizan Guanaes também conseguiu a proeza com We Are Carnaval. E vale lembrar que a campanha de 2012 de MK bebeu nessa fonte: teve, na minha opinião, a melhor música de Peri na voz marcante de Ninha com traços da canção de Queiroz e a melhor estética.

A nível nacional, desde a redemocratização, nas eleições presidenciais, as músicas lulistas foram bem mais marcantes. A fantástica Lula Lá de Hilton Acioli é atemporal e ecoada até hoje por petistas. Uma música de melodia simples e de entendimento rápido da letra. E aquilo que o jingle deve ser: o refrão chiclete que você sai cantarolando sem nem perceber. ACM Meu Amor passa por esse mesmo processo. Duas músicas fortes retornam em um processo eleitoral acirrado.

Por mais que Bolsonaro tenha nos provado em 2018 que uma campanha não precisaria, em tese, de tanto aparato como esse da publicidade tradicional, João Santana nos dizia, no Roda Viva de 2020, que o jogo agora é de quem sabe jogar. As eleições municipais do ano passado nos provaram um pouco disso. O marketing volta com força a contar nas futuras andanças e campanhas.

Victor Pinto é editor do BNews e âncora do programa BNews Agora na rádio Piatã FM. É jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É colunista do jornal Tribuna da Bahia, da rádio Câmara e apresentador na rádio Excelsior da Bahia. 

Twitter: @victordojornal

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